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O relativismo subjetivo é universal em Filosofia Clínica?

Pedro de Freitas Junior
Filósofo Clínico
Florianópolis/SC


Quando falamos em relativismo a primeira impressão que podemos ter é pejorativa. Parece que quando “tudo” é relativo as certezas se perdem. Como achar algo que se perde? A Filosofia Clínica responde em uma palavra: singularidade. O se perder no relativismo subjetivo é um dos grandes achados para a Filosofia Clínica. Reconhecer que o intersubjetivo se compõe de subjetivos que não podem ser enquadrados em nenhum universal objetivador da subjetividade.

Objetivar e universalizar a subjetividade se mostra uma tarefa impossível em Filosofia Clínica. Cada subjetividade ou traduzindo para termos filosóficos clínicos cada Estrutura de Pensamento (EP) não pode ser classificada em uma universalidade que tenta deixar o desigual igual, o paralelo em serial.

O relativismo geral passa a ser uma singularidade que se mostra em universo. O universo da Estrutura de Pensamento que é única, singular, mas plural. Este universo, único e plural passa a conversar, se relacionar, se inter-relacionar consigo mesmo em um emaranhado de interseções, muitas vezes não identificáveis ou às vezes falsamente identificáveis ou precariamente identificáveis.

Cada um desses universos singulares e plurais que são as Estruturas de Pensamento (EP) constituídas em malhas intelectivas são fundamentalmente diferentes entre si. Falando em malha intelectiva, ou em rede relacional, pode se constituir em um infinito de conexões, conexões seriais (seqüenciais), paralelas (que acontecem ao mesmo tempo), virtualmente seriais e paralelas simultaneamente.

Cada Estrutura de Pensamento, cada singular pode assim ser um infinito de pontos de interseção consigo mesmo, em seu interior, no infinito que pode ser a sua Estrutura de Pensamento e com os demais objetos e subjetos do mundo.

Lembrando de Schopenhauer, se o mundo é a minha representação, e essa representação é a minha representação (e não a do outro), e eu posso mudar a minha representação de acordo com as circunstâncias em que estou vivendo posso concluir que a rede relacional, que funciona a partir de minhas representações pode ser infinita em minha própria Estrutura de Pensamento e assim o infinito que sou eu pode estabelecer infinitas conexões com o exterior, sejam objetos (in)animados ou sujeitos.

Se a Estrutura de Pensamento (EP) é como dissemos acima um Universo, singular (pessoal e única) e plural (se faz em malha de relações) ao mesmo tempo, que se relaciona consigo mesmo em forma de malha intelectiva, em infinitas conexões entre os tópicos da EP (conhecidos e desconhecidos) e cada tópico se relacionando e interagindo consigo mesmo e com outros tópicos da própria EP estabelece desta interação interna à EP interseções com o ambiente, com as coisas do mundo, com as coisas do pensamento e com as outras pessoas que possuem por sua vez a sua própria Estrutura de Pensamento (singular e plural – seu próprio universo plural) com as suas próprias conexões.

Chegamos assim a um infinito de relações e a um universo intersubjetivo que é por sua vez plural e infinito porém composto de singulares. E agora, como colocaremos ordem neste emaranhado de relações, e inter-relações (em uma palavra: interseções) no interior dos universos (que são as Eps) e entre as diferentes EPs?

O que equilibra essas interseções? Será que elas precisam ser equilibradas? Será que o desequilíbrio não é a dança que faz tudo isso funcionar (?) ou simplesmente girar, ou caminhar. Aqui encontramos outro universal dentro desse relativismo geral. Cada universo (EP) encontra (ou não) as suas próprias maneiras de lidar (ou não) com essas relações (interseções).

Algumas EPs deixam-se levar pela dança do desequilíbrio, pela dança das interseções, outras EPs ainda fecham-se a esse universo de interseções e simplesmente recusam toda tentativa de conexão. São ilhas intelectivas isoladas no mar das malhas externas. Outras EPs ainda agem paralelamente (se relacionando simultaneamente) com diversas outras EPs, objetos e subjetos do mundo a partir de suas próprias mini malhas internas, ou pontos internos. Outras EPs se escondem com a sua(s) malha(s) por detrás de outra EP replicando as malhas dessa outra EP e existindo na sombra dessa.

As variações podem ir ao infinito. Sim, voltamos aqui ao relativismo que falamos no início. Como fugir deste relativismo?

Mas a pergunta que fizemos foi a correta? Ou começamos este texto com a pergunta errada? Será que a pergunta correta deveria ser esta: O absolutismo subjetivo (e porque não, ou objetivo) é universal em Filosofia Clínica? E a resposta a esta questão segue em forma de provocação: Sim. A singularidade de cada Estrutura de Pensamento (EP) é o absoluto e o universal para a Filosofia Clínica.

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