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Toda a vida num único momento*


Pensar que a felicidade está onde não estamos é dar asas ao inatingível; se há momentos em que rimos e nos sentimos plenos, por que não admitir que a felicidade é possível?  Por que essa busca incessante do ad aeternum, se este tempo não foi feito para nós, humanos, e sim para os deuses?  Se é tão difícil ser feliz e se é tão bom sê-lo, por que não fingir pelo menos um sorriso.  Fingir?  Fingir seria certamente uma máscara e esta não condiz com a vivência plena que precisamos ter das coisas.

Ser feliz deve ser um peito aberto, desarmado ante o medo da incongruência ou do inesperado, colocar-se frente à vida sem temer que um soco por trás pegue-nos as costas.  Deve-se confiar e rir, achando que o momento seguinte será melhor ainda.

Utopia?  Que importam denominações, suposições, possibilidades.... ser feliz deve ser tão bom quanto caminhar na chuva e não se molhar; deve ser tão bom quanto abraçar um amigo, sentindo-o apenas como tal e, às vezes, sentindo no entrelaçar de braços que não se está sozinho, que o pior já passou e, doravante, tudo será carinho.

Ser feliz é não estar cansado, não pensar em se compensar do que quer que seja, porque não há por que ou do que se recompensar.   A chuva se chega fria demais, é gostoso, o dia está abrasante; se a comida não é a preferida, tanto melhor, está-se satisfeito ou se quer emagrecer alguns quilos e quanto menos comida, melhor.  Se a gente está feliz é porque está e ponto final. Felicidade é algo tão bom, tão bom que significa tanto, que esse tanto significa tudo.  Não se é feliz vinte e quatro horas por dia, mas um instante que seja é o bastante.

Pergunte-se, pois, o que é ou onde está a felicidade e se alguém disser: — Comigo! ou Aqui!, este alguém terá chegado ao seu momento epifânico e ainda que, nesse momento cesse o seu respirar, diga-se deste alguém: — Valeu à pena viver!

*Regina Souza Vieira

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