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Mostrando postagens de fevereiro, 2013
Amor-Perfeito* Foi em uma manhã quase já sem esperanças que ele pegou as sementes e foi ao campo semeá-las. O terreno ainda coberto pelo mato precisava ser limpo. Aos poucos foi percebendo que semear não era tão fácil como havia imaginado. A cada minuto o cansaço era sempre maior. Com o suor molhando a camisa olhou e viu que a primeira etapa estava concluída. Terreno limpo, mas ainda impossibilitado de receber aquelas sementes. Era preciso mais… Teria que revolver aquela terra. Retirar pedras e sujeiras. Sob o sol e com o peso da enxada na terra pensou muitas vezes em desistir. Contudo, o desejo guardado no coração de ver aquelas sementes floridas era mais forte que o desânimo que insistia em chegar. Quando o sol anunciava sua despedida lançou naquela terra, fruto do trabalho e do suor as primeiras sementes… Cada semente que ali era plantada era uma esperança a ganhar vida no solo seco de seus erros. Durante a noite a chuva chegou de mansinho irrigando as sementes que se pre
Licença Poética* Tenho licença poética. Posso escrever o que eu quiser! Criar meus neologismos o quanto quiser. Tenho licença poética. Posso chorar e bebericar palavras como mel. Posso me embriagar na arte de escrever e escrever o que me vier à cabeça. Tenho licença poética. Posso suspirar por amores incompreendidos. Posso chorar como criança por ter me arrependido. Tenho licença poética. Minha vida pode ser escrita em prosa, verso ou proversido. Tenho licença poética. Pra falar o que vier na telha. Pra criar, pra parir, pra deslocar de contexto, pra rir. Tenho licença poética. Pra dizer asneira, pra ser besteira, pra rasteira. Pra ser compreendido, pra ser atrevido, pra ser convalido, pra fazer sentido. Tenho licença poética. Pra ser Platão, pra Aristóteles. Pra dirimir um sermão, pra ter ereção, pra criar algum teles. Tenho licença poética. Posso poetizar sobre as coisas dos céus, da terra, e dos infernos. Posso tocar nos véus, na serra e nos cadernos. Tenho licen
Lua Estelar_25fev2013* E significativos foram os acontecimentos vindos do céu físico e metafísico – tempestades, asteróide, renúncia, tragédias. O momento agora é o de convalescença e de iniciar uma jornada de libertação de nossas mágoas, traumas, memórias e vivências emocionais que sofreram, sem dúvida, trancos e solavancos. Se não individuais, coletivos. A lua cheia passada foi forte e aniquiladora. Eis agora uma Lua Estelar que apresenta alguma luz no fim do túnel e acena com oxigenações interessantes aos estados memoráveis e registrados em nosso corpo material e astral. Esse Arcano, a Estrela, ainda lida com o pathos, mas de forma regular e fluente, com menos impacto e significativa restauração. Sim, esta é necessária para dar continuidade às reestruturações que virão a partir das que foram desmoronadas ou partidas. A imagem dessa Lua Estelar é poética, por trazer a luz das estrelas e do céu, numa noite ainda longe de um amanhecer. Há distante percurso até ele, mas já há n
Em caso de paixão, use o cérebro! Bom dia A pauta de nossa reunião hoje é curta, mas de importância vital para nossa integridade. A situação está piorando, os resultados péssimos e as queixas se acumulando. Se continuarmos assim, seremos ultrapassados pela concorrência e logo decretaremos falência. Chamei vocês dois aqui, Coração e Cérebro, em regime de urgência, para comunicar uma pequena alteração em suas atribuições. Coração, teu desempenho das funções orgânicas tem sido excelente ao longo de todos estes anos, mas no que tange as questões ditas “do coração”, está deixando a desejar. Continua a se comportar como um adolescente. Será que todos os treinamentos e reciclagens pelas quais temos investido não surtiram efeito? Em primeiro lugar, comete erros de seleção dignos de um estagiário. Mais ainda, repete com freqüência o mesmo padrão. Esqueceu as lições que o cérebro te ensinou sobre sinais de que o outro está desintere
