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Mostrando postagens de outubro, 2012
Acaso versus Sincronia* Querido leitor, que você esteja em paz. Você já parou para pesquisar a quantidade de invenções, verdadeiros avanços para nossa humanidade, que foram descobertas e inventadas por acaso? E que, às vezes uma frase, uma ideia, um livro pode contribuir muito com as pessoas, as organizações e até salvar um emprego? Atrás da minha mesa de trabalho, em meu escritório, há um painel com frases de pensadores que me foram muito úteis no passado. Algumas delas já não me fazem tanto sentido, outras, nenhum sentido, mas há algumas que me são atualíssimas. “Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável”, de Sêneca, é um exemplo dessas frases atuais. Ela pode significar algo extremamente importante para uma pessoa, para uma organização, na medida em que foca no seu propósito, no seu objetivo, em seu norte. É uma frase feita, mas para alguns, ainda tem seu valor. Imagine um planejamento estratégico de uma determinada empresa: um grupo de pr
Contextos* No palco da vida lágrimas se tornam sorrisos e dores se despedem de dias sem fim palavras eternizam saudades e silêncios revelam mistérios perdidos nos textos de velhos contextos em pretéritos de outros tempos e estações nas luzes que se apagam de um velho espetáculo as esperanças reacendem as luzes de novas manhãs que nos poentes de outras histórias são reescritas com as tintas de versos nascidos da inspiração semeada nos quintais de outros palcos e que renascem a cada instante para a vida sempre nova no amor original de singulares expressões *Pe. Flávio Sobreiro Poeta, filósofo clínico Cambuí/MG
A lua ceifadora* Cá está ela, a Lua da Morte. E, mais uma vez, a magia dessas luas pode ser comprovada. Saturno em Escorpião, neste 2012, e no período anual em que a Vida e a Morte bailam de forma intensa. É hora das finalizações. Ainda não estamos com satisfatória consciência do que Saturno faz no signo de Scorpion, mas sentimos já intensa e até melancolicamente sua presença, já que Netuno também está lá junto dando a sua tônica. A Lua da Entrega, do ciclo lunar anterior, provocou alguns novos, intensos ou difíceis estados emocionais. Estados diferentes, transformadores, quando muita coisa mudou. E agora deve-se assumir tais finalizações e concretizá-las. Este passado recente favoreceu a ampliação da nossa consciência. Tempo da carta do Pendurado, esse tempo sem tempo, momento por excelência do espírito! Gerou sensações, em muitos momentos, de que o “mundo parou”. Mas o contrário ocorreu, foi dali que o recomeço esteve propício com nova e maior abertura da nossa percepção.
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXI* Soberania Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio da imaginação. Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio. E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria das idéias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande saber. Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase: A imaginação é mais importante do que o saber. Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei um pouco de inocênc
2012 - O véu se abre* Por que tantas especulações e medos sobre o que poderá acontecer em 2012? O que dizem os Calendários Maias? Por que os homens gostam de criar uma expectativa em relação a um possível fim de mundo? Estas e outras questões causam polemicas por fazer parte do imaginário humano por um desejo de profunda transformação planetária. Por não suportar a condição injusta de vida, o poder egoísta que domina, a corrupção que rouba do trabalhador honesto lhe tirando a dignidade, a exploração global e tantas outras insatisfações promovem no coletivo um desejo inconsciente de morte do sistema falido para fazer renascer uma nova vida sustentável. Há uma vontade inconsciente coletiva de destruição por um lado e construção para o outro. Daí surgirem os mitos, que são realidade do imaginal coletivo. Não podemos falar em verdades, nem mentiras, mas dos desejos filhos das faltas. O mal estar da civilização causa esta profunda angústia, esta ansiedade de transformação. Assim, não
