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Mostrando postagens de dezembro, 2013

Entre partir e ficar*

Entre partir e ficar hesita o dia, enamorado de sua transparência. A tarde circular é uma baía: em seu quieto vai e vem se move o mundo. Tudo é visível e tudo é ilusório, tudo está perto e tudo é intocável. Os papéis, o livro, o vaso, o lápis repousam à sombra de seus nomes. Pulsar do tempo que em minha têmpora repete a mesma e insistente sílaba de sangue. A luz faz do muro indiferente Um espectral teatro de reflexos. No centro de um olho me descubro; Não me vê, não me vejo em seu olhar. Dissipa-se o instante. Sem mover-me, eu permaneço e parto: sou uma pausa *Octavio Paz

Palavras e poesia*

“sabe...a poesia nasce sem querer nada de mim... as palavras vem vindo... caminhando ao meu lado... surgindo e eu vou recebendo cada uma delas...acariciando-as.. e colocando nas frases.. nas sentenças.. e elas sendo moldadas.. como um poema... é assim a poesia para mim... olha o que acabo de escrever... um poema...sem querer..” *Eduardo Silveira Poeta, Estudante de Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos filosóficos, poéticos, delirantes*

"Toda a minha vida não passa de conflitos. E se não há conflitos por aí, ora, invento um, num piscar de olhos. Ontem eu disse que não estava mais amando? Estou mais apaixonado hoje do que nunca. Tudo voltou… […] Ela é tão jovem, tão bonita e tão triste que eu seria capaz de chorar. Esse é meu sentimento. […] Em seu mundo, todos penduram um Picasso em um local de destaque. Então está muito bem, por ela eu também penduraria um Picasso em um local de destaque. Como meu conhecimento da decadência do modernismo e a loucura cega do progressivismo como um estado de ânimo, uma rebelião estúpida e óbvia contra ressentimentos imaginários, medida contra meu amor por uma garota de 50 quilos? O que importa se eu alcancei grandes verdade sociais & espirituais na solidão do meu quarto e em meu livro enorme e em anos de meditação cuidadosa e compreensão psicológica - o que é minha arte? Meu conhecimento? Minha poesia? Minha ciência? - comparado a seus pezinhos? Sim, sim, sim,

A vida secreta das palavras*

Sábado foi dia de reunir uma porção de gente que adora filosofia pra assistir um bom filme e conversar a respeito. Os filmes apresentados pelo professor Hélio Strassburger são escolhidos a dedo para tocar o nosso íntimo. Sempre me fazem refletir além da tela a respeito da minha própria vida e daqueles que fazem parte dela. A vida secreta das palavras conta a história de uma bela jovem que passou por um grande trauma durante a segunda guerra mundial, as emoções sentidas naquele tempo foram tão intensas que ela preferiria não ter sobrevivido. Ela rezou pedindo pelo fim da sua vida, porém isso não aconteceu e dali em diante ela levou uma vida monótona, mecânica e apática, até o dia em que foi obrigada a quebrar a sua rotina, então Hanna propôs-se a fazer quase tudo diferente durante um mês em sua vida e assim foi.  Nesse meio tempo em que ela resolveu aceitar o novo quase tudo em sua vida mudou, adquirindo novos hábitos, experimentando novas sensações, gostos e prazeres. Aind

Fragmentos filosóficos, poéticos, delirantes*

"(...) Há em nossos dias muita gente, às vezes agentes de cambio, frequentemente notários, que diz e repete: A poesia está morrendo. É pouco mais ou menos como se dissessem: não há mais rosas, a primavera entregou a alma a Deus, o sol perdeu o hábito de se erguer, percorrei todos os prados e não encontrareis uma borboleta, não há mais luar, o rouxinol não canta mais, o leão não mais ruge, a águia não mais planeia, os Alpes e Pirineus se foram, não há mais garrulas moçoilas e belos rapazes, ninguém mais cuida dos túmulos, a mãe não mais ama o filho, o céu se extinguiu, o coração humano morreu. Se fosse permitido misturar o contingente ao eterno, seria antes o contrário que seria o verdadeiro. Jamais as faculdades da alma humana, perquirida e enriquecida pelo escavamento misterioso das revoluções, foram mais profundas e mais altas. E esperemos um pouco de tempo, deixemos que se realize esta iminência de salvação social, o ensino gratuito e obrigatório, que será preciso para is

