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Eu, tu, Agna

Gustavo Bertoche
Filósofo Clínico
Rio de Janeiro/RJ

Bem sabes, leitora, que Agna é o fulcro de nossa união, numa intimidade inominavelmente secreta. Agna é em ti o que é ser-para-si em mim; o ser-em-si de Agna é sendo em mim.

Ela fala em mim; grita em mim até seus pulmões explodirem. Suas mãos dizem o que é mágico, e buscam o segredo - mas só o meu segredo.

Cara leitora: não há comunicação. É absolutamente impossível comunicar-se com outra mente. A linguagem é um absurdo.

Quando lês minha obra, lês a ti mesma. Não há o G. escrito, aquele homem com quem tens uma intimidade intelectual despudorada por intermédio de Agna. Há apenas tu, e, para ti, pareço tal como sou. Sou tal como me vês e lês. Porque sabes que sou uma invenção tua.

A impossibilidade da comunicação exige de nós muita criatividade, leitora. O escritor precisa fingir que escrfeve o que alguma doce mulher lerá, e esta finge que entende o que lê - e entende. A comunicação - qualquer comunicação - é uma arte: é a única interpretação completa e absoluta.

Escrevo: ninguém sabe no que penso quando escrevo. Lês: nunca saberei em que pensas. O livro é nossos elo. Ele existe para mim e para ti; ingenuamente, iludimo-nos e achamos que estamos a comunicarmo-nos. Comunicação não há, linda leitora. Há apenas uma aleatória e excitante interpretação, que pode induzir a mensagens infinitas.

Sei Agna. Sabes também. Tímida, arrogante, puta, santa, linda, nojenta, inteligente, estúpida - mas com seios perfeitos e nádegas alvas. Sabes que Agna vive tanto em mim quanto em ti - e que Agna é um vulcão.

Erupções de Agna. Ígnea Agna. Noturn`alma que busca a precisão do infinito! Agna, vamos ao nada! Agna gosta do Baco, gosta do caos, do espírito do vinho. Não gosta da ordem clássica, prefere o caos triste da destruição do ser sob mil olhos!

Teus olhos, ó leitora destruidora de eus! Agna desvanece sob a intersubjetividade. Matemos Agna, de quem exigirei, jurando, que te penetre os poros e, assim, perca a identidade! Que ela assuma as tuas mil identidades, porque ela já tem outras mil que eram minhas! Agna quer mesmo sublimar-se em nossa união, ó leitora assassina de nós!

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