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Silêncio

Beto Colombo
Empresário, Filósofo Clínico, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC
Criciúma/SC


Sábado eu e minha companheira fomos num Shopping Center em Florianópolis onde as garagens ficam no último andar e, ao entrarmos, foi como entrar numa colmeia de abelhas, tamanho o ruído. Mas minha maior surpresa foi quando fui pela primeira vez no Corcovado (RJ), o ruído é coisa impressionante, eu não conseguia entender de onde vinha tanto ruído, é inacreditável.

Como gosto de ouvir o silêncio... Às vezes vou para a Chácara da Lagoa somente para ouvir o silêncio. Ultimamente não tenho conseguido, até lá o barulho dos sons dos tocadores de CD´s dos automóveis têm quebrado aquele paraíso silencioso. Será que temos medo do silêncio?

Ano passado emprestei o chalé para um colega que precisava se concentrar no seu trabalho de mestrado e pediu para se hospedar por três dias. Foi sem seu automóvel, pois pretendia se isolar do mundo e temia que se fosse com seu automóvel ele retornaria. Não adiantou, na madrugada do dia seguinte ele me ligou desesperado pedindo para buscá-lo: “Por favor, venha me buscar, pois eu não me suporto mais”, dizia-me ele ao telefone.

Parece-me que o silêncio se tornou um vácuo que o homem abomina. Diz-se que antes de existir o ruído havia sons, som é diferente de ruído. No silêncio ouvimos o som do mundo. Será que o silêncio é apenas a ausência de ruídos? Você já percebeu que o homem moderno começa seu dia com o “som” do rádio despertador, usa CD’s e rádio nos automóveis, ouve “música de ambiente” no escritório e termina o dia com o ruído da TV em casa? E ainda é capaz de dormir ouvindo buzinas de automóveis da avenida próxima e o ladrar dos cães nas noites, que para alguns são intermináveis. No Caminho de Santiago de Compostela, um peregrino me disse que estava com dificuldades de dormir, pois só conseguia dormir com o ruído do ar condicionado.

Os ruídos da matraca do vendedor de cartucho, a buzina do leitero, a gaitinha de boca do afiador de facas apenas rompia o silêncio de antigamente. Hoje, o que mais desejo é que o silêncio interrompa o interminável barulho do mundo moderno.

Os sábios de antigamente costumavam fazer-se a seguinte pergunta: “Se uma árvore cai na floresta, fará algum ruído se não houver ninguém para ouvi-la?” Será que o homem moderno faz tanto barulho apenas para ter certeza que ele está ali? Será que os Sul-Africanos e suas vuvuzelas na copa do mundo apenas queriam dizer: “Ei mundo, nós existimos?”.

Perguntei para um colega de trabalho hospedado no chalé da lagoa. “Por que você liga o rádio tão alto?” E a resposta foi: “É que quando fico sozinho eu gosto de som alto, acalma minha solidão”. Talvez para algumas pessoas o ruído é como uma droga acústica usada como calmante. Será que é isso?

Para mim, quando preciso me acalmar, lembro-me de uma passagem no livro dos salmos de Davi escrito quando pastorava ovelhas nos Ermos lugares da Mesopotânia: “Aquietai-vos e sabeis que eu sou Deus”. E para aquietar meu coração, o acalento é fugir do ruído do mundo moderno. Ali, ao ouvir o silêncio, aquieto meu coração e me apaziguo.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, se acalma como?

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