Ao longo da história da
Filosofia, uma entre tantas de suas buscas consiste em encontrar receitas que
mostrem como o homem funciona, procurando apontar características universais e
necessárias de qualquer ser vivente. Mesmo assim, praticamente dois mil e quinhentos
anos após o início destes esforços cada vez mais se percebe que o ser humano é
único.
Sua participação em algumas
características mais amplas não faz dele um igual a todos os outros. No
entanto, na atualidade o que vem acontecendo com certa rapidez é a
diferenciação por massificação. Explico: cada vez mais se busca ser diferente
sendo igual. Um sujeito que vive no interior do Estado do Amazonas para ser
diferente dos outros de sua cidade busca ter o melhor celular de todos. Esta
regra também vale por aqui, ou seja, o sujeito busca ter características
divulgadas pela mídia para ser diferente dos que estão ao seu redor.
Esta é uma forma de diferenciação
feita via massificação, como alguém que compra a melhor marca de carro para se
diferenciar do restante das pessoas com quem convive. É claro que a olhos
vistos ele não conseguirá diferenciar-se ao massificar-se, mas a ele, enquanto
ser vivente dentro de um contexto específico se sentirá diferente pelo que tem.
Atualmente, via internet e outros
meios de divulgação é cada vez mais fácil ter o que é moda nos mais diversos
centros mundiais. Ao mesmo tempo é cada vez mais comum um jovem querer ser
diferente sendo igual a muitos outros pelo mundo, o ser individual dele morre
ao passo que ele se massifica. Foucault, filósofo francês, prega que a ciência
deveria ser chamada de “heterotopologia”, o que significa ser uma ciência
dedicada a estudar os diferentes espaços presentes numa mesma realidade.
Para ele não há duas pessoas
iguais, mas sim um sistema que cria regras para tratar a todos como iguais,
para entender um pouco disto basta ler seu livro “História da loucura na Idade
Clássica”. Nesta obra ele é taxativo: se existem regras abrangentes, estas
existem para facilitar o domínio das pessoas como um todo, não mais como
indivíduo.
Em outra obra chamada “As
palavras e as coisas” Foucault mostra que quanto mais palavras são utilizadas
para descrever algo, menos se tem do objeto. Levando em conta esta obra do
autor e o atual passo da ciência reconhece-se que estamos cada vez menos o
homem é visto como experiência pura. O homem enquanto ser puro é experiência
única, você, a pessoa que está lendo este artigo agora é único.
No entanto, ao
olhar-se no espelho, ao andar com seu carro, estando numa escola, ao pagar seus
impostos, você é apenas mais um, em alguns casos nada mais que um número. Não
há mais a experiência pura de você, em alguns casos nem mais no seu casamento
onde a esposa ou marido lhe vê apenas como mais um marido ou esposa. A
experiência radical do outro é feita quando não há dados descritivos
comparativos, onde suas características são um agrupamento único de
características.
Como forma de exemplificar,
comparemos uma pessoa a um café. Se você sentar e tomar um café, você sabe que
é café, mas qual será seu gosto? Se você prestar muita atenção verá que não
existe um café comparado ao outro. Se a experiência do café for radical ele
fará parte de você, será único por si mesmo, porque faz parte de você.
Retornando à ideia de Foucault de experiência pura, seria então perceber num
mesmo espaço diferentes pessoas, cafés, sucos, paisagens.
Quando alguém compara
você, de alguma forma você está morto, porque a partir daquele momento você é
apenas mais uma experiência contabilizada. Se você for vivido radicalmente e
viver radicalmente o outro, fará parte dele e ele de você, não haverão pessoas,
coisas, haverá sempre pessoa, coisa, únicos como experiência e participação.
*Rosemiro Sefstrom
Filósofo Clínico
Criciúma/SC
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