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Não deixe sua menina ir embora*


Os amores são diferentes e são necessários, mas escolher viver só, com a sua companhia, é um direito seu. Viver só, sem o amor de um homem, não faz parte dos seus planos de vida? Não tem nada de errado nisto, nascemos homem e mulher côncavo e convexo para formarmos par. Ajusta-se aqui, recorta-se ali e um dia encaixamos.

Acontece frequentemente. Muitas mulheres depositam na relação com um homem, toda a sua perspectiva de felicidade. – O outro deve me fazer feliz. – Acontece com os homens também, aliás, até muito mais com eles, entretanto, a capacidade deles em disfarçar melhor esta necessidade é algo de se tirar o chapéu.

Cuidar da própria vida pode ser um bom caminho para a convivência. Acredito de verdade que é aí que os casais erram. Um quer cuidar da vida do outro e nenhum quer se cuidar para o outro e assim manter o encantamento.

No sexo, onde de verdade o amor se manifesta, onde a expressão do desejo confirma a vontade de permanecer ao lado da pessoa amada independente dos acontecimentos, das influências e das condições do entorno, porque sim, um casal apaixonado não enxerga problema em nada, parceiros se descuidam e deixam correr solto o cordão de ouro que os manteria unidos por toda uma vida.

Leviandade falta de retidão, conceitos pré-concebidos, desestruturação e vaidade induzem os casais a buscarem fora do mundo deles, as alegrias que um dia justificou a sua união. Beijo na boca, nem pensar. De língua?

Não falo só dos casados não. Esta busca por satisfação através do novo vem acontecendo, de uma maneira surpreendente, entre os noivos e namorados também. Casais que planejam se casar, já se traem. Tenho visto isto com muita frequência e confesso que é difícil entender sem uma análise mais profunda do perfil da pessoa que age assim. De relance, não dá para explicar porque alguém que ainda nem se casou e faz planos de se casar, busca em outras pessoas, clandestinamente, prazer, amizade, diversão e até amor. Porque ele vai se casar com o outro então? Analisando, existem questões muito complexas para relatar aqui, mas a coisa se explica e eu até poderia pontuar algumas questões que justificam tal atitude, mas isso é coisa de consultório, deixa pra lá.

Mas, voltando ao cerne da questão. Como uma mulher, que sempre fez a parte dela, que não deixou “a peteca cair”, pode sobreviver ao fim de um amor que ela julgava ser, apaixonado, quente, bom, sincero, honesto, companheiro. Como? Ela queria acreditar nisso até o fim. Palavras foram ditas. Onde estão as rosas da mesa do bar? As mensagens enviadas de madrugada? Os ímpetos para o amor? De repente o gelo do polo sul e surpreendentemente, o calor que deveria ser seu, é dado de bandeja, sem exigências e sem referências a outra pessoa, só porque tudo ali parece ser azul.

– Doutora, onde foi parar a paixão? Eu não estou nem aí pra este posto de esposa… Dá pra quem quiser. Eu quero o quente do amor. Eu não posso admitir um casamento de aparências, não cabe em mim. Vou ter que ter um amante? Vou ter que repetir os erros dele? Vou ter que começar tudo de novo? Como posso aguentar isso? Como posso aceitar que o amor acabou? Como vou sobreviver?

Como alguém pode aguentar isso? Cuidando da própria vida em todos os sentidos. Cuidando do espírito. Se fazendo cada dia mais bela e atraente, buscando se auto afirmar cada dia mais e mais nas suas certezas. Tendo as suas certezas. Sendo dócil leve e perfumada. Banho de leite é melhor que banho de vinagre. O sofrimento é inevitável e até saudável. Viva este luto e tão logo seja possível, ressurja maior. Tente perdoar, perdoe os seus erros, a sua contribuição para o fim da relação, perdoe os erros do outro. Isto da um alívio danado.

Agir com inteligência e independência. Não se vitimizar. Jamais perder a candura e a crença na sua capacidade de amar. Deixar-se sempre pronta para um novo amor e enquanto ele não chegar se amar apesar de tudo. Não se deixar secar, não se deixar fechar.

“Se amar apesar de tudo”, pode conduzir a mulher a todas as ações que eu citei acima, naturalmente. Este é um processo simples, desde que concebido com sinceridade. Nada disso valerá se for feito com o intuito de se vingar ou simplesmente de impressionar alguém, como arma de sedução. Errar é humano. Preste atenção onde você errou e procure não repetir. Faça a sua parte, continue, não desista. Reconheça o seu valor, o universo vai mandar alguém que reconheça também e se não mandar, não negue a sua existência.

Não deixe a sua menina ir embora.

*Jussara Hadadd
Terapeuta sexual, Filósofa Clínica
Juiz de Fora/MG

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