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Diálogo Anormal

Beto Colombo
Filósofo Clínico, Empresário, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC
Criciúma/SC


Querido leitor, que você esteja bem. Hoje vamos fazer um diálogo anormal.

Dias desses, atendi um novo partilhante que entrou no consultório e, de pronto, me disse: “Eu não consigo me adaptar nesse mundo. Será que eu sou anormal?” Confesso que a frase me pegou de chofre e me fez refletir alguns segundos, enquanto ele se ajeitava na poltrona. Perguntei-me silenciosamente naquela fração de segundos: O que é ser normal?

Minha resposta, naquele momento, foi mais ou menos assim: Bem-vindo querido amigo! Normal, como o nome já diz, é todo aquele cidadão que está de acordo com a norma, com um padrão pré-estabelecido. Mais do que isso: é parecido com todo mundo nas ações, que é como todo mundo é, pensa parecido como todo mundo pensa, vive como todos vivem, sente como todo mundo sente.

- Então eu não sou normal. - Afirmou meu partilhante.

Meus pensamentos teimavam em verbalizar, mas consegui me conter e não soltar a seguinte frase: Ainda bem que você não é normal.

Naquele diálogo intenso, ele teimava em me perguntar:

- Você já tratou de pessoa como eu, assim fora do normal?

No meu diálogo mental, sem falar, respondi: “Muitas pessoas ditas como normais se bem examinadas podemos dizer que não o são”. Lembrei-me naquela ocasião de Machado de Assis e seu livro o Alienista. Provavelmente muitos de nós estaríamos cativos na Casa Verde.

A única fala que fiz para meu partilhante foi: “O que você acha?” Mas minha resposta “muda” foi somente “aquieta teu coração amigo, você não está sozinho”. Sorrindo disse a ele: “Já , já vamos verificar o que está acontecendo com você”.

- “Mas Beto, por eu não ser normal eu sou discriminado na minha família. Meus pais já me excluíram até das festas de final de ano, sou motivo de piada nos ambientes em que tento frequentar, sinto que todo mundo me olha quando entro. A sociedade não me aceita como eu sou, eu não consigo me adaptar”. Falou longamente meu partilhante em lágrimas.

O que fazer? Cada caso é um caso e sem a historicidade nada podemos sugerir, nada. E muito menos, concluir alguma coisa.

Depois dos exames de categoriais, de ouvir a história de vida e descobrir como meu partilhante funcionava, juntos convencionamos que no caso dele, a melhor solução seria a mudança da circunstância, ou seja, daquilo que o circunda. Geralmente, em casos como desse partilhante, a saída é encontrar um grupo social no qual ele é aceito e o meu papel como terapeuta é auxiliá-lo a encontrar o grupo daquela natureza, ou seja, auxiliá-lo a trilhar seu próprio caminho.

Querido leitor, eu posso ressaltar a você que há sim espaço nesse mundo para aqueles que não se submetem a pressão das normas, para aqueles que não agem como se espera, para aqueles que buscam saídas criativas e fora do normal.

O que é ser normal? Albert Einstein era normal? Grambel era normal? Beethoven, Thomas Edson, Steve Jobs eram normais?

E você já saiu do normal?

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa de ser normal?

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