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Inventários

Lúcio Packter
Pensador da Filosofia Clínica


J., 50 anos, em uma quarta-feira à tarde, em meu consultório, fez seu inventário habitual de final de ano.

Entre os que partiram em 2008, Paul Newman (uma geração o lembrará para sempre como Butch Cassidy, de 1969), Bobby Fischer (que em 1972 venceu Spassky em uma das mais improváveis páginas enxadrísticas de todos os tempos), Dorival Caymmi (É doce morrer no mar...), Ruth Cardoso, Arthur Clarke (2001: uma Odisséia no Espaço), Jamelão.

Para quem mais além deles morreu, a J. não interessa. Interessante notar que em 2008 J. perdeu um filho.

Livro, só houve um: A Viagem do Elefante, de José Saramago. O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza, é muito bom, mas J. não comenta.

A cheia em Santa Catarina, quase 80 mil pessoas desabrigadas, fome, saques, medo. Por muito tempo será lembrada.

A eleição de Barack Obama será um marco, assim como Sarah Palin, marcos por motivos que não se encontram, mas que se explicam um diante do outro.

Em sue inventário, 2008 será lembrado pelo mês de setembro, com a quebra do Lehman Brothers, símbolo do arrastão financeiro que se alastraria pelo mundo. Será lembrado por Isabella Nardoni e Eloá Pimentel. Será lembrado pela liberação do uso das células-tronco embrionárias nas pesquisas científicas, mas isso logo será esquecido. A ecologia e a pergunta crítica: o planeta agüenta?

Algumas coisas serão lembradas de vez em quando, como o salto de Maurren Maggi, mais de 7 metros, em Pequim. Mas muitos lembrarão que Pequim agora é Beijin.

Os narcoguerrilheiros das Farc, coisa que muitos parecem não entender o que são, serão lembrados – sobretudo porque andarão por aí.

Bush não será mais lembrado. Desde janeiro de 2001, George W. Bush acompanhou o mundo ladeira abaixo. Sua maior obra foi o evento no World Trade Center, o Afeganistão, o Iraque. Bush foi o criador de Bin Laden.

Cristina Kirchner, Carla Bruni, Madonna, a menininha Maisa Silva, e aquelas moças com as bundas enormes tipo mulher melancia, mulher jaca...

As frases e pensamentos de 2008 refletiram muito do que foi o tumulto e a confusão que se instaurou. O prestigiado Financial Times publicou na metade do ano que o Brasil estava quase às portas de ser uma super potência, uma frase que traz humor, ameaça e promessas, mas misturadas de um jeito que não temos como saber o que e quem.

Perguntas, muitas, perguntas. O que houve exatamente com a Islândia? Quais os resultados iniciais do LHC, o famoso acelerador de partículas? Como está o Tibete de Dalai-Lama após os Jogos de Pequim e a exposição à mídia?

O que houve que não se fala mais na falta de comida para os países ricos? Severino Cavalcanti foi eleito prefeito de João Alfredo, sua cidade natal? O que é Josef Fritzl? Radovan Karadzic, o que é? E as operações policiais no Brasil com os nomes curiosos como João de Barro?

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