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A insanidade do possível*



Entre diversos momentos ditos “passados em branco”, o esquecimento é futuro. Cada instante traz uma sensação em si, inerente ao próprio momento. As circunstâncias são únicas na sua solidão. Imensidão de vácuos que se interconectam em alguma linguagem, ou talvez, uma des-linguagem que se fecha em seu próprio vazio esperando tradução. Momentos de larga espera permeados de esperança vagam os pensamentos ditos insanos. Cada sorriso de loucura é uma lacuna de possibilidades aguardando o momento de viabilizá-las, traduzir-se em direção ao outro. Expressividades que se abrem na sucessão dos dias, sabendo-se momentâneas, conhecendo-se fugazes no rio sempre renovado das circunstâncias.

Retroceder às passagens perdidas no vazio do esquecimento é um deslocar-se decrescente pautado sempre no momento atual. Uma ponte de significados e re-significações que se atualizam à medida que caminhamos para trás. Possibilidade de revisitar-se em papéis antes vividos, atualizando-se em uma re-leitura de novos significados em circunstâncias ditas similares.

Atualizar-se é um retroceder ao futuro onde se descobrem caminhos e possibilidades, que embora sempre presentes, se apagaram na tentativa de ser e se esqueceram. O olvido pode ser o que resta de uma possibilidade trilhada nas incertezas do viver. E o insano é a página em branco. É o vice-conceito da expressividade barrada pelas razões cotidianas das certezas absolutas. O interior se agarra no vazio de si na larga espera pelo devaneio exterior.

Mas há uma asa delirante em cada argumento da razão que também aguarda pelo momento de esquecer-se ... pelo momento de perder-se sem traduções na corrente interna das incertezas, das dúvidas, das filosofias e da loucura de ser. Fazendo assim, sempre essa ponte entre o possível e o impossível, transcendendo-se nas possibilidades do impossível.

* Fernanda Moura
Poetiza, Filósofa Clínica
México

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