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Exercícios de Liberdade

Jussara Hadadd
Terapeuta Sexual, Filosofa Clínica
Juiz de Fora/MG


Não existe tempo na história do homem para definir o início do seu tempo de liberdade. As pessoas confundem liberdade com vários outros aspectos da vida. Talvez sem censura, talvez sem limites, talvez segura, talvez indiferente, talvez sozinha, talvez congruente, onde um mais um é um. Talvez imaturo ou maduro demais, ou ainda talvez, representando ser um ou outro. Ou então, ainda fingindo não ser nada nem ninguém.

A verdade, para mim, é que o tempo de liberdade, hoje, é aquele em que conto os minutos para deixar de vez, de lado e para trás, qualquer incomodo, mazela, arrependimento, tristeza, mágoa, rancor, ciúmes, inveja, medo, principalmente o medo. Deixar para trás o medo de ser livre e feliz. Deixar para trás, toda minha incapacidade de amar, todo o meu medo de me doar por inteiro, sem esperar nada em troca.

Para muitos não é fácil, mas certamente é alvo. Talvez inatingível em um primeiro momento, talvez tangível, aparentemente, mas confuso.

No amor, ser livre pode significar uma grande confusão. No amor, ser livre pode significar traição, solidão, desatenção. No amor, ser livre, pode significar uma grande tensão perante os padrões de convivência conjugal, socialmente estabelecidos. Pode significar sofrimento, por incompreensão.

No amor, liberdade, pode sugerir abandono ou descaso.

Mas, quando se aprende a ser livre no amor e a gozar os benefícios desta delícia que é amar sem amarras, exceto as que o próprio desejo impõe? As cordas, as teias os laços e os fluidos que criamos e que voluntariamente usamos? Quando aprendemos que queremos ser amarrados, ficar amarrados e não amarrar?

Quando aprendemos a não fazer da paixão uma doença que aprisiona? Que nos aprisiona, que aprisiona o outro, que enrijece, algema, engessa? Quando ter a certeza que não precisamos mais de respostas e de retornos? Quando a gratidão será para nós, apenas a alegria de estar ao lado do ser amado? Apenas de ver seu sorriso, apenas de sentir sua alegria e com humildade receber os sinais de seu gozo, sem suspeitar ou reivindicar o direito de participação em tão grata atitude?

Quando na vida, aprendemos a deixar ir sem o pavor de não nos retornar? E se ele não retornar? E se lá for melhor que aqui? Quando, em que tempo da vida, deixaremos de premeditar a felicidade do outro, antes da nossa? Quando, em que estágio, seremos capazes de dar todo o amor que temos, sem esperar nada em troca?

Quando não teremos mais que nos anular em troca de uma falsa liberdade. Quando não teremos mais que omitir ou que mentir, para vivermos em paz ou para vivermos com a companhia de qualquer alguém. Quando teremos olhos para enxergar que não precisamos de alguém a qualquer custo?

No amor, a liberdade pode ser transmutada em bom sexo e o bom sexo em expressão suave e prazerosa do amor. Quando saber definir, que não há amor? Talvez, quando o sexo não tiver mais sabor.

No sexo, a liberdade pode sugerir desprezo e rejeição.

Neste caso, sabemos que a liberdade que não é aproveitada para manifestar o desejo sincero, o amor verdadeiro e gostoso que se tem pelo outro, mostra que o dito amor, anda pelo viés do desprezo e da rejeição. Mais que isso, anda pelo viés do desamor. No sexo, o amor é o sexo que é o amor. Quando saber que estão nos negando o que nós é de direito no amor? Quando vamos parar de justificar o desamor do outro?

As pessoas estão brincando de amar. E isto é notório quando analisamos e concluímos que em casamentos ou outro tipo qualquer de relação estável, em que as pessoas afirmam que estão juntas porque se amam, o primeiro a ser deixado de lado, o primeiro a ser feito com outra pessoa paralelamente, é o sexo. As pessoas estão brincando de amar e se ferindo muito. Permanecem juntas, presas e sem liberdade em nome de algo que chamam de amor. Contudo, o que gostariam de sentir em nome do amor, vão buscar em braços alheios.

Nem mesmo os amantes clandestinos estão satisfeitos. Ainda neles, se vê a cobrança por um rótulo ou título que fidelize a relação. Mesmo que ficticiamente.

Mas quando enfim, saberei que sou livre e que posso ser feliz?

Talvez quando não precisar mais, depositar no outro, todas as suas necessidades. Nem mesmo a de amar. Talvez, quando entender que você é um conjunto que se move em direção à felicidade independente do outro.

Que seu corpo necessita do corpo do outro, porque o ama e não apenas porque o necessita. Que seu prazer, vem de você e da sua capacidade de senti-lo, não responsabilizando o seu amado pelos limites de seus sentidos e sensações. Que estar junto do corpo dele, te dá mais alegria que prazer.

Para exercitar a sua liberdade, encontre prazer em estar com você, se torne pleno, seguro, sorridente, amável. O exercício da liberdade, pode vir muito tarde em sua vida, mas isto não é um problema. Pode ser que todo sofrimento e angústia gerados pela sua pouca maturidade, sirvam agora de alicerce para um novo tempo e você deve ter olhos e ouvidos para isto, percepção para aproveitar toda a sua experiência de vida e assim valorizar e saber usar a liberdade para ser e fazer feliz.

O exercício da liberdade no amor e no sexo, requer que nos despojemos de toda a culpa que sentimos por tudo que causamos a nós mesmos e aos outros. É errando que se aprende.

Para ser livre, não é necessário estar sozinho, não é necessário negar o amor, não é preciso negar nosso desejo de unir nosso corpo ao corpo de alguém. Para ser livre, talvez seja necessário apenas compreender melhor o que sentimos e deixar o coração ir, monitorado pela nossa razão, mas apenas na medida do inteligível, da compreensão do que possa nos fazer sofrer, além de nós.

Que jamais, em tempo algum na sua vida, você se proíba o direito de ser livre e feliz. Não tem um tempo, não tem idade, não tem regras, e é muito bom quando acontece.

São meus votos de boas festas.

De um bom Natal e de um ano novo maravilhoso.

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