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Mostrando postagens de junho, 2013
Louvor do Revolucionário* Quando a opressão aumenta Muitos se desencorajam Mas a coragem dele cresce. Ele organiza a luta Pelo tostão do salário, pela água do chá E pelo poder no Estado. Pergunta à propriedade: Donde vens tu? Pergunta às opiniões: A quem aproveitais? Onde quer que todos calem Ali falará ele E onde reina a opressão e se fala do Destino Ele nomeará os nomes. Onde se senta à mesa Senta-se a insatisfação à mesa A comida estraga-se E reconhece-se que o quarto é acanhado. Pra onde quer que o expulsem, para lá Vai a revolta, e donde é escorraçado Fica ainda lá o desassossego. *Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas' **Tradução de Paulo Quintela
Fragmentos de vida e poesia* "Amo as pessoas. Todas elas. Amo-as, creio, como um colecionador de selos ama sua coleção. Cada história, cada incidente, cada fragmento de conversa é matéria-prima para mim. Meu amor não é impessoal, nem tampouco inteiramente subjetivo. Gostaria de ser qualquer um, aleijado, moribundo, puta, e depois retornar para escrever sobre os meus pensamentos, minhas emoções enquanto fui aquela pessoa. Mas não sou onisciente. Tenho de viver a minha vida, ela é a única que terei. E você não pode considerar a própria vida com curiosidade objetiva o tempo todo..." *Sylvia Plath

Fragmentos poéticos, filosóficos, delirantes*

" (...)Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se levam anos para se construir confi
Fragmentos poéticos, filosóficos, delirantes* "(...) Quem Poderá Calcular a Órbita da sua Própria Alma? As pessoas cujo desejo é unicamente a auto-realização, nunca sabem para onde se dirigem. Não podem saber. Numa das acepções da palavra, é obviamente necessário, como o oráculo grego afirmava, conhecermo-nos a nós próprios. É a primeira realização do conhecimento. Mas reconhecer que a alma de um homem é incognoscível é a maior proeza da sabedoria. O derradeiro mistério somos nós próprios. Depois de termos pesado o Sol e medido os passos da Lua e delineado minuciosamente os sete céus, estrela a estrela, restamos ainda nós próprios. Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma? (...)" *Oscar Wilde, in 'De Profundis'
Lembrando Lou Salomé* A alma rufla para longe. O ser se vai em momentos de desespero da alma engaiolada. Em dor, o corpo exige primazia. Em posse dela, os seres se assemelham. Se arrastam pela noite da alma barbarizam seus rostos insanos arranham as paredes da vaidade não vêem a hora de dizer adeus a cada prova mais amarga a cada dia mais exposta e inexplicável. Sim, a vida da alma dói de tal modo que a irradiação nociva atinge camadas e vai penetrando pele e peles internas - mucosas; glândulas; seivas; veias rupestres; fibras nem tão inocentes; e, quando é funda demais, atinge os ossos e diz que veio pra ficar. Sim, a alma se vai como vão-se os anéis. É o divórcio imediato do qual resulta a depressão. Mas, se queres viver, viva por ela neste mundo de Maya. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Brasília/DF

Os dons das fadas*

Era um grande encontro de fadas para proceder à distribuição de dons entre todos os recém-nascidos, chegados à vida, nas últimas vinte e quatro horas. Todas essas antigas e caprichosas Irmãs do Destino, todas essas mães bizarras da alegria e da dor eram bem diferentes: umas tinham o ar sombrio e ranzinza, outras um ar caçoador e malicioso; umas jovens que sempre foram jovens e outras velhas que sempre foram velhas. Todos os pais que tinham fé nas fadas vieram, trazendo, cada um deles, seu recém-nascido nos braços. Os Dons, as Faculdades, as Boas Sortes, as Circunstâncias invencíveis estavam acumuladas ao lado do tribunal, sobre o estrado, para uma distribuição de prêmios. O que havia ali de particular é que os Dons não eram a recompensa de um esforço mas, pelo contrário, uma graça concedida aquele que ainda não vivera e que poderia determinar seu destino e tornar-se tanto a fonte de sua infelicidade quanto a de sua felicidade. As pobres Fadas estavam muito ocupadas, pois a multi
Presente Lunar* O ponto é de chegada e, em breve, de partida novamente. O presente é esta estação que nos permite voltar a considerar e reconsiderar. Celebremos, pois muitos foram os contatos com vibrações felizes em nosso ser. A Lua anterior nos libertou de estados anteriores e nos aproximou de caminhos que desejamos mais, tanto de forma individual como coletiva, e a imobilização saiu de cena. Chegamos a este tempo lunar que abrirá as possibilidades de recomeço, quando tudo poderá ser mexido após ou ao final desse momento, mas ainda não. O silêncio é nossa recompensa para que haja usufruto e regozijo, de diversos modos, pois há ainda quem desfrute de forma violenta, devendo muita sutilização ser alcançada. O tempo localiza-se no agora, no estado corporal, com a respiração tranquilizadora. Reverências ao nosso esqueleto que nos permite elevação. Reverências também ao nosso anahata chakra (do coração) que nos permite enlevarmo-nos. E que sua fala, mesmo baix