RENASCIMENTO DO EU QUE EXISTE AI* Particularmente não só acredito no que disse como tenho a mais precisa impressão desse abuso do catolicismo sobre a natureza humana e o reconheço dinâmico ainda nos dias atuais. O exemplo clássico: - 1-Um padre para o "ser" tem que "ser" assexuado e renegar sua natureza e lutar contra ela a vida toda até que morra ou pecar e se arrepender infinitamente - 2 O massacre pela interpretação satânica de inocentes na inquisição - 3 A proibição do acesso ao conhecimento não institucionalizado. - 4 O confisco e destruição e ou reedição modificadas de livros dos grandes pensadores - 5 O assassinato de todos que ousavam se rebelar - Estas imposições ao que o homem é capaz de descobrir, modificar e desejar, perfeitamente resulta em perversidades de toda natureza, desde maltratos com sigo no autoflagelo, até comportamentos de afetividade distorcida como pedofilia, esquizofrenia etc Ao nos deparamos com acontecimentos históricos do fim da ida
A utilidade da filosofia e a liberdade em Sartre pensada na sua utilidade diante da vida* O texto abaixo foi feito como conteúdo para projeto de aula, no estágio que fiz durante a graduação. Estava na licenciatura nessa época e queria tratar algum tema que tivesse proximidade com o discurso dos alunos. Hoje não sei se trabalharia os temas abaixo. Enfim, revirando meus arquivos encontrei esse texto. Espero que gostem. De minha parte, garanto que foi bem divertido ler alguma coisa feita por mim há dois anos. Tão pouco tempo e tantas coisas já mudaram. Fiz questão de deixar sem cortes, correções ou acréscimos tanto no título quanto no conteúdo. Confiram! A pergunta clássica: “para que serve a filosofia?” Não deve ser somente aplicada à filosofia. A matemática em si não serve para nada, a física igualmente; e o que se dirá das leis e ainda dos guias de macetes de videogame? A matemática ajuda na compreensão do mundo concreto, a física nas leis da natureza a fim de trabalhar nela. As le
Fragmentos filosóficos delirantes XCXX Se eu fosse um padre* Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado — muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — um belo poema sempre leva a Deus! ___________________________ Eu queria trazer-te uns versos muito lindos* Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim... Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que terias de fechar teus olhos para as ouvir... Sim! Uma luz que viria de dentro delas, como essa que acende inesperadas cores nas lanternas chinesas
Padre pela vocação e escritor por paixão* É pela sensibilidade das palavras que o jovem padre da Arquidiocese de Pouso Alegre Flavio Sobreiro da Costa encontrou para evangelizar. Seu primeiro livro será lançado no mês de novembro e traz um retrato poético do cotidiano das pessoas através de contos e poemas. A ideia de escrever “Rascunhos da Alma” surgiu há mais de um ano. O livro mostra os diferentes aspectos dos sentimentos humano de uma maneira poética e filosófica, retratados a partir do cotidiano da vida e das múltiplas experiências vivenciadas por cada ser humano. Para padre Flávio “escrever é sempre um desafio e ao mesmo tempo um mistério”. Com 34 anos, o mineiro de Inconfidentes foi ordenado sacerdote em 2011. “Sinto-me realizado como ser humano na vocação que escolhi”. O livro “Rascunhos da Alma” é uma publicação da Penalux. A obra apresenta 29 contos e 2 poemas. Cada conto reflete fatos do dia a dia que se misturam a tristezas, alegrias, despedidas, saudades, dores, lág
Fragmentos filosóficos delirantes XCXIX* Convite Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. *Lya Luft
Sons da alma* “E na luz nua eu vi...pessoas escrevendo canções que vozes jamais compartilharam. E ninguém ousava perturbar o som do silêncio” (Simon & Garfunkel) Existem sons que vem de algum lugar que não distinguimos. Até conseguimos ouvi-los, mas eles nos surpreendem como se fossem brumas sonoras a se espalhar pelo ar... Essas ondas se espalham, penetram os sentidos e invadem expectativas, preenchendo entranhas e formando novos sonhos. Às vezes, formam delírios e transportam a outros mundos. Outras vezes, recordam instantes de êxtase que se propagam como impulsos a invadir destinos. Mas podem também massacrar como ferros, rasgando e ferindo, sepultando lembranças. E há os sonhos que cristalizam o momento, não permitindo que o tempo caminhe... ou talvez apenas o torne lento o bastante para que seus passos sejam marcados pelo deleite de um clímax anunciado. Esses momentos são como pérolas resgatadas que reverberam a concha que as abriga. Esses acordes iluminam os coraç
