Heráclito com o devir,
Platão com sua dialética, Aristóteles com potência e ato, Kant com os limites
da razão, Kierkegaard com a angústia, Husserl com as críticas às certezas das
ciências contemporâneas, e tantos outros pensadores, dos quais esses são apenas
de caráter ilustrativo, mostram o limite e as incertezas diante da busca de dar
um caráter absoluto ao saber humano.
Filosofia é busca pelo
saber. O que há de mais comum no universo filosófico é o reconhecimento de que
não se está dando a certeza absoluta para suas buscas. Não há frustração por
isso. Aqui a humanidade mostra uma de suas realidades mais originais, o reconhecimento
da limitação.
Albert Camus postula
que diante do mundo, o homem vive o sentimento de absurdo quando reconhece que
sua razão não pode abarcá-lo. Heidegger apresenta a angústia diante da
limitação humana com a morte, como passo necessário para existir
autenticamente. Sartre apresenta a falta de determinação ou destino e a
angústia diante da liberdade humana para construir-se.
Nos cadernos de
formação em Filosofia Clínica uma das palavras mais comuns é “Não sei!”. E a
questão que fica é “Como em um curso o próprio estruturador da área estudada
afirma não saber?”, e a resposta é que a Filosofia Clínica é, antes de tudo,
Filosofia. O método é apresentado. O aluno aprende o que são basicamente as
categorias, a estrutura de pensamento e os submodos. Mas, como se darão as
nuanças do trabalho clínico na prática e como agir diante disso é o que não se
sabe.
Quando na academia o
conteúdo é passado, é como se a certeza, a sabedoria, ali estivesse presente.
Não há espaço para dúvida. Aliás, a certeza tende a se dar pela quantidade de
informação decorada para a avaliação. Como Lúcio denuncia nos cadernos, os
originais geralmente não são lidos durante a graduação. O conteúdo é assimilado
a partir de comentadores, de manuais de história ou introdução a filosofia. O
aluno universitário tende a terminar o curso com uma formação baseada em
manuais de filósofos. E, às vezes, acredita que sabe muito sobre o filosofar.
Dizem algumas sabedorias
orientais que o melhor da busca não é a chegada, mas o caminho que se faz. O
processo do pensamento é o que faz da filosofia um exercício de edificação
humana; um caminhar para o reconhecimento do que Nietzsche chama de “humano,
demasiadamente humano”. A Filosofia Clínica vivencia esse processo diante da
interseção com o partilhante. Depois de várias consultas a única certeza quanto
aos resultados é, previamente: “Não sei!”.
O fim das certezas é o
início da investigação filosófica. A Filosofia Clínica, enquanto filosofia, é o
abandono das certezas e o início da busca pela melhor qualidade possível de
interseção para uma maior aproximação das questões do partilhante.
Somente aproximando ao
máximo da Estrutura de Pensamento do partilhante, é que se torna possível uma
ação do filósofo para buscar uma melhor resolução dos conflitos existenciais
apresentados. A limitação em reconhecer todos dos detalhes do partilhante, é
completamente normal. Não se aspira a ter uma formula definitiva ou
inteiramente eficaz na resolução dos problemas apresentados. Há apenas a
finalidade de auxiliar o partilhante, mediante as ferramentas oriundas de 2500
anos de tradição filosófica, da melhor forma possível.
E os resultados obtidos
são únicos. Tentar descrevê-los antecipadamente é uma ilusão. O que se sabe
previamente a respeito do fim de um acompanhamento clínico, um filósofo clínico
poderá claramente informar: Não sei!
*Miguel Angelo Caruzo
Filósofo Clínico
Juiz de Fora/MG
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