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A razão violada*



“A linguagem, voltada sobre si mesma, diz o que por natureza parecia escapar-lhe. O dizer poético diz o indizível.”
Octavio Paz





Um dialeto dos subúrbios se oferece na palavra maldita. Sua desconexão aprecia ampliar os horizontes do discurso bem comportado.

A irrealidade dessas páginas desencontradas possui o barroco das possibilidades incompreendidas. Muitas vezes se parece com uma região de exílios, onde conjecturas expõe o absurdo e tênue abismo onde ser e não-ser são.

Resultante da interseção do sonho com a utopia, sua alegoria parece seguir à deriva de si mesma.

Num movimento existencial difuso, semelhante ao lirismo dos super-heróis internados, parece encontrar a retórica perdida. No lugar extraordinário de todo lugar, visibilidade e cegueira ressoam mensagens cifradas.

Nas entrelinhas de tudo e nada uma atenção insone se diverte a distorcer eventos do dia nos territórios da noite. Talvez esboço para saber a versão das alturas, sobrevoos, mergulhos.

A razão violada está nas ruas, em um desses lugares onde a vida é instante. Suas inesperadas lacunas insinuam derivações, regiões despercebidas, contornos de originalidade a guisa de dialogar com os calçados nas calçadas.

O sussurro dos corredores, as vozes atrás das portas, as janelas que se abrem na parede, no inédito assoalho. Atualizam delírios, irreflexões na memória recém-chegada, a margem daquilo que ainda não é, para ser outra coisa.

Assim a desrazão percorre e se alimenta de estradas, becos, avenidas, labirintos de si na invenção para si, como fonte de ins_piração ao saber das margens. Quiçá uma espécie de anúncio do porvir, ao sentir a natureza do desconforto de toda calmaria.

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico

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