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Fragmentos filosóficos delirantes XCXXVIII*


Itinerário

A que horas sai o trem para a saudade?

Quero um lugar já nos primeiros bancos

para chegar mais depressa ao que perdi,

voltar aos sonhos da minha mocidade

quando não tinha estes cabelos brancos

e não pensava em sofrer o que sofri.

Quero um lugar no trem que está partindo

e que sai desta estação rumo ao passado

em cima de infindáveis e invisíveis trilhos,

onde quem hoje chora vai sorrindo,

quem dorme para sempre está acordado

e quem já é até avô não tinha filhos.

Quero um lugar no trem antes que parta

e eu não tenha outro modo de rever

tanta coisa que ainda guardo na lembrança:

uma foto amarelada, um lenço, a carta,

o perfume que nunca mais pude esquecer

e o lugar onde ficou minha esperança.

Por favor, dê-me logo essa passagem,

pois já escuto o sinal e até o apito

que avisa a todos que é hora da partida.

Eu não posso perder essa viagem,

talvez a última que faço, ansioso e aflito,

em busca do que eu mais quis na minha vida.

*Amaury Nicolini

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