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VINHO E MOINHOS

Vânia Dantas
Filósofa Clínica
Uberlândia – MG

Talvez a comunicação com as pessoas ‘diferentes’ seja mais possível pela emoção. Talvez nessa troca nos entendamos, tendo a razão recolhida. Mas como dizer isso para quem define a melhor forma da vida ser vivida, ou seja, através da racionalidade?

A própria existência nos ensina a ser, na figura das pessoas e situações encontradas. Assim se percebe que há caminhos para uns e para outros. Com essa emoção me lembro dos delírios que observo no mundo, no caos da Terra e no das imagens mentais. Música, vinho e fantasia.

Os moinhos de vento ruflam no meio do mar escuro. Altos, muito altos, construídos de tijolos antigos, querem tirar sal da água, água do sal. Os moinhos se vão com o redemoinho, sobem com o vento como num clipe de Pink Floyd. Esse mar, que é um copo de vinho, vinho amargo pela dor ou prazer adocicado de enjoar.

Esse corpo de vinho que se liquefaz no chão já não se agüenta de saudade e não sabe mais como existir sozinho; se altera com ondas na superfície e se espanta com a multidão de veleiros coloridos, espantalhos de surpresas e desfeitas. Se há esperança? Anseia há muito a calmaria.

Lembro premonições, como o texto distribuído na sala dos professores:

“Construção diferente
Uma nova cor muda um quadro
Uma nova página reescreve uma história
Um novo dia muda uma vida...
Que neste ano você faça parte da construção de um novo projeto:
Viver intensamente!”

Algumas vezes, essa mensagem pode ser muito certeira. Um momento que se instaura para fazer reconstruir toda uma vida, repensar o passado, mudar o futuro. Muda-se o futuro, se ele nem existe? O tempo é uma utopia? Nossas vidas, enteiadas umas às outras, mostram que o livre arbítrio não existe...

Todos quereriam viver intensamente, dez anos a mil. Mas pode haver grande diferença entre discurso e ação. O futuro seria o mesmo, com você sozinho e lutando contra a vontade de manter seus ideais por conta de convenções e limites. Você acha que o futuro já estava marcado? Então é o presente que está errado, não você... (risos)

Mas se ele é presente, foi um pacotinho brilhante, com laço de fita vermelha que, acho, não soubemos bem desembrulhar e ver o que tinha escondido nos cantinhos... lá estava a poeirinha mágica, purpurina dourada pra dizer que é possível – e que, no fim, é tudo sonho. Mas você não a viu.

Voltar pro sonho. Soltar os braços e sentir um redemoinho pronto pra nos levar, pra guiar nossos planos, realizá-los. Caminhar no leito dos córregos da fazenda em busca das cachoeiras. Nadar a favor da correnteza do rio, ser o rio.

Alcançar um corrimão que nos ajude a transpor a ponte de Monet para outra fase da vida. Passar para outra vida, digna de ser vivida. Sentir muito mais coisas no ar do que o corpo poderia participar, sendo ele um elemento a mais e não o principal, como ocorre com a generalidade.

Encontrei os moinhos na usina eólica instalada no alto do morro do Camelinho, ao lado da rodovia Curvelo-Diamantina. Eram figuras isoladas, brancas e bem delicadas pra se dizer que seriam monstros com quem se precisasse guerrear.

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