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Literal_idades*










Uma expressão levada ‘ao pé da letra’ gostaria de significar-se sem intermediários. Descrever a alma do autor através das suas palavras, gestos, visões, inspirações. Traduzir estados de espírito tal e qual. Propor sua própria objetividade – nota promissória – da ciência tradicional.

O dado literal reivindica a busca por uma intencionalidade sem rasuras. O sentido da autoria num instante, uma fotografia da estrutura de pensamento.

Para acessar a região onde a representação tem origem se exige um conhecimento da subjetividade. Um fenômeno assim, em seus aspectos preliminares, requer uma aproximação de maior qualidade. Uma descrição para registrar a essência da linguagem singular.

Ao sujeito, em busca de compartilhar-se, nem sempre é possível elucidar suas vontades. Eis um risco da interpretação especialista, a qual, distanciada da fonte discursiva, costuma cegar diante dos rastros da intenção primeira.
 
A partir dessa correspondência entre pensar e dizer, um querer entrelinhas, também atua para expandir a revelação singular. No entanto, sem o recurso dos padrões, refugiados na categoria tempo, o que se tem são esboços fugazes, muitas vezes interrompidos no devir da historicidade.

Um dos aspectos mais confiáveis, nesse exame das narrativas, é a integridade retórica que brota da inscrição literal. Ainda assim, cogita-se sobre a infinidade de eventos no desvão dos testemunhos sem nome. Episódios inéditos podem desconhecer a luz do dia por não ter meios para se mostrar.

Para manter uma referência unívoca, de acordo com o sujeito da palavra, não se deve analisar, interpretar, criticar, caso contrário, já teremos uma desleitura em direção à outros caminhos. Ao não sugerir essas percepções derivativas, reivindica-se a íntima coerência entre as razões e o léxico de quem diz o que diz, antes de instigar outras leituras.

Por outro lado, a semiose que ultrapassa a referência inicial, pode inaugurar novas possibilidades de interseção. A partir dos sujeitos envolvidos na relação, é possível uma trama complexa de interpretações. Nesse mundo de ideias em constante ponto de partida, insinuam-se múltiplas verdades, nem sempre possível elucidar adequadamente.  

As conjecturas a partir da objetividade comunicativa efetua uma dança de originalidades, quase sempre minúsculos focos de resistência para descobrir mundos inexplorados.

Nesse imenso território, impregnado de pontos de fuga, as vivências subjetivas pluralizam-se na palavra – inicialmente – restrita, para, logo após, destituída do sentido originário, perseguir-se noutras fontes, conceder outros sentidos, instigar novas verdades.

*Hélio Strassburger

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