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Eu ou minha roupa?

Rosângela Rossi
Psicoterapeuta e Filósofa Clínica
Juiz de Fora/MG

Num mundo em que se previlegia a imagem fica difícil falar do Ser. Mas, vamos lá. Sinto todos os dias na clínica a angústia de muitos quando o assunto é corpo e imagem. A maioria não está satisfeita com sua própria imagem e preocupada com o que os outros vão dizer.

O corpo dessacralizado, desalmado fixa na forma idealizada. A consequência é a frustração e infelicidade. O modelo da medida perfeita, do cabelo chapinha, da roupa da vitrine, da maquiagem da Tv, dentre outras coisas, tomam as mentes distantes de sua própria identidade.

O que importa é seguir os padrões estabelecidos pelo hipercapitalismo que comanda o consumo. As pessoas viram coisas, objetos de troca.

O Ser como se é virou utopia. Ser um Chaplin não tem mais valor. Escolher o que se gosta ficou fora de moda. O homem massa segue os ditames dos que se arvoram donos do saber.
E o corpo abandonado chora do descaso e rejeição daquele que o possui. Adoece facilmente e não sabe mais o que fazer.

Quem chega na festa não é a pessoa, mas sua roupa e imagem de plástico. A noiva fica no último plano, pois todos querem competir com ela. Poucos querem ser presença no poder dizer: - aqui estou eu e não minha roupa.

Ter a naturalidade do filósofo, de um Francisco, de um palhaço ou de si mesmo se tornou livro de biblioteca ou peça de museu. Autenticidade. Que palavra é esta? Simplicidade? Nossa! Salve! Salve!

Romper as couraças, tirar as máscaras, quebrar com as imagens da representação requer espirito livre, coragem para transgredir e denunciar a opressão que a cobrança de perfeição impōe, pode ser uma das opções inteligente.

Sacralizar o corpo é resgatar a anima mundi, reencontrar a razão libertadora e se olhar no espelho com aceitação e gratidão, pois nosso corpo é nossa alma.

Que me desculpe Platão e Descartes. O corpo clama para que se compreenda que ele é a nave espacial que a alma utiliza para viver na existência. Cuidar dele é amá-lo integralmente. E para amá-lo só precisamos abandonar a expectativa de perfeição, a vaidade alienante, a comparação com os outros, o medo da rejeição e a aceitação da própria natureza.

Enfim, que em qualquer lugar eu chegue antes de minha roupa e que meu Ser brilhe com a luminosidade conciente do ser grato simplesmente.

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