Correria sem sentido*

A palavra que mais se escuta neste final de ano é “correria”. Para onde e porque as pessoas estão correndo? Se não souberem onde querem ir, não chegarão a lugar algum. Qual o sentido desta correria? Qual o sentido da vida? Depende. Vamos aprofundar um pouco mais a questão? Depende do significado da palavra sentido. Se for para designar a direção e orientação de um movimento, como nas expressões “sentido único”, “sentido obrigatório”, minha resposta é que o sentido da vida deve ser para frente. Não precisa de mapa, nem GPS. Siga vivendo, ultrapasse as barreiras, contorne as curvas e então comece a subir. Se for para designar as trocas de informações com o meio ambiente através dos órgãos dos sentidos, diria que o sentido da vida se conjuga no verbo sentir, e não no verbo ter. Toque, cheire, prove, deguste, escute, veja e então comece a subir. No âmbito dos sentimentos e emoções, como nas expressões “esta pessoa tem um sentido muito apurado” ou “tenho sentido sua fal

A luta amorosa com as palavras*

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente.  Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade. Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu. Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à m

Ainda sobre representações*

Hoje tentei reconstruir-me pela representação de mim mesmo. Desmontei-me e remontei-me peça por peça como num jogo de quebra cabeças. Preparei meu próprio palco com todo cuidado, atento aos mínimos detalhes. Escolhi meus trajes, pintei-me dos pés à cabeça. Já não me reconhecia mais. Preparei a minha encenação com uma frieza visceral. Catei máscaras de todos os tipos. E olhava-me diante do espelho. Espantado? Não, sem sentimentos. Frio como uma lápide mortuária. Jurei para mim mesmo que nenhuma cena importante ficaria de fora. Tornei-me diretor e roteirista de mim mesmo. Detalhista ao extremo. Dirigindo-me como ator e personagem, usando os mais diversos disfarces para descobrir-me. Ocupei até o lugar do público para aplaudir ou zombar de mim mesmo. Quanto mais pensava que me conhecia, mais estranho ficava para mim mesmo. Um estrangeiro habitava dentro de mim. Nada mais sabia sobre mim. Pensei aproximar-me de alguma sabedoria maior. Esqueci de tudo sobre mim. Não sei mai

Entendendo Descartes*

A essência subjaz ao mundo material. Preciso cuidar mais da casa, ter prazer nela, emoldurá-la, aromatizá-la adorná-la. Meu templo, estádio/estágio. Ah! Saudade, felicidade. Alegrias no ser em si. A casa é o corpo. *Vânia Dantas Filósofa, Filósofa Clínica Brasília/DF

Ausência*

Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. *Carlos Drummond de Andrade

Melancolia!*

Há uma melancolia salutar no meu ser. Não a destrutiva que deprime e oprime, mas aquela reflexiva, da sensibilidade de quem sente compaixão pelo outro, pela dor do outro e identifica a fragilidade nas pequenas expressões diárias, nos gestos mais comuns e minuciosos. Essa melancolia arranca pequenas lágrimas dos meus olhos, seja na mais profunda sensação de vazio ou de completude! Sinto a cada dia que não preciso mais mascarar-me para melhor ser percebida e compreendida, pois, por mais que eu sinta, por causa do meu ego, que queira agradar multidões, jamais agradarei. Isso me faz tão bem!!! Na verdade não tenho mais a necessidade de agradar a ninguém, nem a mim mesmo. A obrigação do sorriso diário saiu da minha representação de mundo... Vivo melhor e cada vez mais transparente nesse mundo de teres e poucos saberes. Daqui para frente pretendo SER a cada palavra proferida, a cada gesto expressado, a cada movimento dançado! É justamente essa melancolia que trás para mim os

