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A palavra mundo*



"As palavras são instrumentos de atos úteis, de modo que nomear o real é cobri-lo, velá-lo com familiaridades. (...) Para rasgar os véus e trocar a quietude opaca do saber pelo espanto do não-saber é preciso um 'holocausto das palavras'."
                                  Jean-Paul Sartre

Uma poética se anuncia num esboço de captura às múltiplas verdades. Nesse horizonte nem sempre coerente, a pessoa encontra um chão para integrar-se e experienciar suas possibilidades existenciais.
 
Ao ser a visão de mundo inseparável da subjetividade que a oferece, as formas da expressividade tentam obter o maior ângulo possível. Nela o teor dos termos agendados denuncia até onde se pode chegar.

Um pouco antes dos movimentos de rebeldia, a linguagem, em vias de se ultrapassar, costuma emitir dissonâncias. Uma dessas características é o excesso de equívocidades discursivas, as quais, nem sempre se traduzem ao dicionário conhecido.

O sentido de ser sem sentido surge como afronta, sedução ou promessa, um endereço existencial para transgredir anterioridades. Ainda quando transcende na direção de alguém, em busca de acolhimento e compreensão, o sujeito se apresenta num contexto determinável.

A palavra mundo exibe uma predisposição à vida, sua existência começa, se desenvolve e se conclui com ela. Sua voz se confunde com o sujeito que a pronuncia.

Assim, ao reconhecer nesse dialeto um espaço de enigmas, desafios, zonas de conforto e contradições, é possível, na cumplicidade do vocabulário, enunciar os contornos dessa fonte. Nesse sentido, parece não haver amanhãs sem esse instante a desalojar outros instantes.

 É comum a associação nalgum endereço_refúgio, onde o desenvolvimento do novo horizonte possa acontecer. Num diálogo da estrutura de pensamento com seu entorno, a palavra mundo existe em tempo próprio. Essa percepção descreve a natureza inteira num único representante.

A vastidão circunscrita à um só olhar aprecia multiplicar-se no imenso espelho diante de si mesmo. Nesse cotidiano impregnado de originais pode se cogitar: o que se refugia naquilo que se revela ?

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico não-filiado a ANFIC

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