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O direito ao anonimato*



Era de se esperar que o anúncio da renúncia do Papa Bento XVI iria provocar um enorme ibope. Afinal, ele é uma pessoa pública, e na Igreja Católica Apostólica Romana responde pela direção dos fiéis em todo o mundo.

Hoje ao ligarmos a TV ou acessarmos a internet só conseguimos ver notícias relacionadas a renúncia do Papa Bento XVI. Desde demonstrações de solidariedade até suposições sobre quem irá assumir o seu lugar. Há criticas de quem não é fiel da Igreja, e também até daqueles que se dizem fiéis. Há “bate-bocas” descontrolados entre religiosos e não religiosos. Cada um no seu direito de expressar livremente o que pensa.

Há pessoas defendendo o Papa Bento XVI contra criticas ferozes. Há criticas ferozes. Há pessoas rezando. Há mulheres seminuas invadindo Igrejas para demonstrarem sua alegria em forma de protesto. Há “especialistas” na TV fazendo analises e tentando imaginar o futuro da Igreja. Há repórteres acampados no Vaticano. Há pessoas apostando em “candidatos” ao “cargo” de próximo Papa. Há análises de todos os tipos e para todos os gostos. E conforme o dia 28 de fevereiro chegar o ibope irá aumentar gradativamente. Os holofotes estão mais do que nunca sobre Bento XVI.

O recolhimento que ele busca com a sua renúncia vai demorar algum tempo para acontecer. Tanta movimentação parece o anúncio da morte do Papa. Bento XVI quer ter simplesmente o direito de viver o tempo de sua idade. Quer o recolhimento longe dos holofotes. Outro Papa estará daqui a algum tempo ocupando o lugar que hoje ele ocupa. Após o dia 28 de fevereiro, as atenções estarão voltadas para seu novo sucessor a ser escolhido. Então as luzes dos holofotes estarão fixadas em outro Papa. As criticas começaram novamente. Alguns ficarão contentes, outros descontentes. E a vida seguirá seu rumo como sempre seguiu…

Bento XVI tem o direito ao recolhimento. É uma decisão pessoal. Ele sabe muito bem o peso da escolha que fez. Mas também sabe que o tempo agora é de sair de cena. Suas fragilidades em decorrência da idade já não permitem que esteja à frente de uma posição tão exigente. Quer ter apenas o direito ao recolhimento do silêncio e do anonimato.

Enquanto o mundo se agita com a notícia da renuncia, Bento VXI deve estar separando os livros que agora terá tempo de ler e pensando nos livros que ainda não teve tempo de escrever. Poderá acordar mais tarde e talvez cuidar de um jardim. Poderá ainda ouvir música clássica e dormir com o rádio ligado. Afinal, ele também é humano.

*Pe Flávio Sobreiro
Poeta, filósofo clínico
Cambuí/MG

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