Gaia* Você sabe como eu sou despreocupada que me encerro neste quarto e me permito todas as divagações, as fantasias obsessões, perseguições, todos os dias você sabe que eu me viro de inventos que eu me reparto e dou crias que eu mal me resolvo e me aguento carrego pedras no bolso e enfrento ventanias. Você sabe como eu sou desorientada raciocínio pelo instinto e cometo fugas de túnel de ladra de galeria uso malhas e madras manhas e lenhas e percorro superfícies em que você escorregaria Mas você sabe como eu sou de subsolos de subterfúgios, de subversos subliminares como eu sou de submundos subterrãneos, de sub-reptícias folias meio de circo, meio de farsa ervas, panfletos, fluídos, presságios quebrantos, jeitos, gírias, reviras de sensações e cismas, filosofias de como eu sou de estradas, andanças, pressentimentos atmosférica e vadia gato da noite, de crises, guitarras ouros e danças e circunstâncias de vinho azedo e companhia. Que eu sou d
Pretéritos futuros* “Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?” Gaston Bachelard A concepção de um esboço de como seria a tradução de ideias em atitudes, poderia dizer a vida em retrospectiva de amanhãs. Um lugar onde se alcançaria a perspectiva imaginada, como se fora uma invenção a transbordar oceanos. Uma linguagem do futuro pretérito se oferece na palavra tentativa de superar o instante_antítese entre o vivido e sua descrição. Existem pessoas aprisionadas nalguma página do grande álbum das suas vidas. Numa dialética entre passado, presente e futuro, nem sempre conseguem realizar uma desconstrução de qualidade, capaz de alterar aquilo que já deveria ter sido. Raros transitam com leveza e desenvoltura entre um lugar e outro de sua estrutura existencial. Partindo do viés singular, numa percepção reflexiva da realidade plural, é
Fragmentos poéticos, filosóficos* Minha vida não é essa hora abrupta Em que me vês precipitado. Sou uma árvore ante meu cenário; Não sou senão uma de minhas bocas: Essa, dentre tantas, que será a primeira a fechar-se. Sou o intervalo entre as duas notas Que a muito custo se afinam, Porque a da morte quer ser mais alta… Mas ambas, vibrando na obscura pausa, Reconciliaram-se. E é lindo o cântico. (...) As folhas caem como se do alto caíssem, murchas, dos jardins do céu; caem com gestos de quem renuncia. E a terra, só, na noite de cobalto, cai de entre os astros na amplidão vazia. Caimos todos nós. Cai esta mão. Olha em redor: cair é a lei geral. E a terna mão de Alguém colhe, afinal, todas as coisas que caindo vão. *Rainer Maria Rilke
A Filosofia da Criança* A observação é realmente algo bom para se começar um estudo. Antropologicamente falando, a observação de nós homens é boa para termos idéia de costumes locais, crenças, culturas e outras coisas mais. Filosoficamente falando, podemos compreender os sistemas éticos e morais e que nos cercam e nos formam. Mas observando, ainda sob o olhar filosófico, uma outra população formada por gente miúda, as crianças mesmo, podemos ter uma idéia muito boa sobre nós mesmos e sobre nossos sistemas políticos etc.. As crianças são extremamente sinceras e estão sempre prontas a “jogar” sua sinceridade na nossa cara. Não me canso de pensar que elas são o retrato mais puro do que há dentro de nós mesmos e nós nem nos damos conta do quão verdadeiro isso pode ser. Por exemplo: quando aprendemos a dividir? A criança não divide, é dela e ponto! Ela luta pelo que entende ser bom e seu, somente seu. Já tentaram tirar um brinquedo da mão de uma criança? Ela não deixa! Faz uma força inc
Fragmentos filosóficos delirantes* "Quem sou eu? De onde venho? Sou Antonin Artaud e basta que eu o diga Como só eu o sei dizer e imediatamente hão de ver meu corpo atual, voar em pedaços e se juntar sob dez mil aspectos diversos. Um novo corpo no qual nunca mais poderão esquecer. Eu, Antonin Artaud, sou meu filho, meu pai, minha mãe, e eu mesmo. Eu represento Antonin Artaud! Estou sempre morto. Mas um vivo morto, Um morto vivo. Sou um morto Sempre vivo. A tragédia em cena já não me basta. Quero transportá-la para minha vida. Eu represento totalmente a minha vida. Onde as pessoas procuram criar obras de arte, eu pretendo mostrar o meu espírito. Não concebo uma obra de arte dissociada da vida. Eu, o senhor Antonin Artaud, nascido em Marseille no dia 4 de setembro de 1896, eu sou Satã e eu sou Deus, e pouco me importa a Virgem Maria. *Antonin Artaud
