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Poderes *

Luana Tavares
Filosofa Clínica
Niterói/RJ


Há muitas formas de poderes: de ser, viver, transformar, canalizar, desistir, decidir, desafiar, mudar. Tão múltiplos e heterogêneos que se confundem na singular universalidade de cada um. Alguns o exercem magistralmente. Outros, apenas observam, e há aqueles que se resignam e esperam o despertar do que ainda não lhes foi revelado.

Poderes fortes, que invadem, dominam e destroçam subjetividades como se fossem insetos. Os mesmos insetos dotados de um poder inimaginavelmente grande, que poderia reverter em força e intensidade e dizimar seus aparentes opressores. Não se deve subestimar o poder daqueles que se unem. Um dia eles cairão em si.

Poderes sutis, que se infiltram como águas, escorrendo por entre brechas, penetrando onde quase nada nem ninguém mais alcança, onde o improvável se faz sentir, onde nem mesmo a vida se reconhece.

Poderes escandalosamente belos, que se emanam como raios através de prismas, pulverizando cor e beleza. São belos, mas dependentes da percepção ampliada de olhares atentos e dispostos a perceber sutilezas e forças ocultas.

Poderes que se espalham como pragas e alcançam extensões desconhecidas e não permitidas, semeando intenções inteiramente diversas daquelas a que se propõem. Estes nem mesmo sabem mais porque estão ali, seja porque se autoexercem ou porque se proclamam e perdem força com a mesma voracidade de suas investidas. O caminho inevitável é que se adaptem e se transformem, gerando, entretanto, novos poderes, novas perspectivas.

Poderes que não podem ser vistos, pois não são facilmente perceptíveis, não se entregam facilmente. Necessitam de tempo e maturidade de alma. Às vezes, as crianças os veem com tranquilidade, embora não compreendam a absurda cegueira que acompanha nossa cultuada normalidade adulta. Talvez vejam com outros olhos, talvez enxerguem poderes na claridade da inocência.

Poderes podem ser irreverentes, incômodos, inebriantes, inatingíveis, podem ser necessários ou dispensáveis. Mas todos, eventualmente, serão fundamentais, sob pena de sermos subjugados a poderes ainda mais desconhecidos. Vivenciá-los ou não faz parte da nossa condição humana, qualquer que seja o grau.

Poder de vida, de criação, de existência ou não... poder até mesmo de não querer mais, de alterar direções e sentidos e se arriscar em outras frequências, em outras paragens. É o poder de poder.

O fato é que não nos consolidamos nas circunstâncias da vida sem dilemas de exercícios de poderes intra ou extrínsecos, que funcionam como velhos e sutis confrontos, na peculiaridade ou universalidade que nos desafia a reavaliar e assentar novos paradigmas pessoais. Desafiamos o poder de ser continuamente, embora ainda pareçamos perdidos na bruma que nos envolve e na forma como nos efetivamos.

*Poderes, ou o que preferir: valores, referência, emoções, sentidos, enfim, tudo o que for válido substituir.

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