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As interseções cruzadas

Lúcio Packter
Pensador da Filosofia Clínica


Pedro descobriu que estudou matemática, biologia, história desde os 8 anos de idade. Aos 35 sabia quase nada sobre matemática, biologia, história. O que ele mais aprendeu em seus anos de escola é que muito pouco ele aprendeu na escola.

Antônia descobriu Pedro e achou que com ele poderia ter o que mais amava desde os 18 anos, ano em que perdeu o pai em um acidente de trem: uma família. Antônia amava tanto ter uma família que não se importava em casar e ter filhos para conseguir isso. Com Pedro ela construiu uma linda família, teve dois filhos. O casamento nunca foi bom, mas a família era uma beleza.

Tânia, prima irmã de Antônia, “nunca se achou na vida”, conforme dizia a tia Dornelles, pessoa muito entendida na vida dos outros.

Tânia precisava muito manter os vínculos com pessoas importantes que passassem em sua vida. A questão era manter necessariamente os vínculos, independente na natureza dos atilhos. Quando adveio o divórcio, o ex-marido de Tânia casou novamente, mudou de bairro, de amigos, de clube e de parte dos hábitos, como ler no jardim.

Ela foi viver com o instrutor de ginástica, teve mais um filho, mudou o corte de cabelo de tal modo que remoçou dez anos e então seu nome passou a ser Taninha. Ela mudou completamente de vida, mas continuou casada com o ex-marido; onde antes os liames eram em feixes de pano de afago delicado e desvelo, agora as amarras de couro uniam por mágoa, ressentimento. Taninha contou à tia Dornelles que nunca esteve tão próxima do ex-marido como agora que nem mesmo sabia ao certo onde ele estaria. Foi assim que tia Dornelles concluiu que ela “nunca se achou na vida”.

Pedro, por fim, quase gostava de tia Dornelles, mas não era bem isso. No fundo, ninguém sabia direito o que sentir por tia Dornelles.

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