Quem gosta de escrever
entende.
Quando a alma se
encolhe não há como escrever. Torna-se algo impossível. Daí não tem o que
fazer. A não ser esperar. Qualquer tentativa de esforço é em vão.
As palavras partem-se
pela metade. Não acham o seu lugar certo. Não conseguem completar uma frase
inteira. As letrinhas tornam-se triangulares. Cheias de pontinhas. Não rimam.
Não constroem melodias. Ferem-se umas as outras.
Aí digo para mim mesmo:
Ah, Zé, não machuque as letrinhas....
De repente aparece como
que um clarão. E no ônibus. E eu sem caneta. Aproximei-me, timidamente, de
todos os passageiros. Pedindo-lhes, por favor, uma caneta emprestada. Mas não
havia canetas. Pensei em descer do ônibus e escrever na areia. Ou na água. Uma
senhora viu meu alegre desespero e emprestou-me seu lápis de colorir os olhos.
Aceitei, assim sem jeito. E que é o meu jeito. Escreveria a mim, através dos
olhinhos dela....
Pouco depois, vendo-me
escrever, minha amiga, sentada ao meu lado deu-me a sua caneta. E disse que era
de presente. Para escrever meus poemas. E levantou-se e desembarcou....
Fiquei assim... me
sentindo feliz e tão pequenininho.
*José Mayer
Filósofo, Estudante de Filosofia Clínica na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS
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