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Fragmentos filosóficos delirantes LXXXVIII*


"O nosso ensino moderno da medicina, bem como o da psicologia e filosofia acadêmicas, não dão ao médico a formação necessária, nem lhe fornecem os meios indispensáveis para enfrentar as exigências, tantas vezes prementes, da prática psicoterapêutica (...) vamos ter que frequentar mais um pouco a escola dos filósofos-médicos daquele passado longínquo, do tempo em que o corpo e a alma ainda não tinham sido retalhados em diversas faculdades."

"É a sua visão do mundo que orienta a vida do terapeuta e anima o espírito de sua terapia. Como ela é uma estrutura subjetiva, por mais rigorosa que seja sua objetividade, é possível que desmorone muitas vezes ao contato com a verdade do paciente, para depois levantar-se de novo, rejuvenescida por este contato."

"A psicoterapia surgiu de métodos nascidos da prática e da improvisação. Tanto é que por muito tempo teve dificuldade em refletir sobre os seus próprios fundamentos conceptuais."

"Ser 'normal' é a meta ideal para os fracassados e todos os que ainda se encontram abaixo do nível geral de ajustamento."

"De que ponto de vista nos permitimos definir algo como ilusório? Será que existe algo dentro da alma que possa ser chamado de 'ilusão'? Quem sabe se essa ilusão é para a alma a forma mais importante e indispensável de vida, como o oxigênio para o organismo? (..) A alma, provavelmente, não se importa com as nossas categorias de realidade."

"(...) a terapia não terá outro recurso a não ser orientar-se pelos dados irracionais do doente. Neste caso, a natureza nos servirá de guia, e a função do médico será muito mais desenvolver os germes criativos existentes dentro do paciente do que propriamente tratá-lo."

"(...) a tendência, tanto de Freud como de Adler, é ajustar os pacientes e normalizá-los."

"O público leigo, não raro, alimenta o preconceito de que a psicoterapia é a coisa mais fácil do mundo, resumindo-se na arte de convencer ou de tirar dinheiro do bolso da gente. Mas na realidade, trata-se de uma profissão difícil e perigosa."

"(...) de um modo geral, todas as religiões, e mesmo as formas mágicas das religiões dos primitivos, são psicoterapias, são formas de cuidar e curar os sofrimentos da alma e os padecimentos corporais de origem psíquica."

"O terapeuta não é mais um sujeito ativo, mas ele vivencia junto um processo evolutivo individual."

*C.G. Jung
Agosto de 1957

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