De nada adianta
levantar a bandeira do feminismo se não pratica-lo em sua vida e se formos
examinar a fundo essa questão vemos que ele está enraizado em nossa sociedade.
Em primeiro lugar devo
destacar que as mulheres não se articulam como os homens, existe entre eles um
instinto de defesa admirável. Conta-se que uma esposa desconfiou da história
que seu marido contou justificando onde havia passado a noite, mulher sente instintivamente
o cheio de algo podre de longe, cada mulher conhece o seu homem e os seus
sinais deixam claro suas mentiras.
Então, resolveu ligar para cada um dos seus
amigos questionando se era verdade que seu marido havia passado a noite com
eles e cada um deles confirmou que o mesmo havia dormido em sua casa, sendo
impossível fisicamente que o marido se dividisse ou fizesse um revezamento na
casa de cada um deles ela resolveu o problema esquartejando-o! É brincadeira
gente, mas é uma história que eu duvido muito que em algum lugar do mundo não
tenha de fato ocorrido. Entretanto é de se admirar o instinto de proteção que
ilustra essa história, isso sim é muito comum. Um homem, a menos que tenha
interesse na esposa do amigo, jamais admitirá um ato que cause repulsa à mulher
do seu amigo. O contrário é mais comum de acontecer, sempre que cabe o amigo
exalta as qualidades do amigo.
Já as mulheres são
desunidas, demonstram isso quando falam umas das outras, mesmo sendo
consideradas "amigas", é quase como um hobby julgar as outras
mulheres, sejam íntimas ou desconhecidas. A fofoca rola solta nos salões de
beleza, desde um simples comentário sobre o cabelo de uma atriz até a confissão
de infidelidade do marido de alguém. É menos trabalhoso deixar a "amiga"
iludir-se em uma relação em que ela se sinta bem, do que arriscar perder uma
"amizade" é daí entramos na questão do valores!
É de conhecimento geral
da humanidade o ditado que diz mais ou menos assim: "em briga de marido e
mulher, não se mete a colher", homens e mulheres temem "passarem por
mal" quando um casal, apesar de tudo, resolve continuar junto e o que
ocorre, na maior parte das vezes de fato, é que realmente se perde uma
"amizade".
Analisemos mais a fundo
essa questão: o marido é infiel, a esposa fica sabendo por alguém que
supostamente (já que o interesse pode ser outro...) quer o seu bem e a esposa
resolve perdoar por inúmeras razões. No primeiro momento o homem nega, a ordem
é: negar até a morte! E tentar por A + B provar que o delator é um louco, sempre
tem um louco na história, então que seja o outro e não ele, pois a infidelidade
é coisa de gente sã...?
Porém, contra provas
não há argumentos, então o homem admite que foi um deslize e que nunca mais vai
acontecer, que não significou nada e que a ama, isso pareceria razoavelmente
sincero para uma mulher que acha que traição é mesmo comum, do instinto
masculino, que já viu muitas pessoas a sua volta perdoar, e que ainda tem um
sentimento (obscuro, é claro) pelo marido. Outro dia ouvindo a Rádio Farroupilha
com minha mãe a ouvinte pedia conselho a respeito de perdoar ou não a
infidelidade do marido, o detalhe é que pedia que fosse chamada de "esposa
em dúvida"... Afinal de contas pra que perguntar?! Pra que todo mundo
saiba que ela é uma pessoa que não se dá o devido valor?! Para que as mulheres
saibam que não estão sozinhas em seus atos!? Eu acho um completo absurdo,
porque se ela se intitula dessa maneira ainda, é porque de fato não rompeu sua
aliança, para mim parece óbvio que ela irá perdoar independente dos conselhos
que escutar.
Depois vem a
argumentação dos pais de família: não vamos nos separar porque quero estar
perto das crianças... e que belo exemplo de pai, é de uma dignidade sem
tamanho...? Essa argumentação devia estar em desuso desde que criaram a guarda
compartilhada, no entanto não é isso que vemos. Muitas mulheres se sujeitam a
relevar as "escapadinhas" (apelido carinhoso esse) dos maridos em
nome dos filhos.
Ainda tem os homens que
possuem propriedade sob suas mulheres, pois elas são sustentadas por eles e não
querem sair da sua zona de conforto. Essa é a mulher que perde tempo discutindo
com o marido sobre a relação se não quer de fato mudar a sua condição já que o
que os une é maior que isso ($.$).
Enfim, independente dos
motivos que levam um casal a continuarem uma relação "superando" (o
que eu acho difícil e doloroso) a traição, é comum o delator figurar como o
errado da história nessa nossa sociedade hipócrita onde quem faz as coisas
corretas está errado, porque o habitual é fazer o errado.
