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Comentário sobre a poesia: Farpas (Incompletudes)

Andréa Kubota
Filósofa Clínica
São Paulo/SP


Cada ser humano é único, singular. Essa frase expressa um dos pressupostos básicos do qual a filosofia clínica se utiliza para realizar o seu trabalho. Não existem duas pessoas que sejam idênticas em seu modo ser, sentir, pensar, enfim sua estrutura.

O cheiro do café, o gosto do chocolate, a sensação do mar tocando nossos pés, o olhar de quem amamos, o abraço de um amigo, entre tantas outras situações e sensações tocam o íntimo de cada indivíduo de formas diferentes, belas e surpreendentes. O que machuca o meu interior, o que arranha os meus sentimentos, pode ter sabor de mel para você. As minhas farpas, não são as mesmas que as suas. Mas, o que são essas farpas?

Mesmo a filosofia com todo o seu potencial para criar conceitos, compreender e muitas vezes tentar explicar a natureza, o mundo, as pessoas, suas relações e até mesmo o indizível, o transcendente, parece em alguns momentos, não fornecer palavras suficientes que sejam sinais ou símbolos dignos de expressar a grandiosidade e a complexidade de alguns sentimentos. Diante disso, escapam assim como soluço, como se fossem gritos ou até mesmo um chorinho baixo, exaltações desesperadas da alma: poesia, música e arte em geral.

“A voz das chagas..a cor do medo...a dor de não retroceder no tempo...” Como o mundo me parece, emoções, armadilha conceitual, tópicos que compõem essa poesia, mas que conduzem a uma pergunta: o que conhecemos dessa história? Essas farpas poderiam ser de metal, de madeira, de ferro, mas não são, e mesmo assim, parecem pesar e doer muito mais do que se fossem, pois espetam o íntimo desse ser.

São farpas na alma, na mente que agem e influenciam seu modo de ver o mundo, a suas crenças, o que acha de si mesma. Serão essas farpas armadilhas conceituais que a impede ou a limita de agir e ver o mundo de formas diferentes? Em que tempo se encontram essas farpas? Parece que fazem parte de um passado, que é mais presente que o próprio presente, que corrói por dentro e se transforma em um futuro petrificado, dolorido.

Medos, dor, chagas...doenças do espírito. Não sei se conheço a dona dessas farpas, mas como tenho as minhas, sinto que agora volto no tempo e trago comigo de mãos dadas a filosofia e uma máquina do tempo para te resgatar desse passado-presente e te apontar um novo tempo. O que existe por de trás dessas palavras? Sinais de coisas mais sérias, feridas não cicatrizadas.

Ei Kronos, me escute: Pode acordar agora...foi só um pesadelo.

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