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Quando silenciar é alienação***

Sábados pela manhã. Cafefil. Gente que tem a coragem de pensar e dizer o que vem de dentro, sem medo da crítica e das oposições epistemológicas. Como é bom filosofar e aprender a história da filosofia! Vicia e aquece nosso coração.
A pergunta que não me calou esta semana: - Será que silenciar e falar no mesmo tom é sabedoria?

Pensei, repensei e li vários autores sobre o silenciar. Eu mesmo publiquei no meu último trabalho: Meditações Filosóficas um texto sobre a importância do silenciar. Mas, agora, repenso nos cuidados que precisamos ter com este silenciar.

Até que ponto não se passou a silenciar por medo da crítica? O silenciar não pode também conter uma repressão e medo da exposição? Quantas vezes não se silencia para disfarçar e mostrar uma sabedoria, que no fundo é falsa? Ou mesmo representar um papel de educado e fino, quando na verdade é uma máscara social para enganar os outros?

Nem sempre o silenciar tem a riqueza que sabemos ser necessária para um diálogo honesto e verdadeiro. Ele pode ser um simulacro. Pode esconder o desejo de poder e controle.

Um verdadeiro silenciar é fundamental a boa escuta, que se torna fundamental para o diálogo. Mas, saber falar também é honestidade, é a capacidade de doar-se e compartilhar os saberes, é expressão do entusiasmo e amor, que deseja colaborar no exercício do pensar bem.

Saber e ter coragem de falar e expor, se sujeitar às críticas e julgamentos, assim como vibrar num diálogo expondo o seu pensar e suas crenças é fantástico e bom exercício de calor humano. Ainda não somos anjos e muito menos fantoches da corte francesa nos tempos dos salões onde a fofoca corria solta atrás dos leques.

Falar e calar são, pois um exercício de sabedoria e arte de dialogar. Muitas vezes, o falar alto demonstra o entusiasmo que vem da alma e demonstra a intensidade festiva da celebração da vida. Quantas vezes o silenciar neurótico, fruto da repressão e do medo não expressa a energia contida das almas deprimidas que negam a vida e são submetidas ao que os outros pensam e acham?

O que verdadeiramente importa é a liberdade de escolher a hora de calar e falar sem se preocupar com padrões impostos. Não podemos nos calar frente a injustiça, a mentira, as aberrações em nome do saber poder, dos controles autoritários e das opiniões forjadas em nome de verdades absolutas. Não podemos calar frente uma política que explora e rouba descaradamente, dos crimes hediondos e dos massacres em nome de Deus. Não podemos calar, com a falsa elegância, representar um papel e deixar a opressão tomar conta.

Silenciar é fundamental, porém, saber falar torna-se essencial para despertar as almas adormecidas. Vivam os livros! Vivam os artistas! Vivam as pessoas corajosas que não se quedam diante os falsos moralismos!
Que saibamos falar quando é tempo de falar e silenciar, sem tagarelice interna, quando se faz tempo de escutar.

*Rosangela Rossi
Psicoterapeuta, escritora, filósofa clínica ,
Juiz de Fora/MG
**Texto republicado

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