Avaliação* Se hoje eu lhe convidasse para ser avaliado como pessoa, como profissional, como pai, enfim, fazer uma análise de você nos diversos papeis que você exerce, o que você acharia? A avaliação é uma ferramenta que muitas pessoas usam para saber se estão ou não no caminho certo, para identificar seus pontos problemáticos e mudar. Avaliar tem o significado corriqueiro de determinar o valor de algo ou seu preço (lembrando que preço pode ser entendido como uma avaliação quantitativa enquanto o valor como qualitativo). Sendo assim, algumas pessoas quando param para se avaliar fazem uma avaliação própria tendo em vista valores quantitativos, ou seja, o quanto acumularam, seja dinheiro, títulos, lotes, casas, mulheres. Outros já partem para uma avaliação quantitativa, analisando como eram quando tinham tal idade e como estão agora, como eram quando começaram na empresa e onde chegaram na atualidade. Algumas pessoas são muito duras ao se avaliarem e se cobram além do que poderiam
Mario por ele mesmo* Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunc
Do que você tem se alimentado? Querido leitor, do que você tem se alimentado? Vamos fazer um daqueles exercícios imagéticos: uma pessoa conhecida sua, com um daqueles empregos modernos, bancário, escriturário ou outro emprego que não exija tanto esforço físico, ok? Imaginou? Agora vamos juntos descrever o dia desse colega: no café da manhã ele se alimenta de bacon com ovos mexidos, suco de laranja com bastante açúcar, depois café com leite integral e bolo de chocolate. Às 10 horas, no lanche da manhã, ele opta por um big mac com coca-cola; no almoço, caipirinha para abrir o apetite, feijoada com bastante sal acompanhada de cerveja e, de sobremesa, pudim de leite com calda de chocolate. No lanche da tarde um X-Egg com refrigerante e à noite joelho de porco com costeletas fritas e de sobremesa banana Split; na ceia, um mousse de chocolate com pudim de leite. Exagerei? Pois é isso que algumas pessoas têm nutrido sua mente dia a dia, mês a mês ano após ano. Na música preferem Lacra
Prece por um bom amor* Que o amor seja entendido como doação. Que ele seja visto como estrada para fazer o outro feliz. Difícil entender amor atrelado a responsabilidade, sofrimento, compromisso e obrigação antes de liberdade, felicidade, desejo e enorme vontade de estar perto de alguém que nos provoca tamanha sensação de bem estar. Como assim, estar perto de alguém em nome do amor, que não seja por livre e espontânea vontade? Como assim, culpar alguém por não te amar, exigir que alguém te ame ou que viva a seu lado por algo qualquer que não seja amor. A qualquer custo, até mesmo o da humilhação. De qualquer jeito, até mesmo em subjugação. Em opressão, em prisão, em pura obrigação. Que ninguém esteja sujeito a um amor fanático, dependente, incompetente, principalmente. Que ninguém jamais julgue amar apenas por precisar se escorar, segurar seus fracassos e insucessos perante a própria vida. Que ninguém mais no mundo seja capaz de tirar de alguém a oportunidade do amor verda
NAMORADOS PARA SEMPRE* Conheceram-se pela internet. Moravam em países diferentes, tinham vinte anos de diferença de idade, falavam, torciam, votavam e rezavam para Deuses distintos. E mesmo com tudo diferente, os dois se falavam todo dia e a vontade de ficar juntos crescia, como tinha de ser. Estavam apaixonados e juravam que opostos se atraem e se completam. Quem disse que existe razão nas coisas feitas pelo coração? Apostaram nisto e decidiram casar. Familia, amigos e preconceitos jogavam contra, previam um choque cultural seguido de desilusão com a convivência conjugal. Recomendaram um curso preparatório de noivos, O casal estava tão entusiasmado, que qualquer motivo para ficarem juntos era bem aceito. Logo na primeira aula, o rabino, um senhor de meia idade, com uma longa barba ruiva e sotaque meio russo, meio francês, comunica ao jovem casal, em tom solene e ao mesmo tempo suave, que se quiserem mesmo casar, terão de fazer uma escolha: “ Felizes” ou “Para sempre”. Uma
