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Agradecer e agir

Rosângela Rossi
Psicoterapeuta e Filósofa Clínica
Juiz de Fora/MG


Quando olhamos para a realidade do mundo, a realidade da maioria, ficamos perplexos. Assustados com tamanho desamor. Com a imensa pobreza, A desigualdade. A exploração. O preconceito. O desrespeito. Mil transgressões.

A realidade tem seu bem e seu mal. Dialética da vida. Dialética desigual. Pendendo para o mal. Pessimismo? Ou análise racional? Basta-nos ver as pirâmides estatísticas. A verdadeira realidade se apresenta sem disfarce. Está ai para quem não quer fugir e se alienar.

Temos também muito o que agradecer. A beleza e riqueza natural. A inteligência humana. O desenvolvimento tecnológico. A arte e a poesia. O amor e a compaixão. O milagre do agora viver. A amizade se ter.

O problema dos acomodados tem um nome: Zona de Conforto. Conforto que cega e nos torna impotentes. Acomodação passiva. O resto é que se dane. Egoísmo. Desinteresse. Sei lá que nome dar ao desamor. Mais fácil sentar e assistir pela TV. E o mundo que se exploda!

Ser saudosista e romanticamente lembrar do “meu bom tempo” pode consolar por instantes. Tornar-se intelectual ou político sofista poderá dar lucros. Como papagaios podemos tagarelar... Imitar... E achar que tudo poderá mudar. Será? Belas teorias que não saem do papel, dos jornais e dos livros. Conhecimento não vivido, não poderá ser conhecimento perdido?

Encarar a realidade. Agir em prol coletivo. Trabalhar com determinação por um mundo mais sustentável. Compreender o presente como ele é. Enfrentar a existência de frente, poderá parecer uma difícil tarefa. Mas é possível. Possível e necessário.

Agradecer o bem e agir contra o mal. Sair da Zona de Conforto e enfrentar os desafios solidariamente. Sair do romantismo frustrante e encarar a realidade. Tudo com poesia e ternura de quem se faz consciente e pertencente. Respeitando a singularidade na ação e no viver.

Não dá para fingir que ao lado de belos condomínios, crianças comem as sobras do lixo. Que a educação serve ao sistema dominante e elitista se esquecendo da maioria. Que os presídios estão cheios de humanos criados pelo nosso descaso. Que o planeta morre pelo descuido dos inteligentes terráqueos descompromissados com a vida. Não dá para fingir e fugir.

Fácil cruzar os braços diante a miséria, a drogadição, a corrupção, a alienação, a miséria, a destruição, as guerras... Fácil achar que não tem nada com a gente, que é coisa distante de nós. Fácil não se envolver ou ficar sobre os muros. Fácil apenas criticar e imaginar soluções nas mesas de bares.

Agir. Estar junto. Participar. Cooperar. Sair da Zona de Conforto. Solidarizar. Criar reflexão na própria casa sobre as questões emergentes. Trabalhar a si mesmo na conscientização do porque estar na alienação e no ter preguiça de agir no mundo.

Não queremos ser Madre Tereza de Calcutá, nem Gandhi, mas podemos a nossa volta agir. Cada um a seu modo. Nas coisas simples do dia a dia. Não silenciando diante os abusos e injustiças. Sendo criativos e participativos.

Há muito o que agradecer. Mas muito o que agir. Ou saímos da Zona de Conforto ou continuamos fingindo que estamos a viver. Somos livres.

Mas que liberdade é essa que visa só o próprio umbigo. Bom lembrar que tudo que temos tem um operário trabalhando. Tudo traz o suor de muitos.

Essa reflexão pode não ser muito agradável. Preferimos as belas palavras. Palavras sedutoras. Urge se pensar e agir na vida. Ou não seremos Humanos por inteiro.

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