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos* Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim... Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que terias de fechar teus olhos para as ouvir... Sim! Uma luz que viria de dentro delas, como essa que acende inesperadas cores nas lanternas chinesas de papel! Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento da Poesia... como uma pobre lanterna que incendiou! *Mário Quintana
Nos braços de um anjo* Era de sexo também. Mas não era só de sexo. Era com sexo. E sexo dos bons, é claro. Não era só de sexo que eu falava. Mas era para sentir uma coisa que justificasse aquele sexo bom. Era para encaixar. E encaixou. E? E aí o medo tomou conta de tudo e mais um casal se perdeu em meio às regras que brotam de todo lugar e impedem o ser humano de amar. Conheci poucas pessoas que não sentiam medo de amar. Medo de amar... Ha ha ha! Conheci poucas pessoas que arriscavam tudo pela delícia de sentir tudo, muito além do que o corpo pode registrar. Conheci poucas pessoas capazes de esquecer o amanhã para se entregar ao amanhã de corpo e alma. É isso mesmo. E só tem um jeito de se chegar ao amanhã com plenitude e com aquele "tum tum tum" gostoso no peito. É esquecendo que ele existe. Viver é uma arte que poucos sabem realizar. Viver é uma arte. Amar é outra, que é para poucos. Descobrir que encaixou e seguir em frente é para raríssimos. E o tal do
Escrituras, desleituras, releituras VI* "O artista da fome vai longe demais. Mas este é o risco, o perigo inerente a qualquer ato artístico: deve-se estar disposto a dar a vida" "(...) pedir vida às palavras é arriscar-se a ser esmagado por elas" "Tudo tem lugar na ausência, na distância entre palavra e elocução, e cada poema surge no momento em que nada mais resta a dizer" "A obra que desperta nosso senso de literatura, que nos dá um novo sentimento do que a literatura pode ser, é a obra que muda nossa vida. Muitas vezes, parece improvável, como se surgisse do nada, e por estar tão implacavelmente fora da norma, não temos escolha a não ser criar um novo lugar para ela" "Louis Wolfson se situa fora da literatura como a conhecemos e para sermos justos com ele devemos lê-lo em seus próprios termos. Pois somente assim seremos capazes de descobrir o livro dele pelo que é: uma das raras obras capazes de mudar nossa percepção do mundo&
O Lobo do Homem* Querido leitor que você esteja em paz. Thomas Hobbes, filósofo inglês que viveu na idade moderna (1588-1679), populariza um dizer de Plauto (254-184) “Homo homini lúpus”. Traduzindo para o português, a frase quer dizer “o homem é o lobo do homem”. De acordo com Hobbes, o egoísmo é o mais básico comportamento humano. Ele acreditava que o homem é por natureza mau e, se você lhe tirar seu espaço, ele se torna agressivo e cruel com seu semelhante. A solução para que essa maldade seja amenizada era que o homem deveria ser privado de certas liberdades. Essa era a única forma que Thomas Hobbes via de manter a ordem e a paz nos burgos, do contrário, será uma “guerra de todos contra todos”. Para o filósofo inglês, os homens são perfeitamente iguais, desejam as mesmas coisas, têm as mesmas necessidades, o mesmo instinto de autopreservação. Por isso, em “Estado Natural” ele necessita do conflito e, dessa forma, surgem as revoltas e a guerra. As guerras existem, portanto,
Leitura ingênua* Esses dias, remexendo em alguns livros que (impulsivamente) comprei em sebos, encontrei um que somente comprei por causa do preço (R$ 7,00). Uma obra de John Stuart Mill, intitulada Da Liberdade (On Liberty). Resolvi lê-lo nas horas vagas para ver do que trata, já que é de uma coleção chamada Clássicos da Democracia e por ser um texto do século XIX, achei que não fosse achar interessante. Afinal, “um livro sobre filosofia política, quase bicentenário, poderia ser enfadonho”. Mas, para minha surpresa, estou gostando. Inclusive espero, assim que estiver com mais tempo, fazer uma resenha. Entretanto, o que gostaria de tratar no presente texto não é da qualidade ou das teses da obra de J. S. Mill. Lendo-o percebi que a primeira impressão de um livro pode nos levar a enganos. Em outras palavras, o que num primeiro momento parece uma ideia bem articulada e claramente compreensível, pode esconder diversas teses, temas subentendidos, finalidades não esclarecidas, questõe