ORAÇÃO DO CORPO* Vejo meu corpo se reconstituir como se lentamente fossem brotando galhos de goiabeira, de um bege claro, nas costas, com flores de cerejeira que emergem para os braços. Cálices rosados acomodam pistilos com pólens arredondados de amarelo vivo. Assim, os músculos se enfeitam de filetes de saúde a ser cuidada com o carinho que pedem os filhos novos. É bonito ver brotar a vida verde de troncos resistentes e superficialmente secos. Primavera já me vem dizer bom dia, pois o sol aquece a umidade do ar e a vegetação obedece à própria lógica, em conexão com o todo. Sim, vou florir em azulejos e buscar ver a vida que pode existir nas matérias não comunicáveis por via verbal. Minha meditação é o silêncio das coisas; elas nos deixam ser e permitem que as conheçamos; só exigem um desabrochar que a cognição por vezes impede. Dê-me teus braços de tendões sensíveis para te mostrar os rios que correm neles. Perceba as ondas naturais que existem por toda parte e, neste mome
Provérbios do Inferno* No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta. Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos. A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria. A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência. Quem deseja, mas não age, gera a pestilência. O verme partido perdoa ao arado. Mergulha no rio quem gosta de água. O tolo não vê a mesma árvore que o sábio. Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela. A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo. A abelha atarefada não tem tempo para tristezas. As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria. Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes. Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez. Nenhum pássaro se eleva muito, se eleva com as próprias asas. Um cadáver não vinga as injúrias. O ato mais sublime é colocar outro diante de ti. Se o louco persistisse
CHEGO ONDE SOU ESTRANGEIRO* Nada é tão precário quanto viver Nada quanto ser é tão passageiro É quase como gelo derreter E para o vento ser ligeiro Chego onde sou estrangeiro Um dia passas a margem De onde vens mas onde vais então Amanhã que importa que importa ontem Muda o cardo e o coração Tudo é sem rima nem perdão Passa na tua têmpora teu dedo Toca a infância como os olhos veem Baixa as lâmpadas mais cedo A noite por mais tempo nos convém É o dia claro envelhecendo As árvores são belas no outono Mas da criança o que é sucedido Eu me olho e me assombro Deste viajante desconhecido Seu rosto e seu pé desvestido Pouco a pouco te fazes silêncio Mas não rápido o bastante Para não sentires tua dessemelhança E sobre o tu-mesmo de antes Cair a poeira do tempo É demorado envelhecer enfim A areia nos foge entre os dedos É como uma água fria em torvelim É como a vergonha num crescendo Um couro duro corroendo É demorado ser um homem uma coisa É demorado
Prefiro ser aprendiz* Eu não tenho nenhuma pretensão de achar que sei. As vezes, aquele que acha que sabe, corre um grande risco. Neste sentido, prefiro figurar como um quadro exposto na galeria do aprender, do desaprender e do reaprender. Entendo que, em Filosofia Clínica, o encontro com o partilhante, é um caminho de mão dupla, ou seja, ao partilhar o filósofo clínico também aprende, neste processo relacional, emerge um ambiente de construção. Assim, quando me refiro aprender, estou querendo dizer que, o filósofo clínico deverá está embebido num momento de construção com o seu partilhante, cujo momento é compartimentado e sigiloso, ou seja, tudo o que é dito pertence ao que diz. Pode-se saber por aquele espaço de fala. O que foi dito, foi dito para o filósofo clínico e que fique exatamente assim. Sob a égide da singularidade de cada partilhante, o filósofo clínico tem que desaprender (adotar uma postura do não saber), impulsionado por uma outra abordagem fenomenológica, no
Reinvenção* A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas… Ah! tudo bolhas que vem de fundas piscinas de ilusionismo… — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços. Projeto-me por espaços cheios da tua Figura. Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura. Não te encontro, não te alcanço… Só — no tempo equilibrada, desprendo-me do balanço que além do tempo me leva. Só — na treva, fico: recebida e dada. Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. *Cecília Meireles
