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Íntimas entregas*

Os ipês rosa começam a entregar buquês aqui no cerrado.

No inverno também é possível se apaixonar, e apaixonar pelo mesmo, reapaixonar, sofrer por isso e tentar se reconstruir.

Nas entregas íntimas de falas inéditas, temos o outro em nossa mão, uma mão macia e paciente, que ainda é um carinho; as mãos que são os ouvidos do terapeuta, em seu cotidiano missionário, brincado por encontros de magnificência emocional.

Enriquecem nosso pensamento letrado com a premência de entendimento sobre suas estratégias de vida, os motivos escusos, indiretos, as raízes dos comportamentos e dos gostos à primeira vista incompreensíveis e revividos a partir de óleos essenciais, peças de roupa, flores secas e texturas coloridas.

E aparece a fala rebelde: quem quer livros que andam? Pessoas há muito substantivas, há as ativas, as interjeitivas. Mas muito nos assustam mesmo os seres adjetivos, para além da teoria, e vice-versa. A vida sensível, na nossa semana de compromissos e contatos, é muito sutil. Adaptar nossa biblioteca a ela é desafio de sair de si, participar e se entregar para o próprio risco de viver.

Para compartilhar é preciso não só ir ao mundo do outro, mas saber como ele é vivido na pele dele mesmo, com seu paladar, seus valores, seu esmalte, seu cardápio, suas aventuras, suas árvores, seus bichos.

De profissional inserido no mundo a uma pessoa melhor, meta para criar filhos; criamo-nos. E isso pode ser de uma beleza tão grande, se alçarmos os braços aos ares, nos lançarmos do alto da montanha acreditando. “I believe I can fly”.

Planar sobre a cidade e entre os monumentos e aterrar verticalmente, com cuidado, nos territórios que escolhemos para nos espalhar como hera recobrindo de fofo verde, e não de cimento, superfícies elaboradas em séculos, amalgamadas em emoção e sentimento, desilusões e arroubos, haja vista a biografia de nossos heróis pensadores.

Sofreguidão e entusiasmo nos olhos. Deixar de se espantar com a vida é deixar de ser filósofo. A passividade analítica não nos serve, senão para rotular a diferença.

*Vânia Dantas
Filósofa Clínica
Brasília/DF

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