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Cativar

Beto Colombo
Filósofo Clínico
Criciúma/SC


O Príncipe encontrou-se com um bichinho em um distante mundo, bichinho esse que ele nunca havia encontrado antes, uma raposa. A raposa lhe disse:

- Você quer me cativar?

- O que é isso? – Perguntou o menino.

- Cativar é assim. – Disse a raposa: - Eu me assento aqui, você se assenta lá, bem longe. Amanhã a gente se assenta mais perto e assim aos poucos, cada vez mais perto...

O tempo passou, o Principezinho cativou a raposa e chegou a hora de partir.

- Eu vou chorar. – Disse a raposa.

- Não é minha culpa. – Desculpou-se a criança. – Eu lhe disse, eu não queria cativá-lo. Não valeu a pena, você percebe? Agora você vai chorar!

- Valeu a pena sim. – Respondeu a raposa – Quer saber por quê? Sou uma raposa, não como trigo, só como galinha. O trigo não significa absolutamente nada para mim, mas você me cativou. Seu cabelo é louro e agora, na sua ausência, quando o vento fizer balançar o campo de trigo eu ficarei feliz pensando em você.

(Texto retirado do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, jornalista e piloto francês.)

Com esse texto batemos aquele papo gostoso na sexta-feira à tarde na Feira do Livro na Praça Nereu Ramos.

Algumas pessoas não estão satisfeitas com o rumo que levou sua vida, reclamam que ficou monótona, que virou rotina, o livro O Pequeno Príncipe também trata desse assunto, quando a raposa se queixa da sua vida. “Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também e por isso fico aborrecida, mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol”.

Quando o Príncipe disse que não tinha mais tempo para cativar-lhe, a raposa diz:

- Os homens não têm mais tempo para conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas, como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.

E a dica de como cativar está nesse livro escrito em 1943 e observem que na época a televisão e os meios que enclausuram os homens ainda não existiam do jeito de hoje.

- Tu queres ser meu amigo, cativa-me.

- Que é preciso fazer? – Perguntou a criança.

- É preciso ser paciente (paz-ciência). – Respondeu a raposa.

E assim, mesmo ausente em cada balançar dos trigos, o Príncipe se fazia presente para a raposa naquele distante planeta.

- Cada vez que ofereço a outra face, cada vez que amo o próximo, Cristo se faz presente.

- Cada vez que quero mudar o mundo do outro sem mudar a mim mesmo, Gandhi se faz presente.

- Cada vez que fico em paz fazendo o bem, trago de volta Victor Hugo. “O bem que se faz purifica a alma” e de novo ele volta quando vejo uma dedicada professora pacientemente ensinando uma criança, quando ele diz: “Cada criança que se ensina é um homem que se conquista”.

Algumas pessoas estão esquecendo o encantamento do cativar. Algumas pessoas estão se fechando em seus quartos, em seus mundos com suas televisões, seus telefones celulares, internet... e perdendo o sabor do encontro, do bate-papo, da troca de experiência, de informação, do conhecimento e deixam de sentir a magia do cativar.

E você, o que tem feito para cativar?

Isso é assim para mim.

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