Contudo, cada um sabe o
quanto pode suportar em um relacionamento, eu confesso que já adiei um
rompimento por conta das festas de final de ano, outro porque era meu
aniversário e assim só adiei aquilo que era inevitável, por outro lado tenho
certeza de que me esforcei para fazer dar certo até o fim.
Em um relacionamento
sempre se deve levar em consideração que são dois colaboradores, os homens
argumentam que as mulheres não fazem determinadas coisas que as outras
(adúlteras) fazem, no entanto eles deviam pensar nisso antes de querer
comprometer-se em um relacionamento sério.
Eu entendo que não
exista justificativa para a traição, seja ela de qualquer natureza, é muito
mais digno explicar que não tem mais interesse ou que tem interesse em outra
pessoa, é uma questão de respeito não só com o próximo, mas principalmente
consigo mesmo. Negar seus desejos (nesse caso) é aniquilar-se, é deixar de
arriscar (medo), deixar de tentar ser feliz com outra pessoa, deixar de viver
intensamente. No fim das contas o que você faz em vida importa tão somente a
ti, se você viveu uma vida digna de acordo com aquilo que era importante pra
ti, em que pôde fazer aquilo que te fazia feliz ou seja lá qual o valor mais
importante pra ti, é isso o que importa. Fazer ou não o bem para o outro é o
próximo passo após aprender o que é o amor de verdade. E se você não tem amor
próprio, como pode esperar que o outro possa lhe amar? Se você não se dá o seu
devido valor, quem poderá dar?
No momento em que um
homem levanta a voz para uma mulher e ela aceita, já começou o machismo,
provavelmente ele tenha começado dentro do próprio lar dessa mulher, quando a
filha acostuma-se com o pai que levanta a voz para lhe chamar a atenção. A
partir da primeira submissão o homem vê que possui um certo domínio (poder)
sobre sua vítima e esse é o primeiro passo para a agressão. Ela pode se
manifestar de inúmeras formas, até mesmo com relação ao que é sagrado para cada
um, quando o homem não admite que a mulher siga uma religião diferente da dele.
Quando a mulher não
denuncia uma agressão seja ela física, ou psíquica está fazendo com que esse
homem tenha a oportunidade de continuar ileso de suas atitudes. Muitas irão
argumentar que de nada adianta registrar queixa, que não acontecerá nada e
dirão também que tem vergonha de fazê-lo é isso que faz com que os homens
continuem a praticar seus atos repulsivos, pois "não dá nada".
Antigamente, quando não existia a Lei Maria da Penha, era mais fácil para os
homens, as mulheres registravam suas queixas, faziam as pazes e retiravam as
queixas. Hoje a situação se complica bastante para eles, no entanto por mais
que a mulher tenha sido ofendida ou agredida, são poucos os registros.
Portanto, se eu puder
dar uma dica para as mulheres é que não deixem que ninguém pise em vocês! Eu
sei que é difícil, que muitas vezes existem entrelaçamentos que fazem com que
nos sujeitemos a determinadas situações. Eu já vivi situações (no trabalho) em
que um homem levantou a voz pra mim ou me julgou sem ter razão e confesso que
antigamente eu baixava a cabeça, chegava em casa e elaborava tudo o que
gostaria de ter dito pra ele naquele momento, mas não dizia. E confesso também
que quando aprendi a me amar isso nunca mais aconteceu, hoje eu não permito que
alguém tenha autoridade para me julgar inferior a essa pessoa.
Eu posso vir a
perder algo com a atitude de enfrentamento, talvez acabe me machucando ou até
morra lutando em defesa da minha dignidade, mas pelo menos o meu respeito por
mim mesma continua intacto. Para quem tem uma visão holística é mais fácil
perceber que nenhum ser humano deveria valer menos do que outro, todos são
criados da mesma maneira. Isso não significa perder a humildade, pelo
contrário, trata-se de manifestá-la, pois no momento em que me posiciono em
condições equivalentes ao outro consigo demonstrar que ele também tem o seu
valor.
Portanto mulheres
machistas, afirmo que depende de nós, de cada uma de nós, que nos unamos contra as
opressões sofridas e combatamos o machismo em cada pequena atitude cotidiana. Dar-se conta que esse machismo é muitas vezes incentivado por nós
mesmas já é um grande passo. Combatê-lo é o que deve ser feito a seguir e
passar essa ideia adiante só depende de você.
*Débora Perroni
Professora de filosofia, filósofa clínica
Porto Alegre/RS
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