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Quem é sua família?

Beto Colombo
Filósofo Clínico
Criciúma/SC


Você provavelmente já viu atrás dos automóveis aqueles adesivos representando a família do condutor ou da condutora do veículo, esses adesivos tornaram-se um modismo nas grandes cidades, ou como se diz por aqui, tornaram-se uma febre.

Como fica uma situação em que o homem separa-se da primeira mulher, onde teve uma filha, depois ele se casa novamente com outra mulher e atualmente tem dois filhos nesse segundo casamento? E para complicar um pouco mais, a esposa atual resolve representar sua família com bonequinhos do pai de um lado, a mãe do outro lado e no meio, como que bem protegidos, os dois filhos, excluindo a filha do primeiro casamento? Sobre a ótica da nova esposa está correto, pois para ela a sua família é aquela. E como fica a cabeça da adolescente ao visitar o pai e, no passeio do fim de semana, descobre que foi excluída da nova “família” do pai, representada pelas figuras no adesivo da traseira do seu automóvel da família?

Outro caso. Domingo, num passeio, encontrei um automóvel com um adesivo ainda mais estranho. A família, nesse caso, é representada no lado esquerdo por um homem, uma mulher e uma filha e no lado direito, bem longe, dois meninos. Perguntei ao pai, que dirigia o automóvel, qual o significado e ele me respondeu que se tratava de filhos de outros dois casamentos.

Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem falar contigo”. Jesus perguntou aquele que tinha falado: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” E estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos”.

Quem é sua mãe e quem são seus irmãos? Algumas pessoas têm muito mais relação fraternal com um colega de escola, do trabalho, do que com o irmão de sangue. Não há certo ou errado nisso. Essa convenção que família é somente os parentes de sangue me parece que está se transformando e é preciso prestar atenção nisso, sem oferecer julgamento.

Algumas pessoas são cruéis com elas mesmas tentando forçar uma relação com irmãos de sangue, onde não há interação alguma, fazem isso somente por ser filho do mesmo pai e da mesma mãe.

Algumas pessoas com valores cristãos se condenam por não amar seu pai, sua mãe, seus irmãos, suas irmãs. E como fica o quarto mandamento de Deus? Você já se deu conta que esse mandamento fala de honrar e não de amar, de ter interação? Será que é preciso forçar uma convivência?

Já atendi mãe destruída, desesperada, triste por ter brigado com o filho que foi embora de casa e o estopim causador foi a proibição da partida. “Ele é meu filho e filho não pode abandonar a mãe”, disse-me ela.

Talvez uma das chaves desta relação que causa tanto trauma esteja aqui, no pronome possessivo, no “meu”, no “nosso”. Dizer que os filhos são nossos é o mesmo que o mar afirmar que o rio é de sua propriedade.

Eu sei que como pai, queremos tanto o bem deles, amamos tanto, que muitas vezes atrapalhamos esse fluxo natural do “rio”. Em alguns, esse processo possessivo sufoca-os a ponto de preferirem amigos cibernéticos a amizades com o pai, mãe, irmãos do mesmo teto ou até com colegas próximos.

Kahlil Gibran, filósofo libanês, diz que nossos filhos não são nossos, são sim filhos e filhas dos desejos que a vida tem de si mesma.

Quem é seu pai, quem é sua mãe, quem são seus irmãos, suas irmãs? Quem foram as pessoas que fizeram diferença na estruturação de seu pensamento? E será que essas pessoas que fizeram diferença podem ser chamadas de mãe, de pai, de irmão, de irmã? Quem foram e quem são essas pessoas que fazem diferença na sua vida? Quem é seu pai, quem é sua mãe, quem são suas irmãs, quem são seus irmãos?

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