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Eu amo spam

Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre/RS

Minha relação com a internet é íntima, constante, fiel. Não passo muito tempo sem trocar e-mails, pesquisar sites e conversar através do MSN. Existem informações, inclusive, que prefiro acessar na tela de um computador, bem distante da papelada que se acumula pelas prateleiras e da tinta que mancha os meus dedos e as portas de casa.

Posso dizer com garantia que sou quase viciada na rede mundial de computadores, não fosse um pequeno detalhe: quem é viciado deixa de curtir os amigos, dançar, praticar esporte, namorar e outras atividades, pra ficar navegando por horas e horas. E eu, definitivamente, não dispenso um belo passeio, um chimarrão no parque, ou uma sessão de cinema, pra ficar em frente à tela do Sam (é o nome carinhoso do monitor do meu micro).

O mundo eletrônico é repleto de maravilhas. O tráfego de informações e produção de conhecimento que ele proporciona eram inimagináveis até alguns anos atrás. Que outro suporte é capaz de conectar pessoas de todo o mundo e fornecer subsídio para pesquisas ou leituras descompromissadas com tamanha facilidade e rapidez?

Mas confesso: de todas as maravilhas proporcionadas pelas infovias da internet, tem uma que leva o meu apreço especial: o spam. Sou apaixonada por spam. Leio todas as mensagens eletrônicas não solicitadas e não autorizadas que recebo (esta é a definição oficial).

Hoje mesmo chegaram alguns e-mails interessantes. Um deles enaltecia as qualidades de uma empresa de reforma e pintura de casas. Outro informava sobre um manual sobre técnicas de produção de trufas. Recebi também as propagandas de uma pousada, de um fabricante de comida pra cachorro, e de uma ervateira, se não me engano. Aliás, o fabricante de um aparelho pra aumentar o pênis deve ter quebrado, porque não recebi mais seus e-mails.

A bem da verdade, nenhum desses produtos e serviços me interessa no momento. E mesmo que me interessasse, dificilmente eu compraria (sou, nesse aspecto, uma legítima gaúcha, já que as pesquisas indicam que o Rio Grande do Sul ainda apresenta resistência a compras online).

Mas não vejo mal algum em receber essas informações. Não perdi mais de alguns segundos entre o recebimento, rápida leitura e o envio da mensagem pra lixeira. E, analisando pelo prisma empresarial, pude ainda fazer algumas observações: as empresas estão inovando, cresce o reconhecimento da internet como ferramenta de marketing, e aumenta o mercado para profissionais ligados à comunicação e desenvolvimento de estratégias online.

Se algum empresário da indústria, comércio, serviços ou ainda terceiro setor estiver lendo esta crônica e quiser apresentar-me sua empresa, produtos e diferenciais, pode ter certeza que lerei sua mensagem. Mas somente amanhã, porque agora vou assistir A Diarista, um programa que teria tudo pra ser não desejado e não autorizado em minha vida, já que não tenho muita paciência pra televisão. Mas que acabou se tornando uma surpresa agradável, regado a muitas gargalhadas.

Isso me faz pensar que, tal qual nossa caixa de e-mails, a vida também é feita de muitos acontecimentos que não desejamos e que, se pudéssemos, jamais autorizaríamos. E de outros que inicialmente não desejamos, mas que num momento posterior se tornam únicos, como o tal programa da televisão. Que atire a primeira pedra quem nunca passou a amar algo que inicialmente lhe parecia indiferente, indesejável, não autorizável. Com um agravante, ou paliativo: fora do universo virtual, nem sempre é possível bloquear o remetente.

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