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A vida não tem Control Z

Sandra Veroneze
Filósofa Clínica
Porto Alegre/RS


Nos programas de computador existe um comando chamado ‘desfazer’. Ele pode ser acionado pressionando-se a tecla Control, seguida da letra Z. Trata-se de um importante recurso para quando cometemos pequenos erros, digitando textos ou preenchendo planilhas, por exemplo. É como pisar numa poça de lama e tirar o pé, sem nos sujarmos.

A vida não tem Control Z. Adequado, ou não, o que está feito está feito. Por mais que às vezes possamos desejar, é impossível voltar no tempo para mudarmos a rota. No máximo nos é dado tentar um conserto, mas nem sempre a emenda resolve (às vezes até piora!).

Por ignorância, descuido, ou impulso, quantas vezes agimos de forma equivocada, sem pensar, sem medir pós e contras, e logo em seguida nos arrependemos? Pequenos deslizes resultam em brigas, preocupações, desentendimentos que poderiam ser evitados, caso fosse viável um Control Z na realidade!

Claro que um mundo sem dor e sofrimento é um sonho, um objetivo louvável. Mas os fins nem sempre justificam os meios. E os meios, utilizando-se o botão Control Z na vida, seria o método da tentativa e erro. Ninguém mais precisaria medir suas palavras e ações, nem ser responsável por seus atos, já que qualquer deslize poderia ser desfeito. Deixaríamos de fazer dos nossos dias uma experiência única de aprendizado, trabalhando mental e espiritualmente para a auto-superação.

Os antigos já diziam que a dor é um importante veículo de consciência. Ou seja, através dela crescemos, nos tornamos mais fortes, mais criativos! Por outro lado, os antigos também diziam que se formos atentos ao mundo que nos cerca, e aos nossos desejos mais íntimos, podemos crescer sem necessidade de dor. Algo como enxergar a poça de lama e desviar dela antes do passo fatídico.

Agir com consciência é melhor do que dispor da opção Control Z, muito embora, metaforicamente, a realidade disponha de um outro recurso do mundo dos computadores: a opção reset. Quando o computador tranca, a gente ‘reseta’ a máquina, ou seja, desliga e começa tudo de novo. Mesmo que o passado nos condene, podemos começar vida nova a qualquer momento.

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