Umas vezes sinto sono,
mas quase nunca sonho. Outras vezes realidade, mas quase sempre engano. Umas
vezes aspiro ao mito, outras vezes entendo o fato. Umas vezes rosa, outras
machado.
Rogério de Almeida
Nem pense em encontrar, no aqui
exposto, a precisão cirúrgica dos deuses doentes da modernidade, que passavam
os seus extensos dias ceifando sentidos, separando as línguas clássicas das
bárbaras e situando as boas e más palavras.
Primeiro, que qualquer
tipo de conceito que possa traduzir o desconforto, não serve ao nosso
propósito. Não é fácil encontrarmo-nos em um amontoado de conceitos que não se
compreende e constatar que, sobre os mesmos, muito pouco se sabe.
Inúmeras vezes, nossa
desgraça se torna nossa redenção. Não sabemos exatamente, nem como nem por que.
A inquietação que mobiliza, também conduz à construção filosófica e a expressão
dos martírios que nos consomem, nessa existência errante e agoniada.
Desconstruir imagens,
colocando um quinhão de filosofia em nosso algoritmo. Expressar a profunda
aflição que remexe nossas entranhas, numa tentativa desesperada de traçar e
ordenar idéias, dando vida aos fantasmas que habitam e que assombram nossas
noites insones. A inquietação que imobiliza é a mesma matéria que impulsiona.
O desafio consiste em dar luz a essas partes
obscuras do indivíduo, onde o conhecimento cego do infortúnio não cabe mais na
existência e nem reflete a inquietação que muitas vezes nos envolve.
A reflexão filosófica é
o caminho para que possamos emergir desse caos mental, denso e sufocante.
Remexer entranhas, arrancando do fundo de nosso ser a inspiração contida e
trancada dentro d’alma. Urge que juntemos os cacos e que nos reconstruamos com
poesia e alguma filosofia.
*Mariah de Olivièri
Filósofa, Artista
Plástica, Poeta, Mestre em Filosofia, Estudante na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS
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