Pular para o conteúdo principal
Ilusões

Luana Tavares
Filósofa Clínica
Niterói/RJ


Ou vivemos de ilusões ou elas vivem através de nós! Às vezes é como se elas se precipitassem sobre nossas essências e plasmassem em nós poderosas impressões.

E não há como fugir; as ilusões te perseguem por entre as frestas das emoções ou mesmo pelos átimos fugazes dos pensamentos, detectando cada anseio e fortalecendo aquilo que nem mesmo percebemos.

Porque é inegável que a vida se reveste, às vezes, de nuvens densas, pelas quais não conseguimos penetrar e nem sempre compreendemos o sentido das reais intenções ocultas.

Só que as ilusões sabem, elas nos compreendem melhor do que nós mesmos... então se manifestam, se insinuam e se traduzem, promovendo fantásticas alterações na nossa construção. Mas elas também se esvaem e se desintegram, como se jamais houvessem estado ali. Por isso são ilusões...

E assim, permanece obscuro o sentido das ilusões. Ele se esconde por entre as sombras da lógica singular que transitam pelas infinitas subjetividades. E para que entender as ilusões? Para confirmar o que não deve ser explicado ou para por a prova que não se vive sem elas? De que adiantaria?

Não saberíamos, simplesmente porque fluir no vácuo da mediocridade existencial não nos dá acesso às nossas perspectivas e possibilidades. Para chegarmos lá, para obtermos o ingresso, temos que nos esforçar mais e ficar atentos às ilusões, porque mais do que nos iludir, elas nos tentam e nos desafiam para outros vôos.

As ilusões perseguem o que não entendemos e se fortalecem nos sonhos e devaneios que acalentamos. Mas não nos eximem de nossas intenções. E nem mesmo nos consolam das irrealidades que cultivamos ao longo de nossas absurdas e surreais realidades.
Vale lembrar que as mesmas correntes que animam a existência também se voltam contra ela e, assim, muitas vezes permanecemos navegando por águas incertas, nem sempre rasas, nem sempre profundas.

Mas inevitavelmente confusas e turbulentas, ainda que envoltas em névoas imperceptíveis. Qualquer brisa imprime movimento e qualquer movimento gera uma sequência de acontecimentos sem possibilidade de volta.

E não sendo possível definir o que nossas ambiguidades pretendem, precisamos que as ilusões nos transportem ao imaginário irrestrito da nossa loucura particular, aquela que não confessamos nem mesmo a nós mesmos. Confessar seria quase uma inadmissível traição.

Mas ao nos iludirmos, também nos confirmamos... porque deve ser lá, no mistério insondável da utopia, que verdadeiramente existimos.

Comentários

Visitas