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Adeus Saramago

Rosângela Rossi
Juiz de Fora/MG


Que parta da mesma forma que viveu: Autenticamente.
Que deixe em cada um de nós o desejo de escrever sem ponto, nos convidando a respirar do nosso jeito.
“O homem é um homem como todos os homens, sonha” nos diz
Saramago simplesmente na sua forma complexa e profunda de comunicar as angústias do humano.

A cegueira falada nos seus ensaios nos faz aprender a ver o que tanto tentamos fugir.
Chegou sua hora do seu fim.
Seu ceticismo convida a viver a realidade como ela é. Amou e se encantou, quando muitos ao entrar nos sessenta param de apaixonar. Escreveu seus livros depois dos cinquenta denunciando e resistindo corajosamente.

Usou as palavras certas e incertas e fez delas um dizer rasgante.

Sua narrativa por vezes de humor satírico e cheias de fantasias nos encanta e assusta no sempre.
Colecionador de palavras teceu filosofias do cotidiano:
“Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo”.
“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais”.
“Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras”.
.“É preciso variar, se não tivermos cuidado a vida torna-se rapidamente previsível, monótona, uma seca”.
“Ser-se homem não deveria significar nunca impedimento a proceder como cavalheiro”

Como poeta ,sintetizou a existência, como por exemplo no seu poema:

Espaço Curvo e Finito
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças
E ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe,
Um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

Do Evangelho segundo Jesus Cristo, Homem duplicado, Jangada de Pedra, Todos os nomes... a muitos outros livros, vamos dançando ou navegando em suas narrativas que tocam nossa alma e nos faz pensar e duvidar.

Será que hoje ele morreu ou se eternizou no nosso coração? Pouco importa, pois ele é e sempre será Saramago, mago das palavras e da humanidade. Adeus! Boa viagem!

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