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Tempo*

Há deuses nos olhando...
E dentre todos que nos assistem e insistem,
O tempo é entidade das mais estranhas.
Não se desnuda facilmente;
Não se permite ao óbvio... muito menos se oculta dele.
Como nuvens que esvanecem,
Corre solto por aí, inconsequente em seu percurso vago.
Obstinados e alucinados a ele se agarram...
Enquanto certos outros lhe abrem as portas,
Deixando passar até o que desconhecem.
Mergulhados em sonoridades leves, livres e intensas,
E pe(n)sares profundos ou transitórios,
Aguardam sentenças inexoráveis e incoerentes,
Algumas dotadas do sabor efêmero de deleites incomuns...
O sabor do tempo de cada um.
Sua natureza imprevisível
A uns engana
E a outros simplesmente não se permite.
Não plenamente...
Sabe que seu sofrer e ressentimento não são por vezes
Sequer percebidos na fugacidade que os envolve.
Ele sabe ser carente do que não pode reter,
Do que não se aventura a revelar;
Driblado como se a rede da incredulidade o balançasse
Ou abanasse o pó vazio dos pesares.
Delírios o desafiam, enquanto senilidades o contemplam,
Plácidos e confiantes de que,
Não importa para onde caminhem,
Ele sempre estará lá, na espreita incerta de uma chegada.
O tempo surpreende distraídos e amantes,
E pune Setembro, trancando-o fora do Universo...
Apenas por intervir em vidas e tempos alheios.
Mas nos seus próprios limites
Não finda nunca o que recicla... e renova tudo o que chega ao fim.
Sua linearidade se confunde com muito de tudo que preferiria esquecer ou lembrar,
Pois não há maior dor do que presenciar dores eternas...
E não há plenitude melhor do que sentir os ímpetos de amor.
Os segredos das linhas do tempo...
Apenas se escondem daqueles que não sonham o suficiente...
Mas ainda que em sonhos, que ninguém se engane:
A eternidade esbarra em todos, mas a atemporalidade é para poucos...
Exercê-la demanda atitude, investimento e um quê de insanidade,
Além do tempo maduro dos que se permitem.

*Luana Tavares
Filósofa Clínica
Niterói/RJ

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