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Interseções Poéticas

Interseções entre filosofia e poesia

Sonia Prazeres
Filósofa Clínica
São Paulo/SP


“Subnutrido de beleza, meu cachorro-poema vai farejando poesia em tudo, pois nunca se sabe quanto tesouro andará desperdiçado por aí...
Quanto filhotinho de estrela atirado no lixo!”
Mário Quintana


Como tantas formas de arte, a poesia se apresenta concebendo e entregando expressão, instigando a imaginação e
oferecendo beleza. Tem a singular propriedade de, em se valendo da palavra, tentar traduzir o indizível. Schopenhauer nos diz:
“a poesia traz o conceito e o primeiro objetivo é conduzir do conceito ao intuível, cuja representação deve ser realizada pela
fantasia do ouvinte.”
Alguns apreciadores dela, talvez concordem com ele e esse trecho partido de um filósofo vem em outras palavras partido
de um poeta. Fernando Pessoa de outro modo nos traz: “O poeta é um fingidor; finge tão completamente que chega a fingir que
é dor, a dor que deveras sente. E os que leem o que escreve na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas aquela que
ele não tem.”
A palavra acompanha o homem desde a antiguidade, tentando retratar suas necessidades, vontade e sentimentos. Na arte
a palavra une esse expressar a uma sutileza que permite entrever uma beleza sutil, que parece andar escondida pelos cantos do
cotidiano, permeando nossas vidas.

“...O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.”

Adélia Prado

Parece-nos que a expressão artística antes de ser escolhida por alguém, escolhe determinados seres humanos que sentem-se
por ela atraídos e envolvidos num acordo que a ambos beneficia. Assim, envoltos nesse bem estar, entregam-no a quem os visita, a
quem aprecia e assiste e também a quem, encantado, arrisca trilhar seus caminhos.
Em filosofia clínica procuramos ter sempre em mente que o ser humano se caracteriza pela individualidade, pela forma de ser
que em cada um é absolutamente singular.
Este espaço pretende acolher a poesia como a filosofia clínica acolhe o ser humano. Aqui pousarão diferentes formas de ser,
universos interiores que se modificam constantemente e, assim como somos, trarão beleza pela diversidade.

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