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CONSOLO

Will Goya
Filósofo Clínico, Poeta.
Goiânia/GO


O mundo está de partida.
Não me peças agora para ser tão natural, que a morte nunca foi leve.
É um amor sem entrega, um abraço ao vento
E um difícil agradecimento a Deus.

Hoje uma eternidade repousa em mim.
Termine minha vida quando terminar, ela aí estará por inteira.
Tudo se demorou em estar sempre completo,
Como uma formatura à espera do diploma, em qualquer escola da vida.

Nenhum tempo ou erro foram desperdiçados,
E até meu sono cumpriu o seu destino.
Eu sei que todas as pessoas me seguirão na morte... e lá jamais estarei só. Lá.
Morrer é voltar pra casa, reaprender a ser eterno.

Aqui somos todos imperfeitos, dádivas contidas, sementes completas.
Os céus querem tanto a perfeição dos homens que os fazem nascer crianças,
Para que a Terra venha brotar maturidade em suas almas.
Germinarem o tempo.

Só as rugas de amor rejuvenescem o espírito.
Soube que uma pessoa desconhecida estava para morrer, com câncer. Era o
tio de uma amiga muito querida. Queria que o meu coração fosse parente
de todos, que eu amasse a todos igualmente, mas isso não acontece.

Como prática, exercitei um caminho, um método psicológico: “e se ela ou meus
filhos morressem, teria eu consolo?”. Recolhi meus sentimentos e quis morrer também. Com surpresa, essa imaginação da morte trouxe-me também
o desejo de viver mais um momento, e dizer últimas palavras.
Ao contrário das últimas, chegaram apenas as mais recentes.
Renasci, e amei mais.

Mas as asas vieram buscar meu pequeno anjo,
Que ainda vive as primeiras primaveras.
Eu sei que as flores morrem no inverno. Morrer é natural, mas
Por que achamos que o nosso amor é diferente?

Ele sempre me trouxe perfumes,
E a beleza dos sonhos de quem visita o jardim.
Quando a noite retirar sua alma para sonhar, seu corpo vai dormir no chão,
Sem dizer nada.

Eu sempre achei que ouvia seu sorriso no pôr do sol. Ouvirei mais.
Como pode o corpo partir antes da vida, se ao coração basta amar?
A saudade é um sonho de abraços e beijos, e um desejo de não acordar
Sozinho.

Desejo não abrir os olhos.
Mas quem vive, vive porque ainda tem frutos para dar.
Acaso a primavera é tão perfeita que não lhe cabe mais um grão de vida?

– Oh, meu Deus! É natural que o amor volte para casa.
Ensina-me a deixá-lo ir.
O passado é adubo. Somos todos sementes...
Se o grão não morre, não nasce a vida.

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