Há uma melancolia
salutar no meu ser. Não a destrutiva que deprime e oprime, mas aquela
reflexiva, da sensibilidade de quem sente compaixão pelo outro, pela dor do
outro e identifica a fragilidade nas pequenas expressões diárias, nos gestos
mais comuns e minuciosos.
Essa melancolia arranca
pequenas lágrimas dos meus olhos, seja na mais profunda sensação de vazio ou de
completude! Sinto a cada dia que não preciso mais mascarar-me para melhor ser
percebida e compreendida, pois, por mais que eu sinta, por causa do meu ego,
que queira agradar multidões, jamais agradarei. Isso me faz tão bem!!! Na
verdade não tenho mais a necessidade de agradar a ninguém, nem a mim mesmo.
A obrigação do sorriso
diário saiu da minha representação de mundo... Vivo melhor e cada vez mais
transparente nesse mundo de teres e poucos saberes. Daqui para frente pretendo
SER a cada palavra proferida, a cada gesto expressado, a cada movimento
dançado!
É justamente essa
melancolia que trás para mim os questionamentos e as mais profundas reflexões.
Sim! Sem sofrimento! Só pequena melancolia...
Sou mais mulher e menos
moça sonhadora a cada deslocamento, longo ou curto. E, por mais estranho que
possa parecer, estou mais feliz assim. Concretizar também faz parte do meu
processo, sem histórias de princesas encantadas, moças salvas por um príncipe.
Sou muito mais guerreira hoje. Estou mais feiticeira, faceira e dona dos meus
caminhos! Sem rumo, entretanto, com minha bússola interna ativada, viva!
Se quero partir,
simplesmente parto, não olho mais para trás. Tudo o que passou já não é mais.
Eu vivo cada vez mais o agora, o hoje, o aqui. E o futuro???
Não tenho pensado no
futuro porque sei que é resultado do plantio do hoje... Simples e
descomplicada, sinto-me no momento. Vivo em constante mudança!!! Amo o
movimento transformador, descobridor dos meus segredos íntimos que se revelam
claramente para meu verdadeiro EU.
E assim sendo e vivendo
procuro suspender cada vez mais o juízo e observo o mundo ao redor. Sinto o
cheiro e o vento da noite estrelada. Durmo o sono daquela que merece repousar
com os anjos e os querubins, acordo purificada, iluminada, disposta a continuar
aprendendo a vida a partir do outro e para representar-me pelo outro e junto do
outro.
Aprendi, nessa minha
longa pequena caminhada, que todos nós, seres humanos, dependemos de nós e do
outro para construir o mundo particular, singular... E isso não é palavra, nem
grande constatação, é expansão de consciência, é busca, é luta para compreender
essa engrenagem confusa e muitas vezes sem a menor lógica chamada: vida.
* Vanessa Ribeiro
Filósofa, matemática,
atriz, dançarina, estudante de filosofia clínica
Petrópolis/RJ
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