Meu amigo Harvey e a lógica delirante.* Nos dias 25, 26 e 27 de maio de 2012, estive participando do primeiro colóquio de filosofia clínica e lógica delirante, ocorrido no Hospital Espírita em Porto Alegre/RS. A parte que me coube nesse latifúndio foi referente às formas com as quais o cinema retratava as lógicas delirantes, o que comumente conhecemos por ‘loucura’. Estávamos com uma bela turma de proseadores: Pedro Leopoldo, diretor do hospital, que tratou da relação entre a Filosofia Clínica e a Psiquiatria, posteriormente, junto com Hélio Strassburger, falou sobre o trabalho realizado pelos filósofos clínicos junto ao hospital psiquiátrico; Gustavo Bertoche, filósofo do Rio de Janeiro fez uma linda explanação sobre Bachelard, o sonho e a razão; Jussara Hadadd falou sobre a questão do amor, da sexualidade e da razão fora de si; Letícia Porto Alegre, Rafael Gabellini e Jane Kopzinzki falaram de sua experiência nos atendimentos aos internos do hospital; Vânia Dantas trouxe a a
Médicos cubanos ou extraterrestres?* Como médico e escritor não posso negar, o assunto que está em discussão na mídia e nas ruas me agradou. O argumento é fabuloso. 6000 médicos importados para trabalhar no Brasil. Seis mil! Ótima inspiração para um livro da categoria realismo mágico: fatos insólitos, fantásticos, inseridos em um contexto realista, cotidiano, comum. Comecei a dar asas à imaginação. De onde viriam estes médicos? Qual lugar do planeta poderia se dar ao luxo de dispensar seis mil profissionais sem alterar o equilíbrio de seu próprio sistema de saúde? Talvez um país super desenvolvido, ou um planeta extraterrestre, preocupado com o bem estar mundial, apoiado por Organizações Não Governamentais, com a intenção de formar médicos sem fronteiras, dispostos a viajar para lugares miseráveis e cuidar das vidas que por ventura ainda lá existam. Continuei com a fantasia. O que estariam fazendo neste momento estes médicos? Seriam desempregados, recém formados, aposentados,
Mito e Filosofia* Toda civilização possui seus mitos. Mitos, em suma, são modos encontrados nas sociedades primitivas (termo sem sentido pejorativo) para dar conta de uma série de questões suscitadas pelos homens acerca da vida, da natureza e de si. O mito é compreendido em dois aspectos: mito-verdade e mito-fábula. Este diz respeito a estórias que nada mais visam do que expor um conto fantástico acerca de qualquer coisa sem compromisso com uma verdade nem mesmo por quem conta. Já o mito-verdade busca expor o sentido de uma determinada questão da realidade tendo em vista uma verdade, expondo-a a partir de um conto fantasioso. Os mitos cumprem basicamente três funções: religiosa, social e filosófica. Em outras palavras, a partir do mito (1) se fundamenta sentidos transcendentes para as coisas, (2) une-se um grupo em torno de um sentido comum e (3) busca-se compreender a realidade questionada. Na Grécia, com a filosofia, o mito passou a ser questionado há vinte e cinco séculos.
Fragmentos literários, filosóficos, delirantes* "(...) Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida. Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo. O dinheiro não era nada, o poder não era nada. Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz. A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza. Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente. Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer. A felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito. Mas amar e desejar não é a mesma coisa. O amor é o desejo que atingiu a sabedoria. O amor não quer possuir. O amor quer somente amar." *Hermann Hesse
O rio do tempo* O tempo não existe, nem dentro nem fora. Esses peixes de opala são nomes que nadam na memória: são rostos, são risos, são prantos, são as horas felizes. O tempo não existe, pois tudo continua aqui, e cresce como se arredonda uma árvore pesada de frutos que são peixes, que são nomes de nomes, são rostos com máscaras. O tempo não existe. Sou apenas o aqui e o presente, e o atrás disso, como um rio que corre mas não passa - pois ele é sempre, em mim, agora. *Lya Luft
Fragmentos poéticos, filosóficos, delirantes* "Na realidade, todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento óptico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo" "No solitário, a reclusão, ainda que absoluta e até ao fim da vida, tem muitas vezes por princípio um amor desregrado da multidão e tanto mais forte do que qualquer outro sentimento, que ele, não podendo obter, quando sai, a admiração da porteira, dos transeuntes, do cocheiro ali estacionado, prefere jamais ser visto e renunciar por isso a toda e qualquer actividade que o obrigue a sair para a rua" "Os seres não cessam de mudar de lugar em relação a nós. Na marcha insensível mas eterna do mundo, nós consideramo-los como imóveis num instante de visão, demasiado breve para que seja percebido o movimento que os arrasta. Mas basta escolher na nossa memória duas imagens suas, tomadas em i

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