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Antropocentrismo

Beto Colombo
Filósofo Clínico
Criciúma/SC


Você já deve ter visto na internet vídeos mostrando igrejas de Meteora, na Grécia, a estação de Ski Aguille Du Midi na França e outros monumentos espalhados pelo planeta. São palácios, templos construídos estrategicamente em locais altos, no topo, no “top of mind”. E o que isso tem a ver com Antropocentrismo?

Antropocentrismo vem do grego Anthropos + Kentron, ou seja “humano” + “centro”. Conceitualmente, pode-se dizer que aqui se considera que a humanidade deve permanecer no centro dos entendimentos dos humanos, ou então, que o universo deve ser avaliado de acordo com sua relação com o homem. Resumindo: O homem no centro das atenções.

Sabe-se que o termo Antropocentrismo vem do renascimento em contraposição ao suposto Teocentrismo da idade média. A transição da cultura medieval à moderna é frequentemente vista como passagem de uma perspectiva filosófica e cultural centrada em Deus a outra centrada no homem, com algumas controvérsias.

Num universo que se expande temos o antropocentrismo, que podemos dizer que se trata de uma doutrina que considera o homem centro do universo. No campo religioso, podemos considerar que todas as religiões simultaneamente são teocêntricas e antropocêntricas. Elas admitem que Deus é o supremo criador do mundo, porém, pregam que nenhuma outra criatura, além do homem, é digna de salvar-se.

Observando a história da humanidade, lembro que o homem iniciou esse processo de destruição da natureza com a bênção das religiões, que adotaram o Antigo Testamento como doutrina (judaísmo, cristianismo, islamismo). Aqui, o antropocentrismo é evidente e justificado no Gênesis, 1° livro da Bíblia, onde diz que “a criação existe para o homem”. Esta expressão deixa evidências de se tratar de uma visão materialista e o homem, a meu ver, erradamente interpretou que tinha o direito de explorar a natureza.

Embora tenha citado anteriormente as três religiões ocidentais, também as de origem oriental como o budismo e o hinduísmo, que de outra forma interpretam que o homem é apenas um ser entre todos os outros, tão imortal como eles. Por quê? Porque, para eles, em todos os seres existe o princípio divino e imortal que vai reencarnando em espécies menos avançadas espiritualmente, mas que no final culmina no homem, pois é o único ser que pode se libertar da cadeia da reencarnação. Voltamos ao antropocentrismo.

Na filosofia kantiana, em relação ao sistema que edifica, na medida em que aí é o homem que ordena e dá sentido à caótica natureza, pois é ele que, tendo em si o espaço, o tempo e as categorias, confere ordem ao mundo exterior. Para Kant, é o homem regulando o cosmo que em si mesmo parece caótico.

A doutrina pregada sobre a ótica do antropocentrismo me parece que nos encurralou numa espécie de exclusivismo genético, na forma de instinto condutor. E este exclusivismo, a meu ver, está se tornando cada vez mais prejudicial em todos os aspectos, seja no campo social, religioso, econômico e, essencialmente, no ambiental. Essa atitude causada pelo instinto exclusivista humano onde que, para alguns, são tidos como normal, para mim nada mais é que um lento e certo suicídio.

No início da humanidade, quando a espécie homo sapiens ainda era em número menos representativo, a própria natureza se encarregava de equilibrar o planeta. Hoje, sinto que nos tornamos como vorazes gafanhotos em busca de “alimentos” do nosso mundo consumista, como automóveis, avião, trem, navio, petróleo...

O planeta sobreviveu tranquilamente sem o ser humano por bilhões de anos. Aqui viviam seres da água, da terra e do ar dentro de uma cadeia alimentar equilibrada. Com o advento do homem, o desequilíbrio se iniciou e está colocando em risco até a permanência de vida em nosso planeta. Conclusão: a terra e os outros seres sobrevivem sem o ser humano, mas o ser humano sobrevive sem os outros seres?

Dentro desta perspectiva antropocêntrica, o que estamos fazendo com a natureza é extremamente prejudicial, não só aos seres humanos, mas também à flora e fauna que habitam o planeta. Tornamo-nos seres predatórios, nossas atitudes tidas como corretas, legítimas, como na matança de animais para retirada de pele para enfeite humano, da caça pelo esporte, da retirada da madeira nativa para móveis, do carvão para energia elétrica, petróleo e outras tantas formas de destruição do planeta.

Talvez o melhor caminho para preservarmos a vida no planeta não passe pela ação e conselhos dos ecologistas, como economizar água, eletricidade, combustíveis sustentáveis e outras atitudes paliativas e até insignificantes nessa ótica que escrevo. Talvez quando o homem libertar-se desta visão de tudo pode, desde que seja a seu bel prazer, de repente aqui ele consiga se ver no planeta não como dono, e sim como mais uma espécie que precisa e depende do ecossistema para a sobrevivência de toda a vida no planeta.

Afinal de contas, humano vem de húmus: “Da terra viestes, pra terra voltarás”. Isso é assim para mim

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