Pra longe eu fui, de novo, sem imaginar o carinho da acolhida e o compartilhamento dos amigos de Porto Alegre quanto a seus lugares e objetos, haja vista o chimarrão, como exemplo mais próprio da interligação sulina. Pessoas que se mostram e aceitam trocas; o faço por palavras. A vocês do entorno do Guaíba, também de Ctba, Fpolis, RJ, JFora, Campinas e arredores, minha reverência.
Tento reapresentar o
passado mas as roupas são pequenas, cresci. De cabelos curtos, depois de
longos, como a adolescente que deixou a menina pra trás, conforme Cecília
Meireles em “Olhinhos de gato”. Vi uns cachinhos de ouro dia desses no banco;
não me pareceu uma infância tão feliz assim.
Segundo Strassburger,
há carinho nas manifestações dos internos do Hospital Psiquiátrico ao gritar e
chutar portas na hora da crise. Sutileza de percepção de quem observa a
fragilidade do ato necessário ao momento e o respeita.
Ao lidar com a
singularidade presente em cada qual, por mais chocante que seja para o
terapeuta, a meta se faz nova. Segundo Packter, não se pretende mais buscar o
bem-estar, mas verificar o que é possível fazer na EP do partilhante para
resolver choques.
Descobre-se, numa dada
estrutura, que é possível minorar os conflitos entre os elementos internos
através da visão cética, descompromissada, buscando a redução fenomenológica e
o distanciamento, tão comum a nossos estudos sobre a observação do que há.
Junte-se a eles frieza, flexão da axiologia, suspensão de pré-juízos e um
investimento maior em si mesmo, com menos recíproca. Ao voltar o foco para si
mesmo, colocando-se como o centro que sente, pode-se esperar o furacão passar.
A triste solidão do
quarto de hotel, morada de Mário Quintana, é elemento indispensável ao poeta.
Ele a carrega, onde quer que vá e sua obra é a expressão da diferença
permitida; segundo Pedro Leopoldo, produção socialmente aceita.
Pensamos a sexualidade
intelectual para longe do corpo físico – ele é apenas um detalhe, instrumento
através do qual se atingir... o mundo ideal da libertação do pensamento. Ou se
pode voar para a cama da atriz, os braços do cantor, do professor de dança de
salão enquanto se aguarda o final do vôo. Imagem ou papel existencial quando ao
prazer só se chega, segundo Jussara Haddad, com saltos altos, esmalte vermelho
e colares de strass?
O prazer de quem se
sente chutada e oprimida, mas naquele momento precisam dela, tem valor. “Sexo
por compaixão”, outra nuance citada por Alba Regina Bonotto e Márcio José
Andrade da Silva. Atender os infelizes para a felicidade dos lares. A cidade
precisa de uma redenção porque, afinal, poucos querem sexo da mesma forma. A
mulher paga, de outrora, tinha uma função social; hoje, sem pagamento,
hipocrisia.
Amor, sexo e afeto são
cartas que vêm nas rodadas do jogo aleatoriamente, bem diferente do abordado
pelo social sobre a obrigatoriedade das relações perfeitas. Sorteios; cada
jogador recebe uma mão diferente; insistem num resultado padrão mas não há ases
para todos.
*Vânia Dantas
Filósofa Clínica
Brasília/DF
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