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O Silêncio e os Agendamentos*

Querido leitor, que você esteja bem e em paz! Hoje vamos refletir sobre um tema corriqueiro em nossos dias e na Filosofia Clínica, que são os agendamentos.

E inicio fazendo um deslocamento longo, vou lá nos idos de 1970 quando ainda estava no ensino primário. Trago a apresentação de uma professora substituta que iniciou dizendo que nós poderíamos chama-la de Dona Maria de Fátima Coral, e “coral”, frisava ela, é nome de cobra braba. “Ah, o que vou ensinar é matemática pra vocês durante toda esta semana”.

Com seu jeito sutil de cobra coral, ela ainda disse que depois dos ensinamentos, faria algumas perguntas e “quando eu faço uma pergunta eu exijo uma resposta”. Não me recordo direito, mas me parece que foi nesse dia uma colega, a Maria do Carmo, urinou-se, provavelmente de medo. Naquela semana foi o recorde de ausências por doença na sala.

Aquela frase da professora de que “quando eu faço uma pergunta eu exijo uma resposta” ficou em minha mente como uma verdade a não ser questionada até há poucos anos atrás. Simplesmente estava ali agendada e funcionava como uma baliza nas minhas conversas.

Provavelmente, nestes meus quase 50 anos de existência, as minhas respostas para algumas perguntas obedeciam a este agendamento. Sempre tinha que responder, sempre! Quantas vezes a resposta ideal era o silêncio, mas não consegui permanecer quieto devido essa imposição que eu acreditava ser um ensinamento verdadeiro. Podia ser verdade para aquele ambiente escolar, para a professora, mas não para a vida. Hoje ainda tenho observado atitudes de algumas pessoas dando resposta, me parecendo que a sociedade nos obriga a responder todas as perguntas e a reagir a todos os ataques.

Queridos leitores, o tempo e os sábios têm nos ensinado que não precisamos responder a todas as perguntas e muito menos a reagir a calúnias, fofocas, provocações. Silêncio, ah o silêncio. Rubens Alves diz: “Só fale se a tua fala for melhorar o silêncio”. Que coisa não?

Às vezes recebo mensagens e simplesmente não respondo e o emitente algumas vezes me xinga com outro e-mail por não ter respondido, porém, o silêncio é a resposta. Quem me conhece sabe que meu silêncio fala muito. Muitas vezes a minha melhor conselheira é a dúvida e quando tenho dúvidas a resposta é “Não sei”, como nos ensinou o Filósofo Sócrates, “só sei que nada sei de tudo quanto sei”. Eis a resposta.

E finalizo com Xenócrates da Calcedonia, outro filósofo grego que viveu de 396 a 314 a.C.: “Arrependo-me de coisas que disse, mas nunca do silêncio”.

É assim como o mundo me parece hoje. E você tem resposta para este artigo?

Beto Colombo
Empresário, escritor, filósofo clínico, coordenador da filosofia clínica na UNESC
Criciúma/SC

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