Ser e Aparecer*

História de vida, o que é isto? Quanto você olha para o passado e o faz reviver faz com os olhos do presente, mesmo que tente fazê-lo a partir do ponto de vista que tinha no passado ainda assim ele é presente. Esse olhar sempre atual da própria história de vida precisa de certo treinamento, sendo que o primeiro deles é entender que a história de vida não é a pessoa, mas um registro daquilo que viveu, por onde esteve.  Se ao longo da vida você por um acaso cometeu “erros” isso não quer dizer que você seja uma pessoa errada, mas uma pessoa que cometeu erros. O contrário também é válido, fazer coisas boas não torna ninguém uma pessoa boa, mas uma pessoa que faz coisas boas. As atitudes de cada pessoa não necessariamente refletem o que ela é, mas sim o que ela faz com aquilo que ela é. Certa vez conheci um jovem senhor de 70 anos, uma pessoa que cuidava das crianças do bairro, encaminhava para o escotismo, circo, cinema, leitura, enfim, cultura. Por muito tempo me pareceu uma

Folhas das folhas de relva*

" (...) Tenho dito que a alma não é mais do que o corpo e tenho dito que o corpo não é mais do que a alma, e que nada, nem Deus, para ninguém é mais do que a própria pessoa, e quem anda duzentas jardas sem vontade anda seguindo o próprio funeral vestindo a própria mortalha, e que eu como vocês sem um tostão no bolso posso comprar o que o mundo tem de melhor, e dar uma vista d'olhos ou mostrar uma vagem no seu galho confunde o aprendizado de todos os tempos, e não existe emprego ou desemprego em que um homem não possa ser herói, e coisa nenhuma há de ser tão mole que não sirva de cubo às rodas do universo, e a qualquer homem ou mulher eu digo: - Deixem que se levantem as almas de vocês tranquilas e bem postas ante um milhão de sóis! (...)" *Walt Whitman

Ambientes Criativos*

Querido leitor, que você esteja em paz. Nossa reflexão de hoje aqui no Café com Mistura é sobre ambientes criativos. Esta experiência ocorreu em nossa viagem de estudo que fiz à Grécia em 2009 com um grupo de filósofos clínicos de todo o Brasil.  Depois de um dia nos aprofundando no filósofo grego Sócrates e nos prováveis motivos de sua morte, subimos na cobertura do Hotel Titânia, no centro de Atenas. Sentamos à mesa no restaurante com um bom tinto nas taças. No céu, um luar “sob encomenda” e uma vista deslumbrante para a Acrópole toda iluminada. Um visual inesquecível. Envolto aquele clima, o filosofar acontecia em torno do que será que atraía tanta gente para Atenas há 500 a.C. Aqueles questionamentos nos faziam refletir e também filosofar por horas naquele ambiente de Jardins de Oliveiras onde tudo refletia história. Trazendo essa reflexão para hoje, poderíamos fazer a seguinte pergunta: Como explicar a existência de tantos arquitetos, filósofos, escultores e esc

Quando o homem entra na mulher*

Quando o homem entra na mulher, como a rebentação batendo na costa, uma e outra vez, e a mulher abre a boca de prazer e os seus dentes brilham como o alfabeto, Logos aparece ordenhando uma estrela, e o homem dentro da mulher ata um nó, de modo que nunca mais possam voltar a separar-se e a mulher trepa a uma flor e engole o seu pecíolo e Logos aparece e solta os seus rios. Este homem, esta mulher com o seu duplo desejo tentaram atravessar a cortina de Deus  *Anne Sexton

O adeus*

Saí a fotografar O adeus que retorna O adeus de todos as tardes Que fica e renasce Cheio de glórias O adeus presente e passado O adeus... Da natureza que ilumina O adeus... Do sol e do dia. *Fernanda Sena Filósofa, Filósofa Clínica Barbacena/MG

Irreversível*

É tão ruim estar assim Caminhando em meio às flores Num campo verde abstrato Dentro de um plano inexistente Fazendo verdadeiras todas as coisas Pensadas, ditas ou escritas Num lugar onde não há espaço Para nenhum tipo de sentimento Ou qualquer coisa Relativa às atividades do espírito E o próprio encontra-se perdido Absorto em manchas verdes-claras E carrossel de outras cores Que dançam a sua frente e Lhe fazem perceber suas existências inexistentes. *Vinícius Gomes Fontes Filósofo, estudante de Filosofia Clínica Rio de Janeiro/RJ

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