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MELHOR CALAR

Ildo Meyer
Médico, Filósofo Clínico, Escritor
Porto Alegre/RS


Poderia dizer mil coisas, mas resolvi calar...Melhor assim. Em algumas situações o silêncio expressa sentimentos que palavras nunca vão conseguir traduzir.

Também estou calando para não brigar e magoar quem mais precisaria me ouvir e calar-se. Alguém precisava tomar a iniciativa de interromper o diálogo antes que virasse uma batalha interminável.

Optei por utilizar a voz do silêncio.

Nem tudo precisa ser dito com palavras. Nem todas as perguntas necessitam uma resposta. Nem sempre a solução dos problemas aparece quando se abre a boca. Existem coisas que melhor se dizem calando, pois o silêncio é um dos argumentos mais difíceis de refutar.

Calando-me consigo ouvir meu coração, que ainda sente, continua falando e precisa de ajuda. Aproveito meu silêncio para escutar melhor, prestar atenção ao outro, interpretar gestos, olhares, respiração. Tenho tempo para analisar, deixar que as idéias circulem e amadureçam.

Calo-me para saber se existe eco. Seguro palavras inúteis ou nocivas que na ânsia de contestar ou revidar poderiam ferir.

A economia de palavras é uma virtude que não é exclusiva dos monges tibetanos. Guardo silêncio pela dor que estou sentindo e que não pôde se converter em lágrimas.

Calo-me por respeito a você, para que consiga ouvir o que seu interior quer lhe falar, possa pensar a respeito e talvez sentir aquilo que não estou conseguindo lhe dizer. Acredite naquelas coisas que não conseguem ser ditas. Corações não conversam com palavras, precisam de silêncio para conseguir se ouvir e entender.

A psicanálise sustenta que não existe silêncio sem sentido, pois não existe um olhar humano sem interpretação da realidade, ou seja, o silêncio é sempre uma folha em branco, um prenuncio de novas palavras ou situações, uma resposta latente, e até mesmo, uma pergunta trancada.

Sei que ficar em silêncio incomoda e é constrangedor. Desculpa, não estou calado porque recuso-me a conversar, covardia, omissão ou indiferença. Também não estou me fazendo de louco. Calo-me porque em alguns casos, o silêncio é a resposta que tudo explica, e neste caso, é a única resposta.

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