Pular para o conteúdo principal
Espelhos

Rosemiro A. Sefstrom
Filósofo Clínico
Criciúma/SC


Vamos comentar acerca de uma das perguntas mais fáceis de serem feitas, mas nem tão fáceis de serem respondidas. Pergunte-se a você mesmo: Quem sou eu? Independente da resposta que você elaborar, você estará trabalhando o princípio de identidade, ou seja, o que identifica e diferencia você de outras pessoas.

Mas para que você possa se identificar e se diferenciar das outras pessoas é necessário um caractere de identidade. Esse caractere pode ser chamado de espelho, ou seja, um conjunto de condições que permite que você se veja e possa se identificar em meio às outras pessoas. E agora, qual seria o espelho no qual você se olha?

Para ilustrar a situação, imagine uma menina com uns quinze anos de idade que usa como espelho os outros. Neste caso, ela será para ela mesma o que os outros disserem dela. Se os outros disserem que ela é feia, burra e pobre, muito provavelmente é assim que ela se verá. Pessoas como esta menina, se tiverem esse princípio muito forte, ficarão reféns da opinião alheia, buscando seguir o que os outros dizem para ser alguém como os outros dizem que ela deve ser.

Nem sempre o espelho que uma pessoa usa para identificar a si própria é o melhor ou é verdadeiro. Algumas vezes a pessoa se mira em um espelho defeituoso e tem uma imagem distorcida de si mesma, como o caso da menina. Essa opinião tanto pode ser ruim a respeito de si própria, como pode ser boa.

O interessante é que algumas pessoas usam espelhos como ferramentas, tendo uma imagem de si mesma de acordo com o que querem ver e não como realmente são. Existem ainda pessoas que usam diversos espelhos ao mesmo tempo para montar a opinião a respeito de si, mirando no mundo, na religião, nos pais, no marido.

Estas pessoas terão como medida um conjunto dos vários conteúdos que refletem aquilo que ela é. Quando estes conteúdos forem unívocos, ou seja, transmitirem a mesma mensagem, todo bem. Mas nem sempre é assim e uma pessoa que se acha muito boa, caridosa, pode ao mesmo tempo se achar má e avarenta. Isso não é bom, mau, certo ou errado, mas será conforme os espelhos que ela escolher para se refletir.

Com base nestas informações pergunto: O que o outro pensa de você? Como dito anteriormente, para algumas pessoas isto tem um peso muito grande, sendo inclusive linha de condução para a vida. Mas, para que a vida seja melhor, é válido lembrar que cada pessoa que você conhece e se relaciona no dia a dia está entrando em contato com apenas uma parte de você.

Assim, se lá no seu trabalho acham você uma pessoa chata, sem sal e muito mal humorada, não há nada de errado nisso. Justamente porque o que eles acham de você lá, se resume aquele local e aquelas pessoas, pois elas entram em contato com você naquele contexto.

Você pode pensar em pessoas que convivem consigo mais tempo por dia, como a esposa, o marido, os filhos, colegas de quarto e assim por diante. Mesmo nestes casos convivem apenas com uma parte de você, não com o todo, pois dependendo das pessoas com as quais você entra em contato, apenas alguns conteúdos são compartilhados.

E você, o que acha de você mesmo? No início deste artigo os espelhos foram colocados como critério de identidade. Quais seriam os espelhos que você usa? O que se pode recomendar é o uso de vários espelhos a fim de se montar uma imagem multifacetada, ou seja, com vários critérios de identidade.

Desta maneira será possível formar um EU que tenha por base conteúdos sólidos e descartar os que não têm conteúdo. Ao usar somente um espelho, a pessoa pode viver como um cavalo que usa antolhos, instrumento que limita a visão do animal. A liberdade de se mirar em diversos espelhos pode lhe mostrar alguém que ainda não conhece: você.



Comentários

Visitas