Me Esqueci de Viver* Querido leitor e querida leitora, paz! Em nosso artigo de hoje vamos refletir sobre uma bonita música gravada inicialmente pelo espanhol Julio Iglesias e regravada no Brasil numa versão assinada por José Augusto. Tanto um quando o outro foram cantores que marcaram a minha geração. A música “Me Esqueci de Viver” foi muito usada na minha época de grupo de jovens da igreja católica, principalmente nos anos de 1980 e depois, de casais na década seguinte, em 1990. Em 2006 foi uma das músicas que mais cantei no caminho de Santiago. Arrepiado saboreava a sua letra que, provavelmente, funcionou como uma dose de ânimo até chegar à casa do santo. Eis as duas primeiras estrofes: “De tanto correr pela vida sem freio, me esqueci que a vida se vive num momento. De tanto querer ser em tudo o primeiro, me esqueci de viver os detalhes pequenos”. “De tanto brincar com os sentimentos, vivendo de aplausos envoltos em sonhos, de tanto gritar as canções ao vento, já não sou o que
Antes de morrer, viva! Atenção! Este artigo pode ser lido por pessoas de todas as idades, mas dependendo da faixa etária, despertará interesses diversos e quem sabe até, antagônicos. Jovens não têm idéia e nem imaginam como será sua velhice, muito menos a morte. Já os velhos, mais sábios e experientes, convivem com a proximidade da morte mais realisticamente. Embora possa parecer paradoxal, este artigo é dedicado a todos aqueles que não querem envelhecer. Jovens, meia-idade e idosos, leiam enquanto é tempo. Um dos grandes sonhos da humanidade é a descoberta da fonte da juventude. Fortunas e vidas foram e continuam sendo gastas nesta procura. Milhões de pessoas foram enganadas com promessas de retardar, parar ou reverter o envelhecimento e a ilusão da vida eterna. Nas bases científicas atuais, imortalidade ainda é uma impossibilidade. Mesmo eliminando todas as causas de morte relacionadas ao envelhecimento que aparecem nos atestados de óbito, ainda assim ocorreriam acidentes
Fragmentos filosóficos delirantes XCXVIII* O Analista de Bagé Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta. Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar. Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão. — Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho. — O senhor quer que eu deite logo no divã? — Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro. — Certo, certo. Eu... — Aceita um mate? — Um quê? Ah, não. Obrigado.
A palavra fora de si* Na percepção dos excepcionais arranjos existenciais se movimenta uma euforia narrativa. Sua estética de viés inacabado contém presságios de reciprocidade com o indizível. Seu vislumbre aponta rascunhos de exceção para anunciar regiões desconsideradas. Um traço de alvoroço criativo antecipa subterfúgios de vida nova. Acrescenta rasuras a máscara bem moldada da definição. Seu aspecto de miragem delirante possui uma fonte inesgotável. A nascente multifacetada denuncia o refúgio de onde alça voos e mergulhos ao viver sem pensar. Seu estado de ânimo de embriaguez epistemológica sugere a quimera por onde a irrealidade se faz saber eremita. Sendo evento de rara inspiração, se aloja nas entrelinhas de quase tudo. Ao desrealizar seu cotidiano atualiza andanças pelas margens de si mesmo. Em meio à multidão estrangeira de pensamentos, sensações, ideias o enredo visionário antevê a alquimia das múltiplas versões. A
No conhecer, mais é menos* “Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que não se sabe, saber que não se sabe; na verdade é este o saber.” (Atribuída a Confúcio) Tenho pensado em escrever sobre o filósofo alemão Martin Heidegger. Pode parecer estranho que, estudando especificamente um autor, fale tão pouco sobre ele – embora suas influências não deixem de aparecer no que escrevo para o Alétheia. Pensei em diversas possibilidades para apresentá-lo: a partir de resenhas, de textos introdutórios, de temas, de problemas, etc. Enfim, fiquei me perguntando o motivo da minha autocrítica constante em não expô-lo, haja vista que é minha leitura mais frequente. E, em meio a essas interrogações, acabei chegando à conclusão de que quanto mais conheço determinada situação, ideia, pessoa, mais sei o quanto estou longe de compreendê-las em sua totalidade, profundidade ou mais me convenço do quanto é limitado meu conhecimento.
