Outro dia estava
discutindo com uma colega psicóloga sobre a teoria sartriana da existência que
precede a essência. Após a discussão, dei-me conta de uma coisa: e se o
existencialismo de Sartre fosse já um essencialismo velado? Pois é. Estávamos
conversando sobre a ótica da Psicologia e não da Filosofia. Sobre a ótica da
segunda, há vários aspectos problemáticos que podem aparecer. Mas é sobre a
primeira minha teoria.
O existencialismo de
Sartre nos diz que o homem, a sua vida inteira, está sempre se fazendo, ou
seja, determinando sua essência através de uma existência prévia. Nesse
sentido, há uma primazia da existência sobre a essência. Entendo essência por
aquilo que o homem traz dentro de si e que o constitui e, segundo Sartre, o
homem não a traz: ela é construída com o passar do tempo.
Porém, se formos
analisar, o homem está sempre buscando se conhecer e quando procura um
atendimento psicológico, antes de mais nada, ele quer entender como é que ele
mesmo se entende e entende as coisas a sua volta. Quer entender como ele mesmo
lida com as coisas para melhor interpretar-se e interpretar o mundo de acordo
com a sua realidade e vontade.
Nesse sentido, não
estaria o homem procurando algo que é interior a ele? Essa foi a pergunta a
qual me fiz e a resposta para mim é muito clara: sim. Acredito que o homem está
sempre se fazendo enquanto ser moral e ético e nisso as coisas que acontecem a
sua volta o influenciam muito e de muitas maneiras. Porém, quando o homem busca
conhecer o seu interior, ele não está fazendo nada mais nada menos do que
buscando entender sua essência, o seu próprio eu, sua maneira intrínseca de
pensar a agir segundo suas representações internas.
Por isso, coloco que o
existencialismo sartriano não é, senão, um essencialismo velado que, para opor
a teoria clássica de que a essência precede a existência, inverte a ordem para
tentar dar mais autonomia ao sujeito e torná-lo responsável por todas as suas
ações e todas as conseqüências das mesmas. Isso é importante para que o homem
não jogue a culpa pelas suas ações em outros homens. Porém, dizer que o homem
primeiro existe e depois forma o seu interior, não me parece ser uma verdade
das mais condizentes, uma vez que ele está sempre na busca pelo seu eu mais
profundo.
Assim, entendo que o
existencialismo é um essencialismo velado pelo fato de o homem estar sempre na
busca por si mesmo, tentando se conhecer e conhecer o mundo a sua volta. E,
nesse sentido, parece-me que há uma busca pela essência verdadeira do homem
desde que o homem se entende como tal. Por isso, num sentido psicológico, vejo
que Sartre não está de todo errado, mas dizer que o homem é puramente
movimento, que está sempre se fazendo, não me parece ser uma visão totalmente
livre de problemas.
*Vinícius Fontes
Filósofo, estudante de filosofia clínica
Rio de Janeiro/RJ
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