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Aventuras do olhar*

“O devaneio nos dá o mundo de uma alma, que uma imagem poética testemunha uma alma que descobre o seu mundo, o mundo onde ela gostaria de viver, onde ela é digna de viver.”
Gaston Bachelard


As interseções entre um vislumbre e outro podem mudar a vida. Alterar desfechos tidos como inevitáveis, prenunciar novidades, dialogar com a utopia em frente aos olhos.

Inventar aquilo que se procurava apenas no mundo estabelecido. Compartilhar perspectivas, sensações, devaneios. Acreditar ser possível sonhar e realizar.

Existem circunstâncias a iludir o real com sua atração irresistível. Vontades excessivas e ao alcance da mão. Atenção a se re-voltar para longe do extraordinário agora, em moldes refugiados na própria sombra.

Ao notar que isso também pode ficar em uma zona intermediária, entre ver e não ver, um esboço persegue apontamentos sobre o refém da sua desconsideração. Ao ser possível acessar outras verdades pelo foco das ilusões (de ótica), outras realidades se abrem a investigação aventureira de olhar inconcluso.

Essa menção aprecia contemplar algo pela última vez, sem ter tido a primeira. Contradição de um nada a superar seu não-ser para se oferecer às vistas recém chegadas.

Um olhar para superar a neblina e se encantar com a beleza dentro dela mesma. Perambulando nas entrelinhas da racionalidade aprecia a alma sensível para compartilhar sua estética subversiva.

Por esses roteiros insaciáveis da visão, uma interrogação reflexiva atualiza conversações entre o mundo subjetivo e objetivo. A natureza do filosofar aprecia a cumplicidade da lógica dos excessos, assim poderá vivenciar a insubstituível singularidade, quiçá desvestir a musa de uma estrutura, ao mudar de foco.

Pode se tratar de uma representação em vias de ter sentido. Versão original na curiosidade das novas imagens, um pouco antes de ser educada pela supremacia da razão conhecida. Uma chama alimentada pelas incompletudes persegue focos de incêndio exilados em si mesmos. Preparam vírgulas em disfarces de ponto final.

Através das impermanências que viajam com as ventanias, se pode atualizar um olhar para se perder - de vista -. Como amanhãs sinalizados pela agonia do instante morrendo.

O visar descritivo pode ter um caráter de anúncio aos novos roteiros, onde cada um impulsiona a vasta possibilidade de conflitos e resoluções. Interseção fugaz onde atração e recusa se desencontram.

Ao contemplar os rascunhos da visão desfocada, é possível antecipar eventos e oferecer outras lógicas ao mirante das idéias complexas. Assim as incontáveis verdades podem ser levadas em consideração sob novos pontos de vista.

Podem ter um caráter de observação, anúncio, distorção, reflexão, sedução, seja como: sonhadores, copistas, definidores ou transgressores. Existem os convictos de ter mostrado algo original, quando se sabe, por outros ângulos, tratar-se de lentes vencidas.

Também tem àqueles que vêem sempre as mesmas coisas. Quem desvirtua as imagens em prol dos sonhos ou acontece na preparação de um faz de conta.

Na pluralidade de um piscar de olhos, novos flagrantes se exibem em tempo próprio, a oferecer presentes inesquecíveis. Nem sempre é viável enxergar o que se passa ao redor, no entanto, os fatos inesperados apreciam surgir de um jeito surpreendente ao próprio autor.

Ao fitar ingênuo do espanto inicial os sentidos podem ser descobertos. Talvez a percepção das poéticas esteja na interseção entre a fonte e seu foco. Numa extensão indefinida e sem palavras, as tratativas procuram descrever uma irrealidade em processo de tornar-se.

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico

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