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXVII* Estranheza do Mundo Olho a árvore e indago: está aí para quê? O mundo é sem sentido quanto mais vasto é. Esta pedra esta folha este mar sem tamanho fecham-se em si, me repelem. Pervago em um mundo estranho. Mas em meio à estranheza do mundo, descubro uma nova beleza com que me deslumbro: é teu doce sorriso é tua pele macia são teus olhos brilhando é essa tua alegria. Olho a árvore e já não pergunto "para quê"? A estranheza do mundo se dissipa em você. *Ferreira Gullar
Os Sinais do Caminho* Breno cuidou tanto os sinais que esqueceu da estrada. Percorreu todo o trajeto e quando terminou sabia exatamente que tinha terminado porque tinha lido na última placa, metros antes. Alcina viveu a estrada, os sinais eram apenas referências, instruções sobre cuidados. Avistou Breno diversas vezes, mas este nunca a viu. Afonso povoou a jornada com sinais contraditórios. Acabou atrapalhado, mas não sabia direito com o que, uma vez que um sinal lhe avisava que tudo estava bem, calçadas abertas. Clóvis nunca viu qualquer sinal, sempre guiou pelo curso que se abria diante de seus olhos, viajou bem, chegou em paz; diferente do que houve com Evaristo, que também ignorava os sinais, e acabou precocemente sua andança em uma bifurcação acentuada à esquerda. Gunter vinha atrás de Clóvis e de Evaristo, cuidou as coisas, cuidou ambos, tornou-se um especialista na evolução de Clóvis e de Evaristo, mas pouco sabia de si mesmo. Isso não lhe interessava, aliás. Herald
Sem palavras...* Sabe aquele momento em que tudo parece sem cor, sem tom, sem sabor? Aquele momento cinza, sem sentido, sem vida... Aquele momento, Aquele! Sabe quando tudo parece simples e complicado? Enrolado e são? Sabe? As cores mais pastéis... A vida por um triz e uma noite gris? Que nem uma gota pode ser, tampouco saber! Eu tento expressar, mas... Sei lá! Estranhamento na alma criativa e ativa Apatia, dor, solidão Nenhum grão! Nada, ninguém, vazio, fundo, profundo, obscuro. Sem palavras, só um pulsar, bem devagar Leve, quase sem cor, pálido! Frio, quente, morno, insensato... Ingrato! Momento de hiato... Medo? Tristeza? Desencontro? Sei não. Nenhuma definição adequada ou bem estruturada Suspiros, madrugada! Fome, sede, vontades... Sem sanidade. *Vanessa Ribeiro Filósofa, matemática, atriz, dançarina, estudante de filosofia clínica Petrópolis/RJ
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXVI* "A presença do caos impede que o mundo se imobilize. O mundo não é só uma coleção de coisas, é também o arranjo das coisas, tocadas pelos projetos dos que nele habitam. O mundo está e não está pronto" "Tanto no líquido derramado quanto nas folhas levadas pelo vento, a desordem existe só para o observador incauto. Águas e folhas movem-se rigorosamente dentro de leis estabelecidas pela natureza" "O homem define-se nas suas muitas relações. Define-se ao se indefinir. Onde procurar o homem se a cada instante quebra grilhões ?" "A busca da verdade empreende-se no silêncio, longe do ruído das multidões. Estas exigem palavras claras, consagradas, familiares. Como esperar que aplaudam intrincadas oposições ? Os que se embrenham no matagal do saber carregam a singularidade como sacrifício. Isolam-se, porque a poucos interessa tão insólita aventura. Forma-se uma elite marginalizada, porque colocada sem recursos
