Demonstração de afeto,
de cuidado, de atenção, de amizade e de boa educação ainda tem lugar e não
significam ter que ir para o altar.
É como se a vida
estivesse de cabeça para baixo. O mundo todo invertido, chacoalhado e não
bastasse toda liberação e aceitação de novos valores e comportamentos, de novas
condutas justificadas em parâmetros de evolução da espécie humana e ainda
respaldada pelo que cada indivíduo tem de direito como escolha para o seu
caminhar, ai meu Deus, não bastasse tudo isto, ainda a deselegância explicada,
rebatida, aceita e vivida.
Homens e mulheres de
todas as idades estão se relacionando livremente, sem nenhum compromisso ou
comprometimento. Tudo bem. Nada de mais no que diz respeito a eternizar a
relação, coisa antiga e démodé para muita gente, acho que até já para mim,
embora ainda não tenha tanta certeza assim.
Contudo, o que ainda me
espanta é a falta de delicadeza, doçura, fineza, elegância, postura, limpeza e
trato no linguajar.
Espanta-me, ainda, a
falta de criatividade, de enredo, de fantasia e de sonho para viver, nem que
seja umas poucas horas de sexo. Fico perplexa com o descaso, o pouco caso
mesmo, com que as pessoas se tratam. Tenho ouvido cada história.
Nos adolescentes, algo
relacionado ao fim do mundo será amanhã, justifica ir para “uma social”, beber
até dar vexame, “pegar” cinco diferentes, beijar todos e no dia seguinte,
passar por um ou outro no meio da rua e nem se lembrar disso.
Nos adultos, um medo
devorador que impede homens e mulheres, mais os homens talvez, um gesto de
carinho, um convite delicado, um agradecimento e um elogio.
Ora, pois então era
para isto que serviria a tal liberdade sexual? Para que as pessoas pudessem
exercer, de forma explicita, toda a sua essência mal-educada?
O medo, o maldito medo,
explicaria tal comportamento?
Vejamos o caso das
mulheres modernas, que mesmo liberadas, preferem ser abordadas. Mulheres
resolvidas, dispostas a viver um romance que as faça felizes enquanto durar e
os homens morrendo de medo de manifestarem qualquer nível de satisfação ou
cavalheirismo. Muitas mulheres não gostam de se manifestarem diretamente. Não
se sentem à vontade convidando um homem para sair. Coisa antiga?
Tirando as
desequilibradas e as dissimuladas – sujeito que alimenta nosso objeto de
pesquisa por se comportarem muito mal e denegrirem assim a espécie feminina – a
mulher moderna ainda que liberada, espera alguma gentileza. Está bem, vamos
abrir um aparte aqui. Eles estão com muito medo. Eles não acreditam que alguma
mulher possa estar falando a verdade, eu sei e vai que uma delicadeza gere um
mal-entendido?
As meninas, as moças,
as mulheres mais velhas, que cuidam de seu caráter, que cuidam de suas próprias
vidas, que cuidam de seus corpos, de serem felizes, sorridentes, interessantes,
inteiras, livres… Honestas. Essas moças, as que não radicalizam sobre sua
autossuficiência, essas moças também precisam amar.
Moças assim, costumam
não se atrever, não invadir não se expor não se atirarem. Coisa antiga?
Respeito é coisa antiga? Limite é coisa antiga? Certo. Que não seja por nada
disso. Talvez apenas uma forma de dar graça a algo tão maravilhoso quanto o
encontro de um casal saudável, lindo e disposto a amar. Talvez uma forma de
tirar do recinto da banalidade, o que pode ser de Deus. Respeito, carinho,
docilidade, como fetiches, como forma de fazer ser mágico, mesmo que seja sem
compromisso.
Moças assim, apesar da
capacidade de medirem se um rapaz vale a pena ou não, sim porque, mulher também
tem esse direito, após decidirem talvez não consigam manifestar seu interesse
por eles, partindo totalmente para o ataque. Telefonando, convidando, propondo
meios de estarem juntos. E esperam alguma gentileza, alguma abertura para
manifestarem seu interesse em relacionarem-se além do casual.
Esta é uma categoria de
mulheres, esta é uma maneira de se comportar, o que pode não ser absolutamente
certa, mas talvez um caso a se pensar e neste caso, para estas pessoas, o mundo
está de cabeça para baixo, sim.
Acontece que hoje e
talvez sempre, vá lá, as pessoas sejam julgadas umas pelas outras. Como o velho
e antigo bordão que enfatiza que homem não presta. Muitos homens e muitas
mulheres ainda prestam sim e tem direito a alegria do amor e do sexo, ainda que
sem promessas de que até a morte os separe.
Demonstração de afeto,
de cuidado, de atenção, de amizade e de boa educação ainda tem lugar e não
significam ter que ir para o altar.
Se o saca-rolhas não
for próprio para a delicadeza de uma mulher, por favor, senhor, se preste ao
papel e, por favor, senhora, reconheça o seu lugar, nem que seja para os
sonhadores sonharem que com o romantismo existe ainda em algum lugar.
E rapazes, por favor,
decidam logo se desejam se relacionar com moças livres e sem problemas, mas
educadas, porém ou se na verdade, o que gostam mesmo é daquelas que não dão
sossego, que perdem a estribeira, para que assim, vocês possam continuar
história a fora, estereotipando-as de malucas, de rampeiras de “chicletes”.
Isso dá prazer a vocês? Gostaria de entender.
*Jussara Hadadd
Terapeuta sexual,
filosofa clínica
Juiz de Fora/MG
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