Matemática da Vida* No compasso do tempo o círculo da vida divide-se em partes nem sempre iguais que desiguais somam partidas e chegadas e multiplicam esperanças subtraem barreiras e constroem pontes nos centímetros de pequenas alegrias quilômetros são percorridos e no segundo que antecede a chegada vitoriosa a eternidade se faz memória do passado sempre presente em futuras equações repletas de possibilidades que de tão velhas e cansadas sabem-se incertas na soma final do hoje que se perde nos encontros das horas cronometradas no relógio da vida que no tempo de cada tempo surge o tempo que nos resta na felicidade que se faz igual presente nos contextos frágeis de questões sem respostas e números escritos com silêncio nascidos na alma e crescentes no ser *Padre Flávio Sobreiro Poeta, filósofo clínico Cambuí/MG
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXXXI* Um instante Aqui me tenho Como não me conheço nem me quis sem começo nem fim aqui me tenho sem mim nada lembro nem sei à luz presente sou apenas um bicho transparente *Ferreira Gullar
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXXX* Soberania Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio da imaginação. Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio. E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria das idéias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande saber. Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase: A imaginação é mais importante do que o saber. Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei um pouco de inocência na
Escrever para se conhecer* Escrever me compele a escrever. Pensar me faz pensar. Meu ócio nem sempre é criativo como gostaria que fosse, mas eu procuro fazer dele algo pra mim. No meu ócio criativo, quando dos meus insights me embebedo, escrevo muitas coisas que gostaria que tivessem tom filosófico, porém às vezes não são. Quando são poemas, também fico feliz! Pois quando têm tom filosófico, fico maravilhado! Levo comigo meu bloco de notas, no mundo moderno, no celular, para não perder tempo procurando lápis ou caneta. Apesar de ser um "escritor" à moda antiga, estou cada vez mais me rendendo às tecnologias do mundo moderno. Em compensação, minha mente vai muito mais além e mais rápido do que meus dedos conseguem acompanhar. No meu ócio criativo, transformo-me a cada frase composta. Repenso em várias coisas ao mesmo tempo; e chego à conclusão de que estou sempre aberto à mudança. A vida é transformação e transformação pressupõe movimento. No movimento da minha vida, e
Escrituras, desleituras, releituras V* Sobre a Escrita... Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento. Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras. Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas
Flores pelo caminho da alma* O vento vai trazendo e levando sementes. Plantando sonhos e desejos. Imaginando. Devaneios múltiplos. Angustiadamente duvidando assobiando vai. Lá vai o vento e o tempo! Lá vai! Pelos caminhos pedregosos, Flores, entre meios, escutam o vento. E se deliciam sem ao menos se entristecer. Há mais sentido em tudo Do que se enrigecer diante os vendavais. Render e se deixar levar, Como as folhas e flores, Acendem a alma e encantam a vida. As flores pelo caminho da alma Dão lições que nem mesmo o vento, Com toda sua serilepice, Consegue alcançar. Quem tem ouvidos aprende. Quem vê através da alma, imagina. Quem planta colhe poesia. *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, escritora, filósofa clínica Juiz de Fora/MG