O Palhaço das Ilusões* A alegria no picadeiro prometia ao meu coração triste uma manhã com sabores de eternidade. O sorriso atrás da maquiagem que lhe roubava o seu verdadeiro semblante escondia um olhar que descobri somente quando me ofereceu uma flor enquanto eu esperava a pipoca ficar pronta. Enquanto ela estourava na panela meu coração estourava de alegria dentro de um sorriso que não conseguia disfarçar. Enquanto o circo arrastava multidões, você arrastava meu coração para os seus braços. Nada conseguia esconder minha felicidade diante do espetáculo do amor que a cada noite se tornava mais belo. Foi assim que em muitas noites que pareciam nunca terminar que planejamos um futuro sem máscaras ou tristezas. No palco eu contemplava seu olhar a distância. Em meio à multidão eu colhia cada sorriso seu como as mais belas flores no jardim dos meus sonhos. Naquela noite em que a chuva chegou sem avisar, voltei para casa contemplando as estrelas que se emocionavam com minha felicidade
O que vale a pena* “O mais absurdo é o encontro entre o irracional e o desejo desvairado de clareza cujo apelo ressoa no mais profundo do homem”. (Albert Camus) Pode ser tudo ou nada... ou o que há poucos instantes não possuía significado algum e ainda navegava impreciso no âmbito da subjetividade indecisa de seus anseios. Quem sabe limitada aos devaneios ineficazes em criar compor melodias de embriaguez, como Dioniso a espreitar seu próprio delírio. Pode ser até o que nem sequer se suspeita Talvez o que valha a pena seja o que faça com que algo ou alguém nos permita olhares singulares – mais profundos, mais densos, mais translúcidos – e que surpreendem até a quem os carregam. Olhares que fascinam, encantam e se tornam especiais sem maiores dizeres ou até sentires. É ficar em êxtase simplesmente pela existência ou pela constatação de que amanhãs são possíveis. E ainda que não o sejam, que algo da nossa essência se perpetue, como um legado a transcender o que possa valer para a
A situação e a interpretação* Cada vez mais tenho me dado conta de que a fenomenologia, hermenêutica, a filosofia em geral e a Filosofia Clínica têm me ensinado é que em si as coisas são o que são. Mas, que diante disso, não é o que a coisa é que verdadeiramente importa, e sim como ela é para nós. Todas as coisas em si são o que são e elas não precisam ser mais do que isso, pois simplesmente são. Entretanto, o que cada coisa é para nós, assim torna-a influente em nossa vida. Há uma velha história do copo de água. Colocaram um copo com água na exata metade. Quando perguntaram para um indiferente sobre o que ele vê, ele disse que era apenas um copo com água. O pessimista disse que era um copo quase vazio. E o otimista disse que era um copo quase cheio. Indiferença, otimismo ou pessimismo diante da vida, influi fortemente no modo como agimos no mundo, e não com a coisa, fato ou situação na qual estamos quando estas não podem ser mudadas. Contudo, nós mudamos a cada novo olhar sobre o
Expressividade 1, 2, 3* Expressividade é o quanto cada pessoa revela dela mesma e quanto guarda para si. Quanto fica retido e quanto flui em direção ao outro. É uma característica individual na relação consigo mesmo e depois em direção ao outro. Não pode ser quantificada com exatidão. Algumas pessoas são completamente fechadas, não conseguindo liberar nada. Outras se abrem por inteiro, deixando passar de forma bruta tudo aquilo que vivenciam. A maioria filtra o que pode sair e o que deve ficar. Não existe certo nem errado, entretanto tanto a falta como o excesso podem causar dificuldades - UM - Às vezes não consigo entender nem expressar direito o que estou sentindo no exato momento em que as coisas estão acontecendo. Fico com aquilo apertando ou alisando m
Sombras* Tentava desvendar seu intimo por fotos sobradas Em álbuns públicos frases ermas.. Com poemas sem linha Era suave e mergulhava fundo Tinha fôlego e anunciava Uma dor refinada diluída quase liquida Tudo tão esteticamente pensado Que parecia ter um espelho sempre a mão Escondia-se claramente entre as algas Seu lugar é ao fundo do mar por isso sofria Sobrava-lhe brânquias ideias onde só tinha ar No mar, faltavam-lhe as sombras. *Alba Regina Bonotto Psicóloga, Filósofa Clínica Curitiba/PR

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