Tempo* Há deuses nos olhando... E dentre todos que nos assistem e insistem, O tempo é entidade das mais estranhas. Não se desnuda facilmente; Não se permite ao óbvio... muito menos se oculta dele. Como nuvens que esvanecem, Corre solto por aí, inconsequente em seu percurso vago. Obstinados e alucinados a ele se agarram... Enquanto certos outros lhe abrem as portas, Deixando passar até o que desconhecem. Mergulhados em sonoridades leves, livres e intensas, E pe(n)sares profundos ou transitórios, Aguardam sentenças inexoráveis e incoerentes, Algumas dotadas do sabor efêmero de deleites incomuns... O sabor do tempo de cada um. Sua natureza imprevisível A uns engana E a outros simplesmente não se permite. Não plenamente... Sabe que seu sofrer e ressentimento não são por vezes Sequer percebidos na fugacidade que os envolve. Ele sabe ser carente do que não pode reter, Do que não se aventura a revelar; Driblado como se a rede da incredulidade o balançasse Ou abanasse
Bom dia amigos* O cineclube AudiovisUAI de São Tiago/MG retornará às suas atividades no mês de fevereiro. A primeira exibição acontecerá no domingo, dia 17, com uma sessão especial no FORNO da praça de São Tiago, a partir das 19 horas. Falaremos de samba, Baden Powell e Cartola e, também, de circo e palhaços. E muito café-com-biscoito! Participe e convide seus amigos divulgando a nossa programação. *Mariana Fernandes Cineasta, jornalista, filósofa clínica Coordenadora do Cineclube AudiovisUAI São João del Rei/MG
O SIM QUE VALE POR UM NÃO* Vou iniciar contando uma piada antiga, a diferença entre o político e a mocinha. Quando o político diz “sim”, significa “talvez”. Quando fala “talvez”, quer dizer “não”, e quando diz “não”, deixa de ser político. Por outro lado, quando a mocinha diz “não”, tem o significado de “talvez”. Quando fala “talvez”, quer dizer “sim”, e quando diz “sim”, deixa de ser mocinha. Sem entrar no mérito da piada, a intenção foi apenas ilustrar quantas vezes dizemos “sim”, quando na verdade gostaríamos de falar “não” e vice versa. Será que é mais fácil dizer um “sim” que um “não”? Dizer “sim” não demanda muitas explicações, mas dizer “não” quase sempre exige uma justificativa. Em tese, se você concordar e aceitar terá maiores chances de agradar e ser bem quisto pelos outros. Por isto, algumas pessoas dizem “sim”, mas terminam agindo como um “não”. Você não queria ir à praia, mas não conseguiu recusar o convite. Vai mas fica emburrado o tempo todo, sequer pisa na arei
A Santa Maria que eu vivi!** A que bebeu poesia* A louca que passa Deixou na vidraça Um olhar que no fundo Tem muita desgraça. Será minha mãe A pobre da louca Que nada mais tendo Conserva a ternura? Será minha noiva Que louca ficou Depois que parti No barco da guerra? Será minha filha A louca do bairro Que a vida judiou Depois que morri? Ou foi a poesia Que a louca bebeu Que lhe deu esse ar De ser doutro mundo? *Luiz Guilherme do Prado Veppo Médico psiquiatra, professor de literatura, poeta 1932 - 1999 **Hélio Strassburger
Os poemas * Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... *Mário Quintana (Esconderijos do Tempo)
Sobre a arte de redigir silêncios* Uma fenomenologia da espera descreve seu vocabulário pela quimera a se mostrar esconderijo. A palavra refugiada na estrutura do silêncio parece dizer mais. Seu instante fugaz aponta entrelinhas de um esboço. Seu viés multiplica-se nos enredos da expressão absurda. A suspeita de uma razão vigiada persegue eventos pelos contornos da ficção. Talvez essa novidade, como um deslize da ideia não declarada, se mostre nas páginas em branco. Esses episódios se sucedem em pretextos para um sentido à margem do discurso principal. Os manuscritos do inesperado podem ser anúncio ao relatar invisibilidades. Ao interrogar esses indizíveis esconderijos das perolas imperfeitas, um olhar escuta a geografia dos exílios. Os espaços desacreditados se protegem no retiro das fórmulas secretas. Os rituais da linguagem singular apreciam a redescoberta desses espaços calados. Ânimos de diversidade na